80 anos
11 de novembro de 2009"Nunca escrevi um livro com mais de 350 páginas", disse certa vez Hans Magnus Enzensberger, um autor sem predileções por longas incursões literárias. Talvez exatamente por isso ele seja um dos mais reconhecidos escritores alemães da atualidade. Autor de ensaios, romances, livros infantis, peças de teatro, libretos de ópera e, acima de tudo, poesia.
A estreia de Enzensberger na literatura se deu com o volume de poemas Defesa dos Lobos, (Verteidigung der Wölfe), publicado em 1957, quando o autor tinha apenas 28 anos. Seis anos mais tarde, ele já receberia o Prêmio Georg Büchner, a distinção literária mais conceituada na Alemanha.
Desilusão com Cuba
Nascido e criado no sul da Alemanha, Enzensberger vivenciou ainda adolescente a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, aos 16 anos, foi recrutado para as chamadas tropas Volkssturm, convocadas nos últimos dias de guerra pela Wehrmacht. Imediatamente após a guerra, ganhou a vida comercializando no mercado negro.
Depois disso, Enzensberger concluiu seus estudos, escreveu uma tese de doutorado, fez traduções, trabalhou em uma editora, na redação de uma rádio e deu aulas em universidades.
Numa época em que viajar para países distantes não era comum entre seus conterrâneos, o escritor visitou por diversas vezes países como México, Noruega, Itália, União Soviética e Cuba, onde ajudou na colheita de cana-de-açúcar antes de deixar a ilha consideravelmente desiludido.
História intelectual do país
Um dos mentores do movimento estudantil na Alemanha, Enzensberger manteve posteriormente sua condição de autor político, uma postura que se perpetuou mesmo mais tarde, quando o escritor criticou a esquerda, conta o biógrafo Jörg Lau.
"Ele participou intensamente de todos os debates relevantes na Alemanha. Nos anos 1950, quando se discutia, por exemplo, a questão armamentista e os antigos nazistas. Nos anos 1960, quando o assunto era a Nova Esquerda. Na década de 1970, sua atenção se voltou para a descrença no progresso e para ecologia. E assim por diante. Por todos os lados, você encontra contribuições interessantes de Enzensberger, que se envolveu diretamente em vários desses debates. Evocando sua vida, tem-se à frente uma espécie de história intelectual da Alemanha", completa Lau.
Aprendizado da língua portuguesa
Enzensberger, como diz seu biógrafo, pertence a um "novo gênero de intelectual": engajado politicamente e, ao mesmo tempo, versátil em termos de interesses. Amante da música, poliglota, começou a aprender português aos 70 anos. Sua paixão especial é a matemática, sobre a qual escreveu várias vezes. Seu livro Diabo dos Números (Zahlenteufel) se tornou um best-seller.
E mesmo assim, diz o próprio Enzensberger num filme veiculado pela televisão alemã, "há muitos bons matemáticos ou bons jogadores de futebol. Eu não sou nada disso. Talvez tivesse me tornado um bom químico. Ou banqueiro. No entanto, é preciso conhecer as próprias prioridades. Além disso, a literatura é naturalmente um peso. É mais ou menos como fumar. Quando se cria o hábito muito cedo, fica difícil deixar depois", compara o escritor.
Nos últimos anos, Enzensberger continuou se envolvendo em debates atuais na Alemanha, como os relacionados à migração, à Europa, ao Islã e à Guerra do Iraque, que foi um dos poucos intelectuais do país a defender.
Seu aniversário de 80 anos deverá ser celebrado discretamente. Para Enzensberger, o dia 11 de novembro de 2009 é apenas uma data qualquer no calendário. As diversas homenagens recebidas nesta ocasião, contudo, ele não teve como evitar.
Autora: Cornelia Rabitz (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque