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Atos do 1º de Maio pró e contra governo têm baixa adesão

1 de maio de 2022

Em vídeo transmitido na Avenida Paulista, Bolsonaro foi sucinto, elogiou seus apoiadores e não atacou STF. Lula participou de evento em frente ao estádio do Pacaembu e focou em direitos trabalhistas e qualidade de vida.

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Bolsonaro e Lula, em fotos diferentes, acenam
Bolsonaro foi a ato em Brasília, mas não discursou na capital. Lula subiu no palco de evento organizado por centrais sindicais em São Paulo.Foto: Adriano Machado/REUTERS/Nelson Almeida/AFP

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que devem se enfrentar nas urnas em outubro, participaram de atos neste 1º de Maio, Dia do Trabalhador, que não atraíram grandes multidões, indicando que a população em geral ainda não está engajada para participar de mobilizações presenciais em torno dos dois principais nomes da disputa.

O receiode que Bolsonaro reeditasse a sua participação no feriado de 7 de Setembro do ano passado, quando ele fez na Avenida Paulista um discurso inflamado com ameaças golpistas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também não se confirmou.

O presidente já havia dado uma estocada nessas instituições na quarta-feira, quando defendeu uma contagem paralela de votos nas eleições realizada pelas Forças Armadas. Neste domingo, porém, Bolsonaro esteve por apenas cerca de dez minutos no ato de Brasília e não discursou, e sua rápida fala na Avenida Paulista, transmitida em vídeo, não trouxe ataques diretos ao Judiciário.

"Essa manifestação é pacífica como todas as demais em defesa da Constituição, da família e da liberdade (...) Devo lealdade a todos vocês, temos um governo que acredita em Deus, respeita os seus militares, defende a família e deve lealdade ao seu povo", afirmou Bolsonaro. "Estarei sempre ao lado da população brasileira. Agradeço ao criador pela minha vida e a vocês por terem me ofertado essa missão de conduzir o destino do Brasil, porque o bem sempre vence o mal", disse o presidente. Seus apoiadores encheram cerca de três quarteirões da Paulista, segundo veículos de imprensa.

Pessoas na Esplanada dos Ministérios
Ato em Brasília reuniu poucos apoiadores do presidenteFoto: Evaristo Sa/AFP

Em Brasília, o ato reuniu poucos apoiadores do presidente e teve como pauta elogios ao indulto concedido a Silveira, a defesa de sua elegibilidade nestas eleições e ataques ao Supremo, com faixas como "Fora a ditadura da toga" e "Criminalização do comunismo. Destituição dos ministros".

Bolsonaro havia sido aconselhado por aliados a não participar dos atos deste domingo para não acirrar ainda mais, neste momento, o conflito com o Supremo. A concessão do indulto ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), um dia depois após ele ter sido condenado pela Corte, foi considerada um vitória política pelos bolsonaristas, mas a sugestão de uma contagem paralela de votos despertou reações negativas também dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

No Rio, estrela é Daniel Silveira

A presença mais celebrada nos atos bolsonaristas realizados no Rio de Janeiro foi Silveira, que participou de manifestações em Copacabana e na orla de Icaraí, em Niterói.

Em Copacabana, Silveira fez discursos nos três caminhões de som que estavam no local e disse que o Brasil tem hoje "presos políticos" e que a sua própria prisão, em 2021, havia sido "inconstitucional".

"O Brasil hoje tem presos políticos: Roberto Jefferson, eu, Oswaldo Eustáquio, Wellington Macedo, Alan dos Santos exilado, e vários outros que talvez eu não consiga nominar aqui. Isso é inadmissível em um país que grita democracia. Fala que tem democracia, mas age como ditadura. Então, não se dobrem perante a arbitrariedades estatais. Quem manda no Brasil somos nós", afirmou

Daniel Silveira discursa apontando para o alto
Silveira foi saudado no Rio como possível candidato a senador em outubroFoto: Lucas Landau/REUTERS

Silveira também defendeu o armamento da população, uma das bandeiras de Bolsonaro. "O de nove dedos [referência a Lula] disse que ia acabar com a família, com o armamento. Eu estou armado, quem tiver armado não é bandido não, quer se proteger", afirmou. No sábado, Lula havia dito, em um evento em São Paulo, que "o povo brasileiro não está precisando de armas, está precisando de paz".

Ele foi saudado pelos manifestantes como candidato a senador em outubro, mas, ao condená-lo, o Supremo também determinou a sua inelegibilidade. O STF ou o TSE ainda deverão avaliar se os efeitos do decreto de indulto abrangem também o seu direito de disputar eleições.

Lula prioriza fala sobre economia e qualidade de vida

O ato organizado por sete centrais sindicais foi realizado em frente ao estádio do Pacaembu, em São Paulo, e também não encheu, apesar de ter como chamarizes a presença de Lula e shows de Daniela Mercury e Leci Brandão, entre outros.

Em sua fala, Lula deu destaque a temas que afetam a qualidade de vida da população, como salário mínimo, inflação e direitos trabalhistas. "Todos vocês, mesmo aqueles que são jovens, devem ter um parente que já viveu melhor quando eu governava este país. No tempo em que eu governava, o salário mínimo tinha aumento real todo ano. Isso fez com que o salário mínimo subisse 77% durante o meu governo", afirmou.

Em seguida, o petista mencionou a alta da inflação, a redução do poder de compra dos brasileiros e o aumento da fome, e disse que, se eleito, seu governo se engajaria em criar novas regras trabalhistas para os trabalhadores de aplicativos, que segundo o petista são hoje tratados "como se fossem escravos".

"Eles têm que ter direito a um programa de saúde, eles têm que ter direito a um programa de assistência social, eles têm que ter direito à assistência médica, têm que ter seguro quando bater no seu carro, moto ou bicicleta, essas pessoas têm que ter descanso semanal remunerado, porque a escravidão acabou em 13 de maio de 1888", afirmou.

Vista área de manifestantes em frente ao estádio do Pacaembu
Manifestação das centrais sindicais teve adesão abaixo da esperada em São Paulo Foto: Rodrigo Paiva/Getty Images

O petista também voltou a criticar o estímulo ao armamento da população promovido pelo Bolsonaro e disse que a prioridade deveria ser investir em educação. "Este país (...) tem uma sociedade que é a mistura de negros, europeus e índios, e essa miscigenação produziu o povo mais feliz do mundo, e nós não aceitamos o ódio que está imposto neste país por esse genocida que governa o Brasil. Em vez de ficar abrindo salões e mais salões para que as pessoas deles, que estão comprando armas, fiquem treinando tiro, nós vamos abrir salões e salões para fazer biblioteca para que nosso povo aprenda a ler, vamos levar internet de banda larga a cada lugar deste país", afirmou.

Na conclusão de sua fala, Lula tentou se apropriar do termo "liberdade" – muito usado no repertório bolsonarista – e aplicá-lo a um contexto diferente. "Logo vai estar tudo formalizado e nós vamos acordar, um belo dia do mês de outubro, agradecendo a Deus e agradecendo a liberdade. E vamos agradecer que a liberdade finalmente abriu as asas sobre o povo brasileiro, e vamos voltar a ter um país civilizado, as instituições vão se respeitar", disse.

A campanha eleitoral só começa, formalmente, no dia 16 de agosto, mas tanto Lula como Bolsonaro e outros pré-candidatos vêm mantendo agenda intensa de eventos. Segundo a lei eleitoral, é permitida a participação dos pré-candidatos em eventos coletivos e manifestações, sendo vedado apenas o pedido explícito de voto.

bl (ots)