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Autoridades militares sabiam do atentado ao Riocentro, conclui CNV

Ericka de Sá, de Brasília29 de abril de 2014

Relatório apresentado pela Comissão da Verdade diz que explosão foi fruto de "minucioso e planejado trabalho de equipe” e reafirma haver fortes indícios da participação de membros do alto escalão do Exército e do SNI.

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Foto: Tânia Rêgo/ABr

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) afirma, em relatório divulgado nesta terça-feira (29/04) no Rio de Janeiro, que há “fortes indícios” de que autoridades do alto escalão do Exército estavam cientes do planejamento do atentado a bomba no Riocentro, em 1º de maio de 1981, durante um show para comemorar o Dia do Trabalhador.

A explosão, fruto de um “minucioso e planejado trabalho de equipe”, matou o sargento Guilherme Pereira do Rosário e feriu o capitão Wilson Luiz Chaves Machado, que estavam em um veículo estacionado próximo à casa de força da casa de espetáculos.

O atentado do Riocentro é parte de uma série de outros ataques registrados entre 1980 e 1981. Segundo o relatório, instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), além da sede de jornais e bancas de venda de periódicos foram alvo de ataques.

"Os atentados como o do Riocentro visavam dificultar a abertura política e dar uma sobrevida ao regime militar”, disse o coordenador da CNV, Pedro Dallari, durante a apresentação do relatório.

O documento também concluiu que o objetivo da ação era atribuir a autoria do ataque do Riocentro a grupos armados contrários ao regime. Segundo a comissão, falhas na execução evitaram uma tragédia de maiores proporções.

Para elaborar o relatório, a CNV reavaliou as informações dos inquéritos policiais produzidos sobre o caso, documentos do Arquivo Nacional, reportagens jornalísticas feitas na época, além de outros documentos fornecidos por militares ligados aos órgãos de comando na época.

Investigação manipulada

Segundo o relatório apresentado pela CNV, o inquérito realizado na época apresentava o sargento Rosário – morto no ataque – e o capitão Wilson Machado – que ficou ferido - como vítimas. A CNV confirmou que a bomba estava no colo do Sargento Guilherme, sentado no banco anterior direito do veículo Puma, contrariando a versão apresentada como oficial que colocava a bomba sob o banco do carro.

A versão foi mantida quase 20 anos e o caso só foi reaberto em 1996 após várias solicitações de novo julgamento. Em 1999, o STM voltou a arquivar o caso.

Durante o processo de investigação, a CNV encontrou provas de manipulação das investigações e reprimendas aplicadas aos que questionaram a lisura do processo de apuração, entre eles o coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro e do almirante Júlio de Sá Bierrenbach.

Em um dos depoimentos colhidos pela CNV e reproduzidos no relatório, o almirante de esquadra Júlio de Sá Bierrrenbach justifica sua decisão de não concordar com o arquivamento do processo no Superior Tribunal Militar (STM), ainda naquele ano: “Eu não estava contra o Exército, mas não podia engolir aquela solução. Era uma farsa total”.

O atentado

O Riocentro, instalado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, era palco de um evento anual para comemorar o Dia do Trabalhador. A série de shows era organizada pelo Cebrade (Centro Brasil Democrático), ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Naquele ano, a coordenação era de Chico Buarque de Hollanda e prestaria homenagem a Luiz Gonzaga. Segundo os registros, cerca de 20 mil pessoas estavam no local para assistir a apresentações de artistas como Gal Costa, Gonzaguinha e Alceu Valença.

A explosão – que ocorreu por volta das 21h20 – interrompeu os shows. As investigações indicam que o atentado aconteceu antes da hora planejada, antes de a bomba ter sido colocada no local provável da explosão, que seria abaixo do palco.