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Filiais decoradas

Kate Bowen / Jennifer Abramsohn (rr) 2 de maio de 2008

A Deutsche Bank Art é dona de um dos maiores acervos corporativos do mundo. Segundo seu diretor, colecionar arte é, mais que uma aplicação financeira, um investimento em seus funcionários e na sociedade em geral.

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Arte é 'janela para a sociedade' no dia-a-diaFoto: Picture-Alliance /dpa

Dono de mais de 53 mil obras, o Deutsche Bank reuniu um dos maiores acervos corporativos de arte do mundo. Seu programa "Art at Work" teve início em 1979. DW-WORD.DE falou com Friedhelm Huette, presidente da Deutsche Bank Art, sobre os critérios de aquisição de obras e a importância de expor arte contemporânea em paredes de escritórios.

DW-WORLD.DE: Como vocês decidem que obras serão adicionadas ao acervo artístico do banco?

Friedhelm Hütte, Kurator Deutsche Bank
Friedhelm Hütte: 'arte é investimento em funcionários'Foto: Katrin Denkewitz

Friedhelm Huette: Desde que começamos a colecionar arte, tínhamos critérios claros para decidir o que comprar. O primeiro deles é incentivar jovens talentos. Jovem siginifica que o artista já teve uma exposição ou duas ou três mostras em galerias, ou seja, artistas que já obtiveram algum progresso na cena artística e desenvolveram uma posição própria.

Outro critério é fazer descobertas. Acontece de haver artistas que já estão ativos na cena artística por um longo tempo, mas que não são conhecidos ou precisam ser redescobertos. Um exemplo: recentemente, durante a Art Cologne, compramos obras em papel de Tony Conrad. Sâo peças dos anos 70 que permanecem completamente desconhecidas, pois estavam escondidas em uma gaveta desde então e estavam sendo expostas pela primeira vez. Este também é um tipo de descoberta.

Adquirimos muitas obras em papel – desenhos, aquarelas, fotografias, colagens. Isso nos limita de certa forma. Mas nosso foco é internacional. Buscamos na Índia, na Ucrânia, no Brasil – o espectro é amplo. Para isso, nos informamos em feiras de arte, lemos publicações específicas, visitamos estúdios, estudamos catálogos e assim por diante. Assim podemos ter uma idéia de que artistas avaliar. Mas também estamos abertos a surpresas.

Há uma preferência por artistas jovens ou pelos mais estabelecidos?

Noventa por cento de nossas obras são de artistas jovens.

De que ordem é o orçamento da instituição?

Não divulgamos nosso orçamento para a aquisição de obras. Mas posso assegurar que o orçamento mundial do Deutsche Bank para a arte – não só para a compra, isso daria uma impressão errada, mas para todas as atividades relacionadas, como exposições, parcerias, pessoal etc. – chega a 20 milhões de euros. As obras que compramos geralmente custam entre 500 euros e 10 mil euros cada.

Acervos corporativos são famosos por evitar temas controversos, como sexo, religião ou violência. O Deutsche Bank se preocupa em evitar controvérsias?

Tópicos comos esses não precisam ser completamente evitados. É importante ter em mente que nosso acervo não é guardado em gavetas, nem apresentado em exposições. Ele aparece em nosso ambiente de trabalho, este é o nosso conceito. Trata-se de uma diretriz fundamental. Quase 80 mil pessoas trabalham nestes espaços, e a arte deveria ser inspiradora e sofisticada. Não queremos magoar ninguém.

Não podemos permitir, por exemplo, que um funcionário do sexo feminino trabalhe ao lado de um nu artítsico de muito bom gosto e visitantes do sexo masculino lhe perguntem cinco vezes por dia se a obra é um retrato dela.

Além disso, coisas que são perfeitamente aceitáveis na cultura européia podem não ser apropriadas em outras partes do mundo. Há diferenças enormes mesmo entre a Europa e os Estados Unidos: o que uns consideram inofensivo poderia ser visto como politicamente incorreto noutro lugar.

Você poderia dar um exemplo?

Miwa Yanagi, uma artista japonesa, fez uma série de fotografias com garotas ascensoristas. Ela multiplicou as meninas, que estavam sentadas no chão. Todas completamente vestidas. Mas as obras não puderam ser exibidas em Tóquio, porque nossos funcionários se sentiram incomodados. Na Europa, as imagens não causaram incômodo algum.

Em 30 anos de coleção, sempre dissemos que tópicos sexualmente explícitos não são apropriados para o ambiente de trabalho. Poderíamos até adquirir tais obras e exibi-las em mostras por serem artisticamente importantes. Mas isso sempre será uma exceção, pois a idéia é comprar obras de arte para pendurar em escritórios e salas de conferência. Isso é muito diferente de um museu. Visitar um museu é uma decisão voluntária, mas quando as pessoas vão trabalhar, estas obras estarão lá, queiram elas ou não.

Immendorff Ausstellung in der Städtischen Galerie Karlsruhe
Pinturas de Immendorff abordam passado alemãoFoto: picture-alliance/ dpa

Queremos que as peças tenham uma influência positiva sobre as pessoas e que as façam pensar. Temas políticos e sociais estão presentes, por exemplo, através de obras do [pintor alemão Jörg] Immendorff ou do [artista sul-africano William] Kentridge, que lidam com o passado alemão. Mas fazer as pessoas se sentirem pessoalmente desconfortáveis não pode ser o objetivo de um conceito criado para tornar a arte contemporânea acessível no ambiente de trabalho.

Mas o número de obras que não podem nem ser cogitadas é relativamente pequeno.

O que os funcionários do Deutsche Bank ganham com as obras expostas?

Duas coisas. Em primeiro lugar, eles desenvolvem um interesse pela arte contemporânea. Não os deixamos na mão e oferecemos diversas oportunidades para que aprendam mais, através de bibliotecas, textos sobre as obras, visitas guiadas ou passeios a museus onde podem visualizar mais obras dos mesmos artistas.

Em segundo lugar, como já mencionei antes, tematizamos assim certos assuntos. Acreditamos que colecionar e exibir arte contemporânea é especialmente importante numa empresa como a nossa, que lida com pessoas. Temos que responder às mais diversas situações, reconhecer e desenvolver novas idéias, e a arte contemporânea oferece uma oportunidade única de interagir com o presente – também através da capacidade de antecipação e do potencial de provocação desses artistas e da própria arte contemporânea. Assim surgem idéias voltadas para o futuro.

A arte contemporânea oferece uma janela especial para a sociedade, o que as pessoas nem sempre percebem quando estão encapsuladas em sua vida cotidiana.

E funciona?

Deutschland Wirtschaft Deutsche Bank gibt Iran Geschäfte auf
Deutsche Bank: filiais do mundo todo participam do programaFoto: AP

Muito bem. O programa é um sucesso. Filiais no mundo todo participam voluntariamente. Quando uma filial manifesta interesse em participar do programa artístico, desenvolvemos um conceito para ela. As que não quiserem podem pendurar pôsteres nas paredes. Não é uma obrigação. Mas o interesse é enorme, assim como é enorme o interesse dos funcionários em nossos programas informativos sobre arte.

Até que ponto pode-se dizer que o programa é um investimento financeiro e até onde ele representa um comprometimento profundo com a arte?

Estamos fazendo um investimento em nossos funcionários ao oferecer-lhes algo muito especial, tanto para o ambiente visual de trabalho quanto para o intelectual.

Então não tem a ver com o valor monetário da arte?

Não, nem um pouco. Investimos em nossos empregados e na sociedade ao incentivar artistas jovens e promissores. Há um risco envolvido, pois não há garantia de que esses artistas obterão sucesso. Mas estamos convencidos de que tudo o que eles põem em papel é um statement artístico interessante e que vale a pena ressaltar, não importa se ele tornará o artista famoso ou não.