Aumenta pressão por monitoramento da AfD
3 de setembro de 2018Após violentos protestos contra a política migratória do governo alemão na cidade de Chemnitz, no leste do país, ganhou força no país o debate sobre um possível monitoramento pelas autoridades federais do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
A legenda foi uma das organizações envolvidas nasrecentes manifestações em Chemnitz, motivadas pelo assassinato de um cidadão alemão de 35 anos. O fato de dois suspeitos pelo crime serem estrangeiros – um sírio e um iraquiano – acirrou os ânimos na cidade e levou extremistas a perseguirem e atacarem pessoas que aparentavam ser estrangeiras durante os protestos.
No último sábado, cerca de 6 mil apoiadores da AfD e do Pegida (sigla em alemão para "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente") saíram às ruas de Chemnitz. Líderes da AfD, entre eles, Björn Höcke, da Turíngia, participaram da marcha.
Políticos social-democratas e alguns conservadores expressaram apoio ao monitoramento do partido, ainda que o Ministério do Interior afirme não haver uma base legal para que essa medida seja colocada em prática.
O vice-presidente do Bundestag (Parlamento alemão), Thomas Oppermann, do Partido Social-Democrata (SPD), afirmou ao jornal Die Welt nesta segunda-feira (03/09) que o Departamento Federal de Proteção à Constituição, o serviço secreto interno do país, deveria investigar uma possível colaboração da AfD com grupos radicais de extrema direita.
"A questão dos refugiados divide a sociedade, e a AfD se engaja de maneira cada vez mais radical nessa onda", disse Oppermann. "Por isso,o Departamento Federal de Proteção à Constituição deve observar de perto a divisão de tarefas entre a AfD e os neonazistas", exigiu, acusando o partido de atacar diretamente as bases do Estado de Direito e de incitar a violência.
"A AfD se deixou transformar numa frente de radicais de direita nas ruas de Chemnitz, seja por vontade própria ou não", afirmou a líder do SPD no Bundestag, Andrea Nahles, ao defender que a sigla direitista seja observada de perto.
O secretário-geral do SPD, Lars Klingbeil, afirmou que "se alguém ameaça o Estado, deve ser monitorado".
Martin Dulig (SPD), vice-governador do estado da Saxônia, onde fica Chemnitz, afirmou ao Die Welt haver "pós-fascistas" entre os políticos da AfD.
"Temos que deixar de ser reféns da AfD", afirmou. Ele defende que o foco deve estar mais nos eleitores do partido do que na sigla, que, segundo diz, "vive da manipulação das pessoas e de seus medos".
Os líderes da conservadora União Democrata Cristã (CDU,) da chanceler federal Angela Merkel, se dividem quanto a um monitoramento de um possível envolvimento da AfD com grupos radicais de direita.
Thomas Strobl, vice-presidente da CDU e secretário do Interior de Baden-Württemberg, disse ao jornal Augsburger Allgemeine que a AfD tende cada vez mais à extrema direita, e que os eventos em Chemnitz demonstram "mais uma vez com clareza" que as autoridades federais devem "no mínimo continuar a observá-la de perto". "Se as condições para essa vigilância já existirem, ela deve ser rapidamente posta em prática", reiterou.
Mais cauteloso, o governador do estado de Schleswig-Holstein, Daniel Günther (CDU), alertou que o monitoramento da AfD poderá levar o partido a assumir um papel de mártir. Em entrevista ao grupo de mídia Funke, ele afirmou que a medida "não ajudará na confrontação das forças políticas radicais, sejam de direita ou de esquerda". Ele defende que não apenas os partidos democráticos, mas também os cidadãos democratas, devem buscar o debate político com a AfD.
Já o líder da CDU no Bundestag, Volker Kauder, exigiu uma confrontação política mais rígida para com a AfD, que, segundo afirma, "fornece assistência ao radicalismo de direita". Ele defende que o partido deve ser vigiado de perto pelas autoridades.
O líder da AfD no Bundestag, Alexander Gauland, rebateu as declarações de Kauder, dizendo que são "estúpidas e completamente absurdas". Ele reiterou que seu grupo parlamentar não apoia extremistas de direita.
"É uma tentativa de Kauder de nos silenciar e nos excluir do debate democrático, porque nos tornamos cada vez mais populares entre os cidadãos", afirmou ao Die Welt.
Enquanto parte dos políticos da CDU se alinham com os social-democratas em defesa da vigilância à AfD, os líderes da legenda conservadora União Social Cristã (CSU) – tradicional aliada da CDU na Baviera – demonstram ceticismo em relação à medida.
O governador bávaro, Markus Söder, observou que a AfD não é apenas um partido de protesto, mas que também possui uma "agenda oculta". Ele disse que a vigilância deve ser feita apenas individualmente, e não ao partido como um todo. "Temos que enviar um sinal claro na Baviera de que não queremos o que aconteceu em Chemnitz."
Ministério do Interior rejeita monitoramento
O governo federal diz que, até o momento, não há base para o monitoramento do partido como um todo. Segundo o Ministério do Interior, o parágrafo 3º da Lei Federal de Proteção à Constituição estabelece que esse tipo de vigilância deve ser aplicada, entre outros casos, quando há ameaças à ordem democrática, à existência ou à segurança da Federação ou de um estado.
O Ministério não se pronunciou sobre a possibilidade de se monitorarem membros isolados do partido.
O ministro do Interior, Horst Seehofer (CSU), já havia afirmado que o monitoramento das autoridades de proteção à Constituição à AfD não iria ocorrer.
Entretanto, nesta segunda-feira, uma porta-voz da Secretaria do Interior da Baixa Saxônia disse que a ala jovem da AfD no estado será monitorada. A cidade-Estado de Bremen informou que há uma semana já observa a mesma organização.
"Essas pessoas já deixaram cair suas máscaras diversas vezes. As mensagens desses grupos são, em parte, puramente racistas", disse o político local Ulrich Mäurer.
Segundo levantamento do instituto Civey, encomendado pelo grupo de mídia Funke, 57% dos alemães concordam que a AfD deve ser monitorada pelas autoridades.
Outra pesquisa realizada pela emissora alemã RTL afirma que o apoio à AfD, que obteve 13% dos votos nas eleições federais do ano passado, aumentou para 16% após os incidentes em Chemnitz.
RC/afp/rtr/epd
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