América Latina
7 de dezembro de 2007Diante da disparada dos preços do petróleo e da crescente pressão pelo uso de energias renováveis, analistas do mercado energético estão descobrindo os países latino-americanos como novos atores internacionais do setor.
A América Latina tem potencial para se transformar numa importante região exportadora de energia. Isso vale especialmente para o petróleo e, em menor proporção, para o gás natural, afirma um estudo publicado esta semana pelo DB Research – Centro de Pesquisa do Deutsche Bank, maior banco privado da Alemanha.
Nos países latino-americanos encontram-se 10% das reservas mundiais de petróleo descobertas até hoje. Nesse campo, a região empata com a África e fica atrás apenas do Oriente Médio (61%) e da Europa (12%). Já suas reservas de gás natural são de apenas 4% do total mundial – último lugar no ranking.
Venezuela, México, Brasil, Colômbia, Argentina e Equador dispõem de grandes reservas de petróleo. Além disso, o Brasil, a Bolívia, o Peru, a Argentina e a Venezuela têm muito gás natural, de modo que são exportadores líquidos ou – no caso do Brasil e do México – cobrem sua enorme demanda nacional de energia.
"As freqüentes turbulências políticas das últimas décadas, porém, fizeram com que a produção energética latino-americana permanecesse muito aquém de seu potencial", afirma o economista Georg Caspary, autor do estudo.
Ele, no entanto, identifica sinais de que isso começa a mudar. "Grandes países emergentes, como a Índia, a China (que já hoje precisa de mais energia do que todos os países latino-americanos juntos) e a África do Sul, cujas demandas de petróleo aumentam constantemente, devem apostar na América Latina para diversificar geograficamente seus fornecedores."
"Nacionalismo de recursos naturais"
Para que isso se concretize, porém, o setor precisa investir muito nos próximos anos e receber injeção de capital externo, prevê o estudo. Mas o "nacionalismo de recursos naturais" pode comprometer o engajamento de investidores estrangeiros em alguns países da região, adverte Caspary.
Ele aponta a desigualdade social como raiz do problema. "Em alguns países latino-americanos, a população tem a impressão de que as riquezas nacionais não são repartidas igualitariamente. Isso favoreceu a ascensão de políticos defensores do 'nacionalismo de recursos naturais', com um forte controle do Estado sobre o setor energético, aumento das taxações sobre investidores privados nesse ramo e redistribuição da renda, diretamente ou através de programas sociais financiados pelo Estado", explica.
Segundo o estudo, esse fator não deve ser superestimado. Os líderes políticos da região com a retórica antiliberal mais forte, em certa medida, também fecharam negócios com investidores estrangeiros.
Essa retórica – avalia Caspary – freou a liberalização econômica, mas não a cooperação energética na região, como mostram os acordos para a construção do gasoduto Venezuela-Brasil ou o tratado energético entre Argentina e Venezuela.
Domínio estatal
Segundo o estudo do BD Research, devido à falta de investimentos em infra-estrutura energética, é questionável se a América Latina conseguirá atender à crescente demanda regional e internacional de energia. Somente o Brasil deverá aumentar consideravelmente a sua oferta de petróleo.
"Na América Latina, os investimentos atuais e planejados em infra-estrutura de abastecimento energético se encontram abaixo do nível de outras regiões em desenvolvimento, como a África. Isso tanto em carvão, petróleo e gás natural quanto no volume total", compara Caspary.
Segundo ele, o domínio estatal sobre o setor energético poderá impedir, nos próximos anos, um forte aumento dos investimentos estrangeiros. "A pouca atratividade para investimentos estrangeiros diretos é um sinal ruim para as perspectivas do setor energético. Isso não melhora com "nacionalismo de recursos" e com declarações dirigidas contra investidores."
Outro dado interessante levantado pelo Centro de Pesquisa do Deutsche Bank é que a América Latina supera o Leste Asiático em projetos no setor energético. Mas o risco também é grande, já que a região tem ao mesmo tempo o maior número de projetos interrompidos ou ameaçados (49 em 2006 – mais da metade dos projetos interrompidos ou ameaçados no mundo).
Energias renováveis
Otimista é a avaliação que o banco alemão faz das energias renováveis nos países latino-americanos. Ainda há muito potencial em áreas já conhecidas e o desenvolvimento de novas tecnologias energéticas é considerado promissor.
Segundo Caspay, em algumas tecnologias progressistas, a região exerce liderança mundial. Ele cita o exemplo do Brasil, onde as energias renováveis representam 40% da matriz energética (para comparar: 3,8% na Alemanha e 4,2% nos EUA).
O estudo destaca que o Brasil é disparado o maior consumidor mundial de biocombustíveis. Embora o país atualmente seja o maior exportador mundial de etanol, ainda existem muitas barreiras tarifárias e infra-estruturais que impedem a ampliação do comércio mundial de etanol, acrescenta.
Nos próximos anos, especialmente na Europa, deve aumentar a demanda de biocombustíveis. "O Brasil conseguiu se posicionar como um dos fornecedores mais promissores do mundo e deverá permanecê-lo por muito tempo", conclui Caspary.