Avanço ultranacionalista sérvio preocupa europeus
30 de dezembro de 2003O fato de o Partido Radical da Sérvia ter saído das urnas como a maior força política mostra o quanto a sociedade sérvia está doente, segundo do jornal alemão Die Welt. O partido ultranacionalista conquistou 27,7% dos votos. O seu líder Vojislav Seselj apresentou-se voluntariamente ao Tribunal Penal Internacional da ONU que julga os crimes de guerra cometidos na antiga Iugoslávia e está sendo julgado em Haia. O Partido Socialista do criminoso de guerra mais importante, Slobodan Milosevic, obteve 8% dos votos e vai ter representação no Parlamento.
O forte desempenho das duas legendas ultranacionalistas representa um duro golpe para os três partidos democratas pertencentes ao bloco que derrubou o regime do ditador Milosevic no ano 2000, depois de guerras sangrentas. Os três juntos conseguiram 42% dos votos. A maior força política nas fileiras reformistas é o Partido Democrata da Sérvia (DSS), do ex-presidente da Iugoslávia, Vojislav Kustunica, com 18% dos votos.
Os dividendos eleitorais dos radicais aliados de Seselj e dos socialistas de Milosevic não bastam para formar um novo governo, mas o resultado do pleito é visto com grande preocupação na Europa Ocidental. O governo da Alemanha manifestou o desejo de que as forças democráticas consigam formar um governo estável, para que possam avançar de forma decisiva com o processo de reformas.
O encarregado da política externa da União Européia, Javier Solana, dirigiu um apelo dramático "a todas as forças democráticas para uma cooperação estreita a fim de poderem formar um novo governo, o mais rápido possível e fortemente baseado na agenda de reformas européias". Solana acha que "as forças nacionais extremistas não têm condição de formar um governo". Os radicais mais que triplicaram a sua representação no Parlamento de 250 mandatos, mas mesmo coligando-se com os socialistas de Milosevic não poderiam formar um gabinete.
Quem são os culpados?
- O avanço eleitoral dos ultracionalistas tem muitos culpados, na opinião da imprensa européia. O jornal suíço Neue Zürcher Zeitung aponta as polêmicas na coalizão de governo e os escândalos de corrupção, para concluir que "o forte dos nacionalistas é, acima de tudo, uma conseqüência da fraqueza dos reformistas".O The Guardian, de Londres, jogou parte da culpa na indecisão do governo sérvio em entregar criminosos de guerra ao tribunal da ONU em Haia e adverte: "Se os reformistas querem dar passos para a frente na Sérvia, eles têm que exorcizar os seus demônios... Eles têm de apresentar, imediatamente, até o último suposto criminoso de guerra, pois as forças das trevas continuam ameaçando os Bálcãs".
Para o diário francês Le Figaro a União Européia também é culpada: "Em vez de ameaçar, fazer pressão ou condenar, a UE deveria prestar mais ajuda. Combater o desemprego que atinge a metade da população sérvia teria de ser tão importante para a comunidade européia quanto punir os criminosos de guerra".
Não só a desunião dos democratas mas principalmente os Estados ocidentais teriam ajudado os nacionalistas sérvios a triunfar nas urnas, escreveu o diário Isvestija de Moscou: "Tanto os americanos quanto os europeus fizeram o possível e o impossível para levar os eleitores de volta aos partidos dos acusados de crimes de guerra Milosevic e Seselij. A ajuda econômica prometida, que a Sérvia tanto desejou, revelou-se insuficiente. E para isso as exigências do Tribunal em Haia foram cada vez mais duras e mais humilhantes".
Tarefa difícil
- Seja quem for o culpado, a tarefa do novo governo permanecerá praticamente a mesma, segundo o comentarista da Deutsche Welle, Andrej Smodis: prosseguir com a implantação da economia de mercado e o combate ao crime organizado. Smodis destaca que "o governo que se instalou há três anos em meio a grande euforia impôs medidas dolorosas, levando o povo a uma letargia política. As medidas contra o crime organizado, por outro lado, custaram a vida do primeiro-ministro Djindjic". Zoran Djinjic foi assassinado no último verão europeu.Como chefe do Partido Democrata da Sérvia, a primeira tarefa de Kostunica é muito difícil, pois os nacionalistas e populistas saíram tão fortes das urnas que sua única alternativa agora é formar um governo de coalizão com o pragmático partido neoliberal G17plus e com o Partido Democrata (DS) de Djndjic, que conquistou menos de 13% dos votos na eleição parlamentar.