Ativistas ambientais bloqueiam trânsito em Berlim
7 de outubro de 2019Por volta do meio-dia desta segunda-feira (07/10), ativistas do movimento ambiental Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção) encheram de cor a praça mais cinzenta de Berlim. Sofás, plantas, tapetes e livros foram posicionados num dos cruzamentos mais movimentados da capital alemã na Potsdamer Platz.
Sentados ao sol, que aquecia o dia frio de outono, grupos de todas as idades faziam piquenique, conversavam, tocavam instrumentos. Pais trouxeram seus filhos, que estão de férias escolares, para brincar com outras crianças no espaço que costuma ser ocupado por carros. Um clima de festa e alegria reina na região.
Voluntários distribuíam alimentos e bebidas quentes aos presentes, como um senhor de meia idade que passada com frequência oferecendo "batatas cozidas quentinhas" para quem participava do protesto. Quando a panela era esvaziada, ia ele cozinhar mais.
Com o passar das horas, mais manifestantes se reuniam ao grupo inicial. Alguns vinham de bicicletas, outros a pé ou de transporte público, a maioria trazendo banquinhos ou toalhas para sentarem na sala de estar criada na Potsdamer Platz. Estima que por volta das 14h, mais de 2 mil manifestantes participavam da ação do centro de Berlim.
O grupo pretende ficar no local até o cair da noite. O bloqueio do cruzamento, que paralisou o trânsito na região, foi um dos primeiros atos da semana de protesto global programada por ativistas do Extinction Rebellion, em diversas cidades do mundo.
As manifestações querem, por meio da desobediência civil pacífica, chamar a atenção da população e governos para a ameaça do colapso climático e da extinção em massa que pode ser provocada pelo aquecimento global. Ao paralisar o trânsito em grandes cidades, os ativistas pretendem aumentar a pressão sobre governos para que medidas eficientes sejam tomadas para reduzir emissões.
Anos de manifestações convencionais não geraram políticas significativas para o clima, por isso, os ativistas do Extinction Rebellion acreditam que os protestos precisam agora incomodar, até mesmo ultrapassando alguns limites da lei, como o bloqueio do trânsito e aeroportos, para alcançar algum resultado. O grupo rejeita categoricamente o uso da violência e defende que a democracia deliberativa, na qual cidadãos têm um envolvimento maior na tomada decisões, seja aplicada para tratar a questão climática.
Esta semana de protesto ocorre em várias cidades do mundo. Na Alemanha, Berlim foi o local escolhido. Ativistas de todas as idades de outras regiões alemãs e também dos países nórdicos vieram para a capital alemã, de trem ou em excursões de ônibus, e estão acampados ao lado da chancelaria.
O frio cortante de outono, com madrugadas geladas de temperaturas na faixa dos 5°C, não espantou os cerca 1,5 mil ativistas que estão reunidos no acampamento do clima. Tudo é muito organizado por lá, onde dezenas de voluntários preparam as refeições, cuidam da limpeza e oferecem diversos tipos de workshop e palestras, inclusive treinamento para participar dos bloqueios. Além disso, um palco foi montado para debates com cientistas e especialistas que abordam questões envolvidas com as mudanças climáticas. As atividades são abertas a todos.
O acampamento e as refeições preparadas no local são financiados por doações, cada um dá o que pode, possibilitando que todos possam fazer parte da ação. Já alguns berlinenses estão oferecendo seus banheiros para que os ativistas possam tomar um banho quente durante os dias que estiverem na cidade.
No primeiro dia de bloqueios, os ativistas se revelaram engajados. Antes do ato na Potsdamer Platz, um grupo de cerca de mil pessoas interrompeu o trânsito às 6h na região da Coluna da Vitória, onde fica um cruzamento de avenidas conhecido como Grosser Stern. Na região, eles construíram uma arca para lembrar da extinção das espécies. A capitã alemã da ONG Sea Watch International, Carola Rackete, que desafiou em julho o governo da Itália ao aportar no país sem autorização um barco com 40 refugiados, discursou para os manifestantes.
Os ativistas planejam manter o bloqueio na Coluna da Vitória, um dos principais eixos do trânsito na cidade, durante toda a semana, mas a polícia quer interromper a ação ainda hoje, por enquanto, as conversas continuam. As autoridades descartam usar a força para desocupar as regiões.
Além destes dois grandes protestos, o trânsito em outras ruas menores foi interrompido por pequenos grupos. O secretário do Interior de Berlim, Andreas Geisel, afirmou que bloqueios espontâneos serão tolerados, se não houver atos de violência. Pelo Twitter, a polícia local informou que os berlinenses estão reagindo bem às manifestações e que há poucos engarrafamentos, o que indicaria que muitos buscaram alternativas e deixaram seus carros em casa.
Algumas ruas e alvos de bloqueios nesta semana já foram informados pelos ativistas, uma delas será a famosa avenida Kurfürstendamm na quarta-feira. Outros serão relevados poucas horas antes da ação em grupos de aplicativos de mensagens. O Telegram do movimento possui, por exemplo, mais de 7 mil inscritos. Tudo é coordenado por esses meios. Os participantes recebem informações sobre os atos atuais, em quais locais é necessário apoio e o que mais podem fazer para auxiliar os manifestantes que já estão nestes locais, como levar cartazes ou carregadores de bateria de celular.
O Extinction Rebellion têm basicamente três demandas: que governos reconheçam a crise ambiental e declarem estado de emergência climática, o que mostra o quão preocupante é atual situação; apliquem medidas para zerar efetivamente as emissões de gases de efeito estufa até 2025; e criem assembleias populares para proporem medidas voltadas a alcançar a justiça climática. As propostas serviriam de base para o desenvolvimento de políticas sobre o tema. Esse processo auxiliaria os cidadãos a tomarem decisões conscientes e de longo prazo com bases em informação e reflexão sobre o problema.
Além de Berlim, a semana de protestos ocorre em 60 cidades do mundo, como Londres, onde surgiu o movimento, Madri, Paris, Amsterdã, Melbourne, Welligton, Buenos Aires e Cidade do Cabo.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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