Ativistas lutam contra extinção de botos no Mar Báltico
1 de novembro de 2013Corpo redondo e cinza-escuros, com até dois metros de comprimento e pesando cerca de 70 quilos, os botos do Mar Báltico são um deleite para os amantes da natureza – mas que está se tornando cada vez mais raro.
"Eu gostaria que as pessoas soubessem quão fantásticas essas criaturinhas são, e que elas não foram feitas para viver em aquários ou para dar shows", lamenta a estudante Kathrin Rudolph, ativista da defesa dos botos que vivem no gélido norte europeu, atualmente ameaçados de desaparecer. "Eles precisam viver livres na natureza. Seria o melhor para eles", reforça.
No entanto, é justamente em seu habitat natural que o animal de aparência amigável corre o maior perigo. De acordo com o alemão Grupo de Proteção da Natureza (Nabu, sigla original), a população dos botos do norte da Europa mingou 60%, nos últimos anos.
"O risco de esse animal entrar em extinção é totalmente plausível", alerta Fabian Ritter, coordenador de uma campanha pela preservação dos mares, iniciada pela Organização internacional em Defesa das Baleias e Golfinhos (WDC).
As redes de emalhar representam o principal perigo para os botos. Lançadas ao mar para pegar peixes menores, essas redes acabam se enroscando nos cetáceos, arrastando-os para fora do mar. Ativistas ambientais agora pedem aos pescadores que usem outros tipos de rede. Mas o pedido esbarra sobretudo na resistência dos que pescam em pequena escala, os quais alegam não poder arcar com os custos de trocar seu equipamento de trabalho.
"O problema com equipamentos alternativos, como armadilhas para peixes, é que eles não são rentáveis, não se alcança lucro com eles", explica Claus Ubl, da Associação Alemã de Pescadores, em entrevista à Deutsche Welle. "A quantidade de peixes [obtida por esses métodos] é muito pequena. As redes são bem mais eficientes."
Mas os botos não conseguem reconhecer as redes e escapar delas. E, de acordo com Ritter, os animais mais jovens são os mais suscetíveis a ficar emaranhados nos fios – o que agrava ainda mais o perigo para a espécie.
Mobilizar opinião pública
Além de Ritter, outros ativistas e cientistas acreditam que só será possível salvar os animais ameaçados se houver uma mobilização da opinião pública. Por isso, a WDC e outras organizações internacionais – como a Oceancare e a Nabu – decidiram se unir em prol da causa.
Há dois anos, foi lançado o projeto Sambah (Monitoramento estático e acústico dos botos), em defesa do animal. Com base nos sons captados, os pesquisadores registraram num mapa a distribuição populacional desses parentes dos golfinhos e identificaram onde mais corre risco, devido ao contato com o ser humano.
"Enquanto a opinião pública alemã não souber exatamente o que está acontecendo, e não se importar com eles, o governo não vai fazer nada para protegê-los", afirma Laura Doehring, porta-voz da campanha.
Dominando o "baleiês"
Os ativistas imaginaram, então, que conhecer a língua das baleias, apelidada "baleiês", poderia ser uma maneira de os humanos se aproximarem dos cetáceos, e de aprenderem um pouco mais sobre sua inteligência. Uma página na internet permite "traduzir" frases humanas nos sons produzidos pelos mamíferos marinhos.
A campanha também apela a artistas e à população em geral para que participem de um concurso de fotos de golfinhos de todo tipo. A melhor será apresentada em novembro no Ministério alemão do Meio Ambiente. Com isso, os ativistas esperam retomar as conversas sobre a demarcação de áreas de proteção ambiental no Mar Báltico.
"Em novembro do ano passado, a Alemanha foi obrigada a demarcar áreas marinhas de proteção ambiental e a desenvolver um plano para proteção dos botos. Isso deveria ser feito até novembro deste ano", lembrou Ritter. "Este prazo foi claramente estipulado pela União Europeia. Mas, pelo que podemos ver até agora, não será cumprido."
Um porta-voz do Ministério do Meio Ambiente em Berlim afirmou à Deutsche Welle que ainda há a esperança de que a Alemanha apresente a tempo os parâmetros legais para que as áreas marinhas de proteção sejam estabelecidas. "Não se deve esquecer que diversos interesses precisam ser levados em consideração, inclusive os da indústria pesqueira", ressaltou.
Organizações ambientalistas querem, no entanto, aumentar a pressão para que sejam banidas as redes de pesca que ameaçam a vida e a existência dos botos. Elas esperam, além disso, limitar tanto as atividades militares como a exploração de óleo e gás em algumas áreas específicas.
Ritter ressalta que não há mais tempo a perder. "Podemos dizer que cada dia que passa é um dia a mais em que botos ficam emaranhados nas redes do Mar Báltico", lembra o ativista.