As diferentes fases da imigração alemã no Brasil
10 de maio de 2004O Brasil atraiu apenas 4,5 milhões de emigrantes europeus, de um contingente de 50 milhões que deixaram o Velho Continente do século 19 até a Segunda Guerra (1939-1945). Os demais foram para os Estados Unidos, a Austrália, a Argentina, o Uruguai ou outros destinos.
Os alemães representaram aproximadamente 5% dos imigrantes que buscaram uma nova pátria no Brasil. Ao longo de mais de cem anos, chegaram ao Brasil aproximadamente 250 mil alemães. Atualmente, calcula-se em 5 milhões o número de seus descendentes em solo brasileiro.
O início
O primeiro grupo de imigrantes fixou-se no sul da Bahia em 1818, mas foi em 1824 que chegaram os que formariam a primeira colônia alemã no Rio Grande do Sul, a atual São Leopoldo.
Em 1827, desembarcavam os primeiros alemães no porto de Santos, levados a Santo Amaro. Os grupos seguintes fixaram-se em Itapecerica, São Roque e Embu, ou foram levados para Rio Claro e as plantações de café no interior de São Paulo.
Em 1829, começava a colonização alemã em Santa Catarina, em São Pedro de Alcântara e Mafra e, a seguir, em Rio Negro, no Paraná. Em Curitiba, os imigrantes começam a chegar em maior número em 1833.
Sul atraiu mais imigrantes
O Rio Grande do Sul recebeu a maior parte dos imigrantes alemães, seguido de Santa Catarina. Na década de 1830, 20% da população desses estados já era de origem alemã. No Paraná, em São Paulo e no Espírito Santo a percentagem foi menor, mas igualmente significativa. Minas Gerais e o Rio de Janeiro receberam contingentes quantitativamente menores, embora a presença alemã em cidades como Juiz de Fora e Petrópolis tenha sido marcante.
Enquanto o objetivo da colonização na Região Sul era sedimentar a posse e a manutenção do território através do povoamento, em São Paulo o fundamental era suprir a carência de mão-de-obra nas lavouras de café
Prússia chegou a proibir emigração para o Brasil
O fluxo anual foi pequeno no início da imigração alemã, mas contínuo, chegando ao auge em 1920. Organizada por associações e companhias criadas com o fim explícito de levar emigrantes ao Brasil, a colonização não ocorreu sempre de forma ordenada e conforme as expectativas dos que haviam deixado a Europa em busca de terras e de uma vida melhor. Em 1830, o imperador dom Pedro I vetou qualquer subvenção à entrada de estrangeiros no país.
Entre 1850 e 1871, ano da instituição do Império Alemão, a imigração se intensificou, com algumas interrupções temporárias. Os recém-chegados se estabeleceram nas regiões costeiras de Santa Catarina e no vale do Itajaí, fundando, em 1850/51 a Colônia Dona Francisca, hoje Joinville. Seguiu-se Blumenau, em 1854 e Brusque, em 1860.
A falta de assistência e recursos para alguns grupos de colonos, o não cumprimento de promessas e principalmente denúncias de trabalho escravo de alemães em plantações brasileiras levaram a Prússia e os estados alemães a proibirem, temporariamente, a emigração para o Brasil, em 1859. O Brasil se antecipou à proibição. Por odem do governo imperial do Brasil, cessou por alguns anos a imigração alemã. A última grande leva em meados do século 19, registrou-se em 1856.
O auge da imigração alemã
Grandes ondas migratórias foram registradas em 1870, 1890, e sobretudo entre as duas guerras mundiais. A imigração estrangeira no Brasil atingiu seu auge em 1891, quando ficou registrada a chegada de 215.239 pessoas de várias procedências ao país. Os dados referentes aos alemães são os seguintes, segundo o IBGE:
- 1884-1893: 22.778
- 1894-1903: 6.698
- 1904-1913: 33.859
- 1914-1923: 29.339
- 1924-1933: 61.723
- 1945-1949: 5.188
- 1950-1954: 12.204
- 1955-1959: 4.633
A maioria dos imigrantes alemães, portanto, chegou ao Brasil entre 1920 e 1930. Entre o final da Primeira Guerra, em 1918, e 1933, ano da ascensão de Adolf Hitler ao poder, chegaram ao Brasil em torno de 80 mil alemães que procuravam escapar da instabilidade da República de Weimar.
Décadas de 20 e 30: de acadêmicos a anarquistas
Tais imigrantes constituíram um contingente muito diversificado, como observa o professor René Gertz em seu artigo Influência política alemã no Brasil na década de 30. Havia oficiais do exército, profissionais liberais e acadêmicos, burgueses arruinados, camponeses, artífices e operários urbanos. Como também militantes políticos, tanto de direita como social-democratas, anarquistas e comunistas. Não faltaram professores, comerciantes e até ex-funcionários das antigas colônias alemãs na África.
Na década de 20, o avanço do comunismo motivou a ida para o Brasil de romenos, poloneses e russos de fala alemã. Muitos se estabeleceram no Paraná e no Sul, após uma passagem pelos cafezais paulistas.
Durante a década de 30, deu-se uma significativa expansão do número de empresas alemãs no Brasil, chegando ao país um novo contingente de cidadãos diretamente ligados a essas indústrias. Nessa época viviam no Brasil cerca de 100 mil alemães.
Vítimas do nazismo e seus algozes
Não há dados sobre o número de pessoas que fugiram do regime nazista para o Brasil nas décadas de 30 e 40. Ainda antes da Segunda Guerra começaram a chegar judeus alemães, entre eles vários intelectuais e profissionais liberais. Em 1936, judeus alemães fundavam a Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra), no Rio Grande do Sul.
Por outro lado, o governo Getúlio Vargas restringiu a entrada de estrangeiros, fixando cotas. Mas só houve uma interrupção do movimento imigratório de 1942 a 1952, por causa da Segunda Guerra (1939-1945), quando o Brasil proibiu a entrada de cidadãos dos países do Eixo (Japão, Itália e Alemanha).
Após a derrota e com o país reduzido a escombros, continuou a emigração alemã. Obviamente não há dados sobre a fuga de nazistas e pessoas comprometidas com o regime de Hitler para o Brasil. Mas sabe-se que a América do Sul, principalmente a Argentina, serviu de refúgio a muitos criminosos de guerra.
Nazistas no Brasil
Segundo pesquisa do jornalista argentino Jorge Camarasa, o governo argentino acobertou a entrada de nazistas no país, que entraram em massa no país pelo porto de Buenos Aires, entre 1947 e 1952. Camarasa discorda da tese de que o Brasil teria sido "o quartel-general dos nazistas" na América do Sul.
Além de Josef Mengele, que teria se afogado em 1979 em São Paulo, outros quatro criminosos nazistas viveram no Brasil: Gustav Wagner, Franz Stangl, Herbert Cockurs e o capitão da SS Eduard Roschmann. Do grupo, apenas Stangl, comandante dos tenebrosos campos de Treblinka e Sobibor, na Polônia, foi extraditado para a Alemanha, depois de localizado no Brasil, tendo sido condenado à prisão perpétua em 1967.
Um outro vestígio da passagem de nazistas pelo Brasil foi levantado pela Comissão Especial de Apuração de Patrimônios Nazistas no Brasil, que em 1997 havia identificado 14 contas bancárias pertencentes a nazistas que chegaram no Brasil depois de 1945. Os depósitos seriam distribuídos às vítimas do Holocausto residentes no Brasil.
Depois da Segunda Guerra, os fluxos migratórios mudaram radicalmente. A Europa precisava ser reconstruída, para o que necessitava de um tipo de mão-de-obra não qualificada para exercer ocupações que um europeu não estava mais disposto a fazer. Em vez de fornecer imigrantes, a Europa passou a receber imigrantes.
Texto originalmente publicado em 2004