Atentado testa a paz colombiana
19 de janeiro de 2019Mães, esposas, filhos e filhas chorando: as imagens do lado de fora da Escola de Cadetes General Santander, na capital colombiana, são desoladores. Ali morreram 21 jovens, a maioria de entre 17 e 23 anos de idade, e outros 68 ficaram feridos quando, na quinta-feira passada (17/01), um carro-bomba atingiu uma das instituições mais importantes para as forças de segurança da Colômbia.
Parentes estão inconformados, a população está indignada. Há dez anos não ocorria um atentado com carro-bomba em Bogotá, e as cenas chocantes reavivaram as imagens de uma guerra que a maioria dos colombianos dava como encerrada.
"Claramente isso tem a intenção de retomar a guerra e é preocupante, venha de quem vier”, assegura Katherine Torres, da campanha Por uma Paz Completa, que busca apoiar os diálogos com o Exército de Libertação Nacional (ELN).
Para a ativista, o atual governo não mostrou real vontade de buscar a paz. Para outros, o atentado confirma que é o ELN que não quer negociar.
Apontado pelo governo como responsável pelo atentado, o ELN, que ainda possui cerca de 2 mil combatentes, é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e a União Europeia. Ele começou negociações de paz em fevereiro de 2017, no governo Juan Manuel Santos, mas o diálogo foi paralisado de fato pelo atual presidente da República, Iván Duque.
Para prosseguir com as negociações iniciadas por seu antecessor, Duque exigia que a organização libertasse todos os sequestrados e não realizasse mais atentados. O ELN então abandonou as conversas em Havana.O responsável do governo pelas negociações de paz já disse que, agora, não haverá nenhum espaço de diálogo com a guerrilha.
Para Hubert Gehring, diretor da fundação alemã Konrad Adenauer (KAS) na Colômbia, na Europa havia a ideia errada de que o acordo entre o governo Santos e as Farc, que rendeu um Nobel da Paz ao então presidente, significaria o fim dos problemas do país.
O observador diz esperar que o atentado chame a atenção da comunidade internacional para que apoie a Colômbia em temas mias urgentes, como o desenvolvimento de regiões afastadas, a implementação do acordo de paz e crise migratória venezuelana.
"A Alemanha, por exemplo, que teve que lidar com a chegada de 1 milhão de imigrantes, deveria imaginar o desafio que é para a Colômbia, além da chegada de venezuelanos, ter que lidar com 6 milhões de deslocados internos”, comenta.
O embaixador da Alemanha na Colômbia, Peter Ptassek, assegura que o atentado de quinta-feira pode gerar uma escalada da violência, com potencial para "complicar muito a situação no país”.
Em outubro, a Colômbia elege novos prefeitos, legisladores locais e governadores. Juan Caicedo, da ONG Olho na Paz, observadora da implementação dos acordos firmados entre o governo e as Farc, assegura que os atos violentos beneficiam a direita colombiana que vive "da linguagem e do lucro da guerra”.
Outras ONGs e organizações camponesas também reclamam que a direita nunca mostrou verdadeiro interesse em resolver a raiz do problema do conflito armado, que é a restituição de terras hoje nas mãos de latifundiários.
Atentados com o de quinta-feira, com carros-bomba, eram frequentes na Colômbia em decorrência de décadas de guerra civil entre o Estado e diversos grupos guerrilheiros, como as Farc, e devido à violência ligada ao cartel de Medellin, de Pablo Escobar.
O ponto central da guerra, que matou 260 mil pessoa e deslocou milhões de suas casas, teve um desfecho em 2016, quando o governo fechou um acordo de paz com as (Farc). O último grande atentado no país havia ocorrido em janeiro de 2018, na cidade de Barranquilla, no norte do país, matando cinco policiais. O ELN foi o responsável.
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