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Heróis gauleses fazem 50

29 de outubro de 2009

As aventuras dos anti-heróis gauleses têm fascinado gerações e ocupado até mesmo cientistas políticos. "Asterix e os godos" é uma importante contribuição para o estudo das relações franco-alemãs no início de 1960.

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Albert Uderzo mantém a tradição dos anti-heróis gaulesesFoto: picture-alliance/dpa

Em 1959, o milagre econômico dominava a Europa. Os heróis protagonizavam histórias de amor, salvavam moças e se apaixonavam. Ninguém se interessava por aventuras de romanos ou gauleses. Mesmo assim, em 2009 Asterix celebra 50 anos.

Nascidos em uma noite

Asterix
Coautor René Goscinny em 1971Foto: picture-alliance/dpa

Na realidade, Asterix, Obelix e companhia não eram para existir. O plano original era criar uma série de histórias em quadrinhos sobre o clássico Le roman de Renard para o lançamento da revista francesa Pilote.

Os cartunistas encarregados de adaptar as aventuras da ladina raposa medieval eram René Goscinny e Albert Uderzo. Porém, após escrever e desenhar a primeira página, descobriram que outro autor de HQ já se ocupava do mesmo material. E, pressionados pelo tempo, criaram os anti-heróis Asterix e Obelix em uma noite.

Assim nascia um sucesso internacional e uma mina de ouro para seus criadores: 50 anos depois, os quadrinhos já venderam 300 milhões de exemplares, foram lançados 12 filmes baseados neles. As aventuras dos gauleses já foram traduzidas em 100 idiomas, na Alemanha também nos dialetos bávaro, saxônio e suábio.

Tipicamente francês

As personagens de Goscinny e Uderzo são também a alegria de historiadores e filólogos. Docentes de grego antigo e latim usam os diálogos nos balões para explicar conjugações e declinações. Já se publicou literatura científica de acompanhamento sobre Asterix, e até mesmo cientistas políticos têm se ocupado de suas aventuras.

Uma chave desse sucesso é o fato de a publicação apresentar uma imagem oposta ao mundo dos heróis dos filmes e quadrinhos estadunidenses, "algo tipicamente francês", como explica Uderzo. E assim, os gauleses tomaram o lugar dos índios.

"Eu queria um anti-herói, um baixinho", lembrou Goscinny certa vez, numa entrevista. "A ideia era Asterix ser um nanico, tão perceptível quanto um sinal de pontuação. Para mim era importante que fosse uma figura engraçada por si."

Além disso, os protagonistas têm humor e senso de observação, são rebeldes simpáticos e justos, cujas histórias já se tornaram parte do patrimônio educativo. Asterix é adorado tanto pelos escolares e crianças quanto por pais e professores: ele une as gerações.

Asterix e os bárbaros

Asterix
Panoramix discute em saxônio na versão alemãFoto: picture-alliance/dpa

O tema das relações franco-alemãs foi abordado no terceiro número da "série clássica", Asterix e os godos, de 1963. Esse está longe dos simpáticos e levemente provocadores clichês humorísticos das outras aventuras. Os alemães são bárbaros, são líderes e carrascos com obsessão militar. E nesse número, Asterix não ajuda a ninguém.

Isso reflete as experiências pessoais dos autores. O politólogo Alfred Grosser, um dos mais destacados teóricos da reconciliação franco-alemã, chega a classificar esse número como uma importante obra política, por retratar o estado das relações binacionais no início da década de 1960.

Mas a primeira fase do lançamento de Asterix na Alemanha tampouco foi fácil. Em 1965, Rolf Kauka, editor das história com os personagens Fix e Foxi, comprou os direitos de publicação. Porém, ao invés de deixar as figuras em sua ambientação original, ele as germanizou. Asterix virou Siggi, Obelix tornou-se Barbarras. Numa tentativa de refletir a situação política então atual, os gauleses foram transformados em germanos ocidentais, os romanos viraram norte-americanos mascadores de chiclete. A graça se perdeu, o lançamento estava fadado ao fracasso.

Porém Goscinny e Uderzo salvaram sua criação, retirando os direitos concedidos a Kauka. Nove anos após a primeira edição francesa, era lançada uma tradução adequada na Alemanha: Asterix der Gallier. Os alemães, que até então não eram grandes apreciadores de HQ, tornaram-se fãs ardorosos.

A força do mais magro

Em 1977, soou a hora mais triste na história de Asterix e Obelix. René Goscinny foi ao médico para exames de coração e circulação sanguínea. Durante o teste de esforço, ele morreu diante dos olhos dos médicos. Uderzo teve que continuar a obra sozinho.

No início, em 1959, os dois assumiam ambas as funções, tanto de desenhista como de autor. Mas logo optaram por uma divisão: Goscinny assumiu os textos, e Uderzo passou a se encarregar do traço. Mas depois da morte de seu parceiro, ele voltou a exercer as duas atividades.

Asterix und Obelix Flash-Galerie
De carne e osso: Chatotorix (Franck Dubosc), Obelix (Gérard Depardieu) e Asterix (Clovis Cornillac)Foto: DPA

Desde então, os críticos apontam uma queda de qualidade nas histórias. Além disso, há as brigas entre o autor e sua filha, que originalmente deveria levar o trabalho adiante. Querelas com as editoras também afetam o rendimento de Albert Uderzo. As últimas duas edições acumulam poeira nas prateleiras das livrarias.

Ainda assim, mesmo 50 anos depois, a popularidade de Asterix e Obelix é indiscutível. O cientista políticoAlfred Grosser disse certa vez: "Na França impera uma hostilidade contra o esporte profundamente arraigada. Sabido é quem é magrinho, burro quem é forte". O par de anti-heróis confirma essa observação: o que o brutamontes Obelix não consegue, o nanico Asterix alcança pelos meios da esperteza. O segredo do sucesso não é o mainstream – é ser diferente.

Autor: Carol Lupu (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer