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As deficiências da rede elétrica alemã

Liliane Corrêa/Neusa Soliz10 de novembro de 2003

Apagões ocorridos nos EUA, Suíça e Itália levantaram dúvidas quanto à segurança do sistema alemão de fornecimento elétrico, tido como muito eficaz.

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Blecautes na Alemanha?Foto: AP

Após os apagões nos EUA, na Suíça, Escandinávia e Itália, os alemães se perguntam até que ponto é segura a rede elétrica do país, tida até hoje como confiável.

Especialistas da área, como os engenheiros da VDE (Confederação das Indústrias Eletrotécnicas), apesar de admitirem a necessidade de substituições nas linhas de transmissão, consideram as instalações como seguras, pelo menos a curto prazo.

Outras distâncias

Eles justificam que a rede elétrica na Alemanha tem configurações, design e técnica diferentes das americanas. A eletricidade, por exemplo, não precisa cobrir longas distâncias para chegar a seu destino. Normalmente são de 150 a 300 km, enquanto nos EUA, onde as linhas chegam a medir 1500 km, o perigo do efeito dominó em caso de pane é bem maior.

Industriais do ramo e representantes das grandes empresas de energia, como E.on, Vattenfall, RWE e EnBW, confirmam a confiabilidade da rede. O expert em blecautes Dieter Rumpel, em entrevista à revista Focus, afirmou que o sistema elétrico alemão é o melhor da Europa, possuindo reservas suficientes no caso de panes.

Torres fracas

Um parecer da firma de soluções para o fornecimento de energia SAG, porém, afirma que as torres de alta tensão, datadas dos anos 70, em sua maioria, foram construídas com um tipo de aço muito fraco, usado em grande escala na época, suscetível porém ao humores do clima alemão - neve, tempestades, chuva e gelo.

Torres inteiras desabaram em grande número durante um temporal em 1999 na região de Baden-Württemberg, no sudoeste da Alemanha. O mesmo temporal, porém, não havia arrancado árvores ao lado dos mastros, o que confirma a fraqueza do aço. Basta um dos componentes no meio da torre falhar, e ela despenca.

E um defeito em um único mastro pode levar a um efeito dominó, que nada mais é do que a falha consecutiva de mastros vizinhos. É o que afirma um documento interno da Mainz-Wiesbaden Energia. Isso já teria acontecido várias vezes com empresas do oeste alemão.

Assim, a longo prazo a Alemanha não está livre de seguir o exemplo italiano, se não modernizar sua rede elétrica de acordo com as futuras necessidades de transportar energia por longas distâncias - uma conseqüência da liberalização do mercado - e se não substituir os materiais das envelhecidas torres de alta tensão, que não são poucas.

Liberalização do mercado

Outro fator mercadológico contribui para a debilidade da rede elétrica alemã. Até 1998, a produção e o transporte de energia eram feitos pelas mesmas empresas e concentrados regionalmente em poucas mãos. Os consumidores não tinham outra opção senão dirigir-se ao fornecedor que pertencia à sua região.

Com a liberalização do mercado, os serviços de transporte passam a estar desvinculados da produção, abrindo oportunidades para novos negócios num ambiente mais competitivo. Os consumidores podem agora escolher livremente seus distribuidores de eletricidade simplesmente por critérios de menor preço, serviço e confiabilidade.

Novos problemas surgiram, contudo, desta divisão de trabalho, principalmente no caso de pane: considerando-se que a partir de agora as decisões quanto a produção e transporte são tomadas separadamente, há relativa demora na tomada de medidas corretivas.

As empresas ainda não estão preparadas para enfrentar rapidamente situações difíceis, comenta Dieter Rumpel à Focus, fazendo uma alegoria na forma de um carro dirigido por duas pessoas: uma pessoa para acelerar, e outra para pisar na embreagem. Para Rumpel, o governo alemão não pensou em questões importantes, ao decidir liberalizar o mercado. Esqueceu-se, por exemplo, que é preciso considerar as possibilidades técnicas, e não apenas os aspectos comerciais.

Segundo explica, o benefício aos consumidores é bem limitado, pois as novas concorrentes só conseguem utilizar, no melhor dos casos, de 20 a 30% do total das linhas de transmissão.

Num contexto de alimentação descentralizada do sistema e da necessidade de transporte de eletricidade por longas distâncias, será necessária portanto a implantação de complexas construções de rede no futuro.