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'So Sorry'

12 de outubro de 2009

Ai Weiwei é considerado o principal artista chinês da atualidade. Nesta semana, foi aberta em Munique sua esperada mostra "So Sorry", em que denuncia o vazio de significado dos pedidos de desculpa de governos e empresas.

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Weiwei pintou vasos neolíticos com tinta industrialFoto: DW

Na última documenta, Ai Weiwei levou 1.001 chineses a Kassel através do projeto Conto de Fadas. Os chineses fizeram parte da exposição e suas vivências, parte da arte. Foi o maior projeto já realizado para a documenta de Kassel.

Em sua nova exposição So Sorry (sinto muito), aberta ao público nesta segunda-feira (12/10) em Munique, Weiwei faz alusão a milhares de pedidos de desculpas apresentados por governos e empresas a fim de expressar seu pesar por tragédias e erros cometidos, sem a preocupação de admiti-los ou repará-los, explica o blog que acompanha a exposição.

Pedidos de desculpas estão nas manchetes de todos os lugares, inclusive da China, comenta o blog. No entanto, a expressão "desculpa" passou a ter um sentido de "estou pouco me lixando", sinalizando que já é tarde demais para reparar um erro. Será preciso desenvolver uma nova "cultura da desculpa" para expressar nosso pesar, questionam os organizadores da mostra.

Três anos se passaram desde o surgimento da ideia até a realização da exposição. "Nós temos que deixar um comentário sobre as coisas ruins no nosso mundo, senão nos tornamos parte delas", afirmou Weiwei na última sexta-feira. So Sorry poderá ser visitada até 17 de janeiro próximo no museu Haus der Kunst em Munique.

Recontextualizando objetos

Ai Wei Wei Chinesische Schriftzeichen aus Rucksäcken
Mochilas lembram mortos em terremotoFoto: picture-alliance/dpa

Na produção de suas obras, Weiwei frequentemente se apropria de objetos – antiguidades chinesas, por exemplo, árvores ancestrais, raízes ou artefatos espirituais – para então modificá-los.

Também em So Sorry diversos trabalhos explicitam a ideia de Ai Weiwei de destruir ou modificar o uso de antiguidades preciosas, recolocando-as em um contexto totalmente novo. Weiwei imergiu simplesmente cinco vasos neolíticos, produzidos entre 3000 a.C. e 5000 a.C, em tinta industrial para dar-lhes um visual de linha de produção. da mesma forma, destruiu urnas da Dinastia Han (cerca de 200 a.C-200 d.C), jogando-as sobre o calçamento de pedra.

Piso suave

Ai Weiwei So sorry
Instalações 'Soft Ground' e 'Rooted Upon' em MuniqueFoto: picture-alliance/dpa

Além de conhecidos trabalhos que empregam diversas mídias, a exposição em Munique traz duas novas obras que Weiwei realizou exclusivamente para a Haus der Kunst. O tapete Soft Ground (piso suave) cobre 380 metros quadrados do espaço de exposição.

O padrão do tapete de lã reproduz fielmente as 989 pedras do piso original, sobre o qual o tapete foi posicionado – incluindo os traços deixados por 70 anos de exposições. Cada pedra foi fotografa e sua posição, registrada. O tapete foi tecido a mão na província chinesa de Hebei.

Sobre o tapete, Weiwei posicionou sua gigante instalação de troncos de árvores Rooted upon (enraizados acima), que o artista realizou recentemente.

Dando nome às vítimas

Chinesischer Künstler Ai Weiwei im Krankenhaus in München
Weiwei foi operado em Munique após ser agredido pela polícia na ChinaFoto: picture alliance/dpa

Em Remembering (lembrando), outra instalação produzida especialmente para a exposição em Munique, 9 mil mochilas escolares em cinco diferentes cores foram penduradas na fachada do prédio da exposição em memória às vítimas do terremoto que abalou a província chinesa de Sichuan em 2008.

Os caracteres chineses resultantes da distribuição das mochilas na superfície de 100 x 10 metros da fachada formam a frase com a qual a mãe de uma das vítimas relembrou sua filha: "Durante sete anos, ela viveu feliz nesse mundo".

Com a ajuda de uma equipe de voluntários e contra a resistência do governo chinês, Ai Weiwei pesquisou os nomes das vítimas, entre elas 5 mil crianças em idade escolar, e os publicou em seu blog, que já foi bloqueado diversas vezes.

Autor: Carlos Albuquerque

Revisão: Rodrigo Rimon