1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
SaúdeÍndia

As lições deixadas pela segunda onda de covid-19 na Índia

Murali Krishnan
17 de junho de 2021

Com surgimento de novas variantes, flexibilização de restrições e lenta campanha de vacinação, especialistas temem uma devastadora terceira onda de infecções. País ainda enfrenta grave escassez de suprimentos médicos.

https://p.dw.com/p/3v73a
Pessoas carregam doentes com covid-19
No pico da segunda onda, a Índia chegou a registrar mais de 400 mil novos casos por diaFoto: Tauseef Mustafa/AFP

Apesar da diminuição no número de novos casos de covid-19 e da flexibilização das restrições na Índia, especialistas alertam que o país ainda tem um longo caminho a percorrer para prevenir a disseminação do coronavírus com eficácia.

Em resposta à devastação registrada em abril e maio, muitos estados começaram a expandir sua infraestrutura de saúde para garantir a disponibilidade de equipamentos essenciais, medicamentos e leitos de UTI.

No auge da segunda onda, em abril e no início de maio, o número diário de novos casos frequentemente ultrapassou 400 mil. Nesta quarta-feira (16/06), no entanto, a Índia registrou apenas 62.200 novos casos, marcando uma queda acentuada em relação aos números de maio.

Ainda assim, muitos alertam que uma nova onda pode estar a caminho, diante de uma campanha de vacinação que custa a deslanchar e a disseminação de novas variantes. A Índia está lutando contra uma escassez aguda de oxigênio e medicamentos que salvam vidas, enquanto pacientes não conseguem um leito, e muitos morreram fora dos hospitais por falta de tratamento.

Proteção para crianças

O chefe de governo de Nova Déli, Arvind Kejriwal, anunciou a criação de uma força-tarefa pediátrica e dois laboratórios de sequenciamento de genoma, assim como de um plano para aumentar a capacidade de oxigênio no território da capital nacional. A região foi uma das mais atingidas pela segunda onda.

Devido ao fato de as crianças virem a ser mais vulneráveis ​​a uma potencial terceira onda, o estado ocidental de Maharashtra planeja aumentar o número de leitos pediátricos para covid-19 para quase 2.300, ante o número atual de 600.

Fila para vacinação na Índia
Fila para vacinação em Calcutá: campanha ainda é considerada lenta no paísFoto: Debajyoti Chakraborty/NurPhoto/picture alliance

A capital financeira, Mumbai, que ganhou elogios pela gestão da segunda onda, já está adquirindo respiradores, monitores e outros equipamentos médicos. "Estamos totalmente equipados. Temos quatro centros de atendimento de covid-19 com unidades pediátricas, que poderão abrigar mais de mil crianças", disse o comissário municipal de Mumbai, Iqbal Singh Chahal, à DW.

Da mesma forma, o estado de Jharkhand, no leste do país, revelou um plano que inclui a instalação de 20 leitos de UTI pediátrica em cada distrito e a conversão de todos os centros de tratamento de desnutrição em unidades destinadas a fornecer um nível de cuidado mais intensivo do que enfermarias normais. O plano também identifica lacunas em recursos essenciais e necessidade de medicamentos entre grupos de idade pediátrica.

"Acho que estamos melhor preparados para lidar com a terceira onda. Pode haver gargalos, mas hospitais e autoridades governamentais tomaram medidas preventivas", diz Priscilla Rupali, especialista em doenças infecciosas do Christian Medical College.

Vacinação lenta

Os virologistas e cientistas acreditam que a chave para impedir uma terceira onda é vacinar os vulneráveis, juntamente com a obtenção de dados confiáveis ​​sobre o sequenciamento do genoma das variantes do coronavírus em circulação.

"O lento progresso da vacinação é um problema. Isso favorecerá o desenvolvimento de mais variantes, e também a terceira onda pode nos atingir mais cedo do que o resto do mundo desenvolvido, porque ainda haverá um grande número de indivíduos suscetíveis", acredita Vineeta Bal, cientista do Instituto Nacional de Imunologia.

Corpos de vítimas de covid-19 flutuam no rio Ganges

"Não são apenas as crianças que serão suscetíveis na próxima onda porque não receberão a vacina, mas também as pessoas de outras faixas etárias e mulheres grávidas", diz Bal.

Embora a Índia tenha estabelecido uma meta ambiciosa de fabricar mais de 2 bilhões de doses de vacinas contra covid-19 até dezembro, o que seria suficiente para inocular a maior parte da população, a campanha de vacinação foi criticada por se mover em um ritmo lento.

Dados oficiais mostram que apenas 11% da população recebeu pelo menos uma dose, enquanto apenas 3,4% completaram as duas doses necessárias.

"Para vacinar toda a população, são necessários tanto o abastecimento quanto uma equipe treinada", ressalta Bal.

Novas variantes

A segunda onda na Índia também foi impulsionada por uma variante altamente infecciosa, agora comumente conhecida como variante delta. Uma cepa da variante delta agora é classificada como "preocupante" pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, de acordo com a equipe de resposta à covid-19 do Imperial College do Reino Unido, ela também pode contribuir para uma forte terceira onda.

"A segunda onda sobrecarregou o sistema. Precisamos vacinar pelo menos entre 9 e 10 milhões de pessoas todos os dias e conter agressivamente o vírus", diz o epidemiologista Giridhar Babu.

"A gravidade dessa onda não se deve ao fato de o vírus ter se tornado mais letal, mas porque se tornou mais infeccioso e transmissível", explica.

Além disso, um ritmo lento de vacinação permite que novas variantes se desenvolvam e se espalhem.

"A segunda onda nos ensinou lições valiosas, e acho que estamos melhores em termos de suprimento de oxigênio em hospitais distritais e centros de saúde comunitários. Não acho que haja motivo para pânico", avalia Shally Awathi, pneumologista pediatra da King George's Medical University em Lucknow.

A Índia registrou oficialmente quase 120 mil mortes e mais de 9 milhões de infecções somente em maio, um número que os especialistas acreditam ser muito menor do que a realidade. Ao todo, o país soma 30 milhões de casos e mais de 380 mil mortes desde o início da pandemia.