Aécio aposta na insatisfação dos brasileiros com o governo Dilma
11 de fevereiro de 2014Em 2013, o senador Aécio Neves viajou por 22 estados da federação. A ideia era fixar o nome do tucano como possível candidato à Presidência da República, apresentando-se como alternativa ao governo petista, que comanda o país há três mandatos.
A última pesquisa do ano de 2013, divulgada pelo instituto Datafolha em 2 de dezembro, apontou que a presidente Dilma Rousseff teria 47% das intenções de voto se concorrer com Aécio (19%) e o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos (11%). Se esse for o cenário em outubro, a eleição iria para o segundo turno, o que pode resultar numa aliança entre Neves e Campos.
De acordo com o instituto, "apesar do favoritismo dos pré-candidatos do PT neste momento, dois em cada três brasileiros (66%) preferem que as ações do próximo presidente sejam, de modo geral, diferentes das ações tomadas por Dilma Rousseff".
Para Aécio, os números mostram um desejo de mudança do brasileiro. "Diferentemente de quatro anos atrás, [quando havia um sentimento] que era de continuidade, hoje esse sentimento é de mudança", disse o senador durante conversa com a imprensa estrangeira em Brasília, em meados de dezembro. Fazendo referência às manifestações de junho de 2013, Aécio avaliou que o desafio da oposição será "vestir o figurino, incorporar essa mudança" desejada pela população, segundo ele.
Por outro lado, observadores internacionais acreditam que o PSDB fracassou na capitalização política dos protestos contra a falta de infraestrutura no país, enquanto a popularidade de Dilma, abalada pelas manifestações, retomou fôlego nas pesquisas de opinião com as baixas taxas de desemprego e a boa imagem dos programas sociais do governo.
Diretrizes da campanha
Em dezembro, o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) já deixou definidas 12 diretrizes da campanha que conduzirá para tentar tirar Dilma do comando do país. No documento intitulado Para mudar de verdade o Brasil, o partido divide as ideias em três temas: confiança, cidadania e prosperidade.
Para Aécio, o governo Dilma "fracassou na condução da economia e vai deixar herança maldita para o sucessor", fazendo referência, por exemplo, à alta da inflação e aos baixos índices de crescimento.
No campo internacional, ele acusa o atual governo de "priorizar alinhamento ideológico em detrimento de outras parcerias "que poderiam ser importantes". A negociação com a União Europeia, na opinião do candidato, é estratégica e não pode ser prejudicada por causa de posições mais radicais de membros do Mercosul, como a Argentina.
Aécio também defende uma área de livre comércio dentro do Mercado Comum do Sul, ação que está na sua lista de prioridades caso seja eleito. "Não podemos ficar reféns desse isolacionismo, que é uma política que dentro do Brasil não atende hoje ao sentimento da grande maioria da população", afirma.
Na gestão pública, defende a adoção da meritocracia na administração e da lógica de resultados nas instituições.
Trajetória política
Filho de Aécio Cunha e Inês Maria, Aécio Neves é neto de Tancredo Neves, símbolo da abertura política no país, morto antes de assumir a Presidência, em 1985. Um ano antes da morte do avô, Aécio concluiu a graduação em economia na PUC-MG, mas já atuava na política desde 1981.
Em 1985, assumiu uma diretoria na Caixa Econômica Federal e, no ano seguinte, deu início a uma série de quatro mandatos seguidos de deputado federal por Minas Gerais, ainda filiado ao PMDB. Filiou-se ao PSDB em 1989. No penúltimo ano de sua trajetória na Câmara, assumiu a presidência da casa.
Entre 2003 e 2010, governou o estado de Minas Gerais, de onde saiu para assumir o atual posto que ocupa no Senado. Em 2013, foi eleito presidente nacional do PSDB, com 97% dos votos.
O desenho de uma aliança
Do Senado, Aécio passou a mirar o Palácio do Planalto. Em meados de dezembro do ano passado, José Serra, ex-governador de São Paulo, ex-candidato à Presidência pelo PSDB e nome forte na oposição, escreveu em seus perfis nas redes sociais uma mensagem que indicava apoio a uma candidatura de Aécio e a retirada do próprio nome da disputa presidencial. Abria-se, assim, o caminho para um lugar na disputa contra Dilma – embora, até então, Serra tenha resistido a endossar completamente a candidatura de Aécio, revelando assim divisões internas do PSDB.
Analistas avaliam, contudo, que Aécio não teria, sozinho, forças para derrotar Dilma, precisando de uma aliança. Eduardo Campos (PSB) – também virtual candidato à Presidência – tem forte presença no Nordeste, mas ainda é desconhecido em grande parte do país.
Mas Campos ganhou visibilidade depois de anunciar uma aliança com Marina Silva e a Rede Sustentabilidade, partido cuja criação a ex-ministra tentou formalizar a tempo da próxima disputa presidencial, mas que teve a solicitação barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
E é justamente no Nordeste que o PSDB tem a maior dificuldade de se projetar. A estratégia, segundo Aécio, é tentar diminuir a distância para o PT, que tem grande força na região, principalmente por causa da penetração dos programas de distribuição de renda adotados nos últimos anos.
Na última semana, Aécio também intensificou conversas com o partido oposicionista Democratas, que deve focar nas eleições locais. "O que me anima nessa aliança com o Democratas é que o nosso discurso é muito afinado, muito convergente", disse o senador tucano após encontro com o presidente do partido, senador Agripino Maia.