Azitromicina é ineficaz contra covid-19 grave, diz estudo
5 de setembro de 2020Um estudo brasileiro aponta que não há benefício comprovado do uso do antibiótico azitromicina no tratamento de pacientes graves diagnosticados com covid-19. Os resultados foram publicados nesta sexta-feira (05/09) na revista científica The Lancet.
O trabalho é fruto de uma parceria entre pesquisadores de oito instituições brasileiras, que formam a chamada Coalizão Covid-19 Brasil: Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet)
A azitromicina, substância usada para combater infecções bacterianas, tem sido amplamente utilizada durante o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. Atualmente, é o segundo medicamento mais usado no mundo para tratamento de pacientes com covid-19 em estado grave.
"O nosso estudo mostra que a azitromicina para pacientes graves, que precisam de oxigênio e estão entubados, não deve ser rotineiramente prescrita, porque não traz nenhum benefício. O remédio só deve ser usado se, juntamente com a covid-19, o paciente for diagnosticado com uma pneumonia bacteriana, o que eventualmente pode acontecer", afirmou ao jornal O Globo o cardiologista e pesquisador Renato Lopes, diretor do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI).
Além de não apontar benefícios no uso da medicação, o trabalho mostrou que a azitromicina pode piorar a função renal em alguns casos. "No mínimo, isso nos alerta a não usar rotineiramente esse remédio, porque ele não traz benefício nenhum e pode, eventualmente, causar algum efeito adverso", acrescentou Lopes.
A pesquisa foi realizada em 397 pacientes com covid-19 entre 28 de março e 19 de maio. Eles foram divididos em dois grupos. No primeiro, 214 pessoas receberam azitromicina e o tratamento padrão, incluindo medidas de suporte hospitalar, uso de outros remédios como antivirais e também a hidroxicloroquina, que integrava o tratamento para a enfermidade em março, época do início do estudo. O segundo grupo, de 183 pessoas, recebeu o mesmo tratamento padrão, mas sem azitromicina.
O resultado foi o mesmo nos dois grupos. Uma análise feita 15 dias depois do início do procedimento constatou que o remédio não contribuiu para melhorar a evolução clínica dos pacientes.
A Coalizão Covid-19 Brasil desenvolveu outros estudos desde o início da pandemia, entre eles um publicado na revista New England Journal of Medicine, que questionou a eficácia da hidroxicloroquina para tratar o vírus.
MD/efe/lusa