Ato patriótico em Moscou, no 23º dia da guerra
19 de março de 2022O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez nesta sexta-feira (18/03) uma rara aparição pública desde que determinou que seus militares invadissem a Ucrânia, no 23º dia da guerra.
Em um estádio lotado em Moscou para comemorar o oitavo aniversário da invasão da Crimeia, ele recorreu à Bíblia e a referências históricas para justificar também a invasão da Ucrânia. O evento incluiu canções patrióticas, com versos como "Ucrânia e Crimeia, Belarus e Moldávia, é tudo meu país".
"Ombro a ombro, eles se ajudam e se apoiam mutuamente", disse Putin. "Não tínhamos uma unidade como esta há muito tempo", acrescentou, para ser então aplaudido pela multidão.
Em um palco com um grande letreiro que dizia "Por um mundo sem nazismo", ele atacou "seus inimigos neonazistas na Ucrânia" e insistiu que suas ações seriam necessárias para evitar o "genocídio", uma alegação que líderes ao redor do globo negaram terminantemente.
O evento foi uma inciativa das autoridades russas para tentar reforçar sentimentos de patriotismo no país, em resposta ao enorme revés internacional gerado pela invasão russa à Ucrânia e às pesadas sanções impostas pelo Ocidente.
Bombardeios prosseguem
Enquanto Putin discursava, tropas russas continuavam bombardeando com intensidade cidades ucranianas, incluindo a capital Kiev e uma instalação na periferia de Lviv, a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Polônia.
O prefeito de Lviv, Andriy Sadovyi, disse o local era usado na manutenção de aeronaves militares e que o ataque danificou uma instalação de reparo de ônibus. A fábrica tinha suspendido operações antes do ataque e não houve vítimas.
O comando da Força Aérea ucraniana disse que as forças russas lançaram seis mísseis com destino a Lviv, a partir do mar Negro, mas que dois dos mísseis foram abatidos. Um morador próximo do local atingido relatou que as explosões fizeram com que os prédios balançassem e causaram pânico.
Desde o início da invasão russa, cerca de 200 mil ucranianos se refugiaram em Lviv. No final de semana, um ataque russo matou quase 30 pessoas que estavam em um centro de treinamento na cidade.
A região de Kiev também foi alvo de bombardeios nesta sexta-feira. Um dos ataques deixou ao menos um morto e quatro feridos, segundo serviços de emergência.
Preocupação com alimentos em Mariupol
Em Mariupol, no sudeste da Ucrânia, cercada por militares russos, os constantes ataques aéreos já atingiram 80% das residências da cidade e 30% delas ficaram completamente destruída, segundo o conselho municipal da cidade. "Uma média de 50 a 100 bombas são lançadas diariamente na cidade. A devastação é enorme", afirmou o órgão.
Martin Frick, diretor do Programa Mundial de Alimentos da ONU, afirmou à DW que a situação em Mariupol é "especialmente ruim" e que a organização estava fazendo o possível para tentar levar alimentos para cidade. "Não houve possibilidade para levar comida para dentro junto com um comboio humanitário", afirmou.
"Estamos entregando comida para cidades que não estão totalmente cercadas. Temos estoque de alimentos para mais de 3 milhões de pessoas para 30 dias. Mas ainda estamos esperando e pressionando por corredores humanitários, especialmente para Mariupol", disse Frick.
Mais de 6,5 milhões de deslocados internos
A agência da ONU sobre migrações afirmou que cerca de 6,5 milhões de pessoas foram obrigadas a se deslocar internamente na Ucrânia, além dos 3,2 milhões de refugiados que deixaram o país desde o início da guerra.
A Organização Internacional para as Migrações indica que, em três semanas, a Ucrânia deverá chegar ao nível de deslocamentos similar da guerra da Síria, quando 13 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas, para outros lugares dentro da Síria ou outros países.
A projeção do órgão também indica que "é estimado que mais de 12 milhões de pessoas estejam presas em áreas isoladas ou impedidas de fugir devido a altos riscos de segurança, destruição de pontes e vias, assim como falta de recursos e informação sobre onde encontrar segurança e acomodação".
Scholz e Macron falam com Putin
Em uma conversa telefônica que durou menos de uma hora nesta sexta-feira, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, pediu ao presidente russo, Vladimir Putin, um cessar-fogo imediato na Ucrânia.
Conforme o porta-voz do governo alemão, Scholz pressionou Putin a buscar uma solução diplomática para o conflito e disse que é preciso melhorar a situação humanitária nas áreas de conflito.
Putin, por outro lado, culpou a Ucrânia por atrasar as negociações de paz. Em um comunicado, o Kremlin disse que "foi observado que Kiev está tentando atrasar o processo de negociação de todas as formas possíveis, apresentando cada vez mais propostas fora da realidade".
O presidente francês, Emmanuel Macron, também falou ao telefone com Putin nesta sexta. Ele expressou "extrema preocupação" com o destino dos civis em Mariupol e pediu "uma interrupção do cerco e acesso humanitário" à cidade, além de um cessar-fogo geral na Ucrânia.
O líder russo respondeu que Moscou estava fazendo "todo o possível" para evitar mortes de civis na Ucrânia e acusou Kiev de cometer "crimes de guerra", "em particular grandes ataques de foguete e de artilharia nas cidade de Donbass".
Biden pressiona Xi Jinping contra apoio à Rússia
Os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, conversaram por quase duas horas em videoconferência, em meio a preocupações quanto a um possível apoio chinês à invasão russa à Ucrânia.
Antes da conversa entre os líderes, o secretário de estado americano, Antony Blinken, disse que Washington se preocupa com uma possível assistência direta da China à Rússia na guerra na Ucrânia, inclusive com o envio de equipamentos militares, algo que Pequim nega. Segundo ele, o objetivo de Biden era deixar claro que a China sofrerá consequências caso apoie as agressões russas.
O líder chinês afirmou que as nações devem "respeitar umas às outras e rejeitar a mentalidade da Guerra Fria", além de "se abster de confrontos entre os blocos". Na declaração, Xi evitou culpar ou criticar a Rússia pelo conflito na Ucrânia, mas disse que "as prioridades estão na continuação do diálogo e das negociações, evitar mortes de civis e uma catástrofe humanitária, além de cessar os combates e terminar a guerra o mais cedo possível".
bl (AFP, AP, Reuters, ots)