Brechas de segurança
6 de janeiro de 2010O presidente norte-americano, Barack Obama, chamou à responsabilidade os serviços secretos dos EUA pelas falhas cometidas na prevenção da tentativa de atentado em Detroit, anunciando também melhorias na rede de segurança do país. "Se um suposto terrorista consegue embarcar munido de explosivos num avião, em pleno dia de Natal, então o sistema falhou de forma altamente desastrosa", alertou Obama após uma reunião extraordinária sobre segurança na Casa Branca.
Segundo se comprovou, os serviços secretos ignoraram sinais evidentes de perigo que poderiam ter ajudado a evitar a realização do atentado. Após conversar com 20 chefes de seus serviços secretos, Obama concluiu que "as autoridades norte-americanas dispunham de informações suficientes para ter desmascarado o plano e prevenido a tentativa de terror a tempo". "Mas nossos serviços secretos falharam em juntar todos os indícios", diagnosticou o presidente.
Pistas ignoradas
Uma das falhas foi os serviços secretos não terem dado atenção à advertência do pai de Umar Farouk Abdulmutallab, o nigeriano de 23 anos que tentou detonar um explosivo dentro de um avião que aterrissava em Detroit, no dia 25 de dezembro de 2009. Seu pai havia informado a CIA e a embaixada norte-americana na Nigéria sobre o crescente envolvimento de seu filho com o radicalismo islâmico.
Em diversos telefonemas e cartas, o pai tentou alertar as autoridades norte-americanas da gravidade da questão, chegando até a comparecer à embaixada algumas vezes, para explicar a questão pessoalmente. Mesmo assim, o jovem nigeriano só constava da genérica "lista vermelha", com mais de meio milhão de suspeitos.
Após as investigações apontarem que Umar Farouk Abdulmutallab havia sido treinado e armado pela organização terrorista Al Qaeda no Iêmen, Obama mandou interromper – na terça feira (05/01) – a transferência de prisioneiros iemenitas de Guantánamo para seu país de origem. No campo de prisioneiros norte-americano em Cuba ainda estão encarcerados 198 iemenitas. Teme-se que os prisioneiros a serem libertados – menos de 40, segundo o New York Times – possam ser recrutados pela Al Qaeda.
Panes de segurança em Nova York
No fim de semana, as autoridades norte-americanas tornaram ainda mais rigorosas as medidas de segurança nos aeroportos do país. Na terça-feira, o medo de possíveis atentados levou à evacuação temporária de dois aeroportos. Na cidade de Minneapolis-St. Paul (Minnesota), uma bagagem deixada na ala de chegada do aeroporto levou ao acionamento do alarme de bombas.
Na localidade californiana de Bakersfield, uma substância suspeita encontrada na bagagem de um passageiro levou ao fechamento temporário do aeroporto. No entanto, a pane de segurança mais espetacular aconteceu no último domingo, no aeroporto nova-iorquino de Newark, onde as câmeras de vigilância deixaram de funcionar, segundo relatos da mídia norte-americana.
Agente duplo ludibria CIA
A CIA também se tornou foco da atenção da opinião pública dos EUA, após a mídia ter divulgado que o autor do recente atentado contra uma base do serviço secreto norte-americano no Afeganistão era um jordaniano que trabalhava como agente duplo para a CIA. O homem-bomba, que matou sete agentes estadunidenses de uma vez, conseguiu entrar – sem ser controlado – na base onde estava sendo aguardado para fornecer à CIA informações sobre importantes terroristas da Al Qaeda.
Segundo a NBC, um agente jordaniano chamado Humam Khalil Abu-Mulal al-Balawi viajou ao Afeganistão com a incumbência de localizar e se encontrar com o "número dois" da Al Qaeda, o médico egípcio Ayman al-Zawahiri. Balawi contatou seu informante, um oficial do serviço secreto jordaniano, e comunicou que queria fornecer pessoalmente informações sobre Zawahiri a um grupo de agentes da CIA na província de Chost, no leste do Afeganistão. Após chegar à base norte-americana de Chapman, em 30 de dezembro último, Balawi detonou os explosivos que carregava, matando consigo seu informante jordaniano e sete agentes da CIA.
Esse atentado representa um "golpe avassalador" para o empenho da CIA de se infiltrar na rede da Al Qaeda na região fronteiriça entre Afeganistão e Paquistão. Em decorrência, o trabalho dos serviços secretos sofrerá um atraso considerável. O ato de terror também prova que a Al Qaeda continua em condições de revidar e atingir os Estados Unidos. Este foi o mais sangrento atentado contra a CIA desde o início dos anos 80.
O agente duplo, de 36 anos, trabalhava para o serviço secreto jordaniano. Há pouco mais de um ano, ele havia sido preso por ter ligações com a Al Qaeda, mas acabou sendo libertado após o serviço secreto da Jordânia ter se convencido de que o tinha cooptado. Por isso, Balawi foi enviado como agente para o Paquistão e o Afeganistão.
Planos de assassinato contra sírio-alemão ainda não esclarecidos
A CIA também é alvo de acusações das autoridades alemãs. O secretário do Interior da cidade-Estado de Hamburgo, Christoph Ahlhaus, exigiu que o governo federal esclareça os supostos planos da CIA de assassinar o sírio-alemão Mamoun Darkazanli.
De acordo com um relato da revista norte-americana Vanity Fair, a CIA teceu – em cooperação com a firma particular de segurança Blackwater – planos de matar Darkazanli em 2005.
O governo alemão comunicou não ter conhecimento do caso. A Promotoria Pública anunciou esta semana que pretende iniciar investigações.
Logo após os atentados de 11 de setembro em 2001 nos Estados Unidos, o negociante hamburguês Darkazanli se tornou conhecido da opinião pública. Entre 1993 e 1998, ele foi interlocutor de diversos responsáveis da Al Qaeda e membro do núcleo terrorista em torno de Mohammed Atta, em Hamburgo.
No entanto, os investigadores não consideraram fundamentada a suspeita de que o sírio-alemão houvesse apoiado os autores dos atentados de 11 de Setembro e fundado um núcleo terrorista na Alemanha. Desde 2002, ser adepto de grupos terroristas estrangeiros é crime na Alemanha.
De acordo com investigações espanholas, Darkazanli é uma das pessoas-chave da Al Qaeda na Europa e adepto de um grupo terrorista espanhol. Os dois pedidos de extradição apresentados pela Justiça espanhola foram indeferidos.
SL/dpa/afp
Revisão: Augusto Valente