Atentados usando meninas assustam Nigéria
13 de janeiro de 2015Os ataques suicidas do fim de semana abalaram a Nigéria. No estado de Yobe, duas mulheres detonaram explosivos no próprio corpo no domingo (11/01), matando quatro pessoas e ferindo outras 21. As moças realizaram o atentado suicida em um mercado lotado na cidade de Potiskum.
Uma delas teria apenas 15 anos de idade, a segunda, 20 anos. Um dia antes, uma menina de apenas dez anos realizou um atentado suicida na cidade de Maiduguri, na província vizinha de Borno, matando 19 pessoas.
"Duvido fortemente que ela realmente soubesse o que estava atado ao seu corpo", diz Mustapha Ashiru, membro de uma milícia local.
O artefato foi detonado quando a menina era revistada, na entrada para o mercado. "Os ataques deixaram as pessoas ainda mais assustadas", diz o correspondente da DW na Nigéria, Al-Amin Muhammad. "As pessoas não se sentem seguras quase em lugar nenhum."
Não há informações confiáveis
Segundo Elizabeth Pearson, pesquisadora do King College London e integrante da Nigeria Security Network (rede de segurança da Nigéria), é difícil obter informações confiáveis sobre quem eram as meninas que realizaram os ataques.
"Em dezembro 2014, o assassinato de uma menina de 13 anos de idade conseguiu ser evitado", lembra a especialista. As declarações da garota à polícia foram muito informativas, segundo Pearson. "Ela diz que seus pais eram seguidores do grupo terrorista Boko Haram e que ela teria sido obrigada a se envolver no ataque. A menor disse que se recusou e fugiu. Se a história realmente for verídica, isso significaria que os simpatizantes do Boko Haram são levados a entregar seus filhos para tais ataques."
Outros indícios obtidos a partir dos ataques no ano passado na cidade nigeriana de Kano sugerem que o Boko Haram recruta crianças de rua. Elas, provavelmente, podem ser facilmente persuadidas a cometer atentados, sem ter uma ideia exata do que estão fazendo.
Já outras famílias possivelmente são pagas para doarem suas crianças para ataques do Boko Haram, afirma Pearson. No que diz respeito às meninas mais jovens, a probabilidade é grande de que tenham sido forçadas. Em alguns casos, elas foram acompanhadas por homens, para assegurar que realizariam o atentado.
Uma amarga ironia é que mulheres e meninas provocam menos desconfiança do que homens. Elas podem andar facilmente pelos mercados sem chamarem atenção e passam mais facilmente pela segurança. "Mas as pessoas estão cada vez mais cautelosas, mesmo em relação a mulheres jovens", ressalta o correspondente da DW.
"Estamos acostumados a lidar de forma simpática e atenciosa com mulheres. Não estávamos acostumados a ter mulheres em nosso país que cometem ataques terroristas", frisa o especialista em segurança nigeriano Yelwaji Babbaj, em entrevista à DW. "É uma novidade para nós que mulheres recorram a esses métodos."
Tática incomum
Pearson diz que mulheres que cometem atentados suicidas é algo incomum. Já houve casos de grupos terroristas laicos recrutarem mulheres como último recurso, por faltarem militantes do sexo masculino.
"Mas o Boko Haram usa as mulheres-bomba como um símbolo de força", opina Pearson. "Porque o grupo terrorista calcula a enorme publicidade, que atentados suicidas praticados por crianças de 10 anos terão. Isto é chocante, dá ainda mais medo e mostra a brutalidade e sangue-frio do grupo."
Os primeiros ataques realizados por mulheres jovens ocorreram na Nigéria em junho de 2014, poucos meses após o sequestro das meninas da cidade de Chibok. Logo, a mídia começou a especular se o atentado teria sido realizado por uma dessas meninas.
"Tenho certeza de que isso faz parte da estratégia do Boko Haram. Eles sabiam que a cobertura da mídia aumenta sua popularidade e também o medo", avalia Pearson. "Mas não há provas de que alguma das meninas de Chibok tenha feito parte dos atentados."
Impotência militar
Ataques usando meninas muito jovens revelam o grau de impotência das forças de segurança nigerianas. E o sentimento de que o Boko Haram determina os acontecimentos e que pode fazer o que quer acaba favorecendo o grupo.
O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, já reconheceu as falhas do Exército na luta contra a organização terrorista. "Mas os nigerianos querem finalmente ver as palavras se transformarem em ação", afirma Elisa Danladi, ativista dos direitos das mulheres da Initiative for African Women, sediada em Gombe, cidade no nordeste da Nigéria.
"Eles devem, finalmente, vir e intervir. Mas não nos ouvem. Esta é uma situação insustentável. Nós, mulheres da Nigéria, pedimos, pela enésima vez, ao governo nigeriano que proteja a nós e a nossas filhas."