Prostitutas na Alemanha preparam volta ao trabalho
11 de setembro de 2020Pelo menos Stephanie Klee não perdeu o senso de humor. Quando questionada sobre sua idade, a prostituta responde com uma risada: "Não, não vou dizer. O senhor sabe: todas as putas mentem." A verdade é que ela tem 58 anos. Como fundadora e integrante do conselho de direção da Associação Alemã de Serviços Sexuais, ela é uma das vozes das profissionais do sexo na Alemanha. "O setor político nos tratou mal nos tempos de coronavírus. Nos ignoraram deliberadamente. Ninguém se interessa pelo que ocorre conosco, as prostitutas! Somos pelo menos tão indispensáveis quanto os cabeleireiros."
Mas um tribunal de Münster derrubou a proibição dos serviços sexuais no estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália, e as prostitutas podem voltar a trabalhar na maioria dos estados alemães. "Muitas não sabiam como encher a geladeira no dia seguinte, não tinham economias e tiveram que pedir dinheiro emprestado", diz, acrescentando que as mulheres vindas do Leste Europeu são as que estão enfrentando mais dificuldades. "Algumas delas pagaram impostos aqui e agora não estão recebendo sequer a segurança básica porque estão agora no exterior."
Se houvesse uma lista dos maiores perdedores na crise de coronavírus na Alemanha, as prostitutas estariam entre eles. Em 16 de março, todos os estados alemães impuseram uma proibição a todas as áreas de trabalho sexual. Bordéis, distritos da luz vermelha, casas de massagem tiveram que parar de um dia para o outro. Oficialmente. Enquanto muitas mulheres do Leste Europeu deixam o maior bordel da Europa, o Pascha, em Colônia, rumo à sua terra natal, outras prostitutas continuam a trabalhar pela internet, ilegalmente e muitas vezes sem proteção.
Pois o comércio mais antigo do mundo não pode ser simplesmente ser banido. Quando Klee se encontrou com suas colegas no bordel há algumas semanas para discutir como o negócio do sexo poderia prosseguir em tempos de covid-19, o telefone continuava tocando intermitente, constantemente clientes batiam à porta. "Os homens tentam continuamente manter contato, mesmo que apenas para conversar um pouco", lembra Klee.
O setor está ameaçado de ter o mesmo destino de muitos bares e restaurantes, e não apenas o Pascha está à beira da falência. "Muitas empresas não vão sobreviver desta vez, porque as dívidas são muito altas, e certamente nem todos os clientes vão voltar", teme Stephanie Klee. Como deve ser o negócio do sexo no futuro, com covid, distanciamento e exigência de máscara? "Teremos que ser mais criativas e lembrar de práticas sexuais que esquecemos um pouco. Menos mecânicas", diz Klee com um sorriso.
Proibição inútil
Muitos podem lutar para que o ofício ganhe mais reconhecimento, como Stephanie Klee, outros podem condená-lo e tentar proibi-lo. Mas há que veja a prostituição mais pragmaticamente, como Anne Rossenbach. "As proibições não ajudam ninguém, A pandemia mostrou isso. A prostituição continua. E agora as prostitutas podem ganhar seu próprio dinheiro novamente e voltar à legalidade", diz.
Rossenbach trabalha no serviço social da Caritas, entidade humanitária da Igreja Católica, em Colônia, e deu consulta de aconselhamento nesses meses de pandemia a mais prostitutas do que normalmente durante todo o ano. Ela faz ligações para lugares como a Romênia, organiza pacotes de mantimentos e ajuda as prostitutas a preencherem formulários para pedir ajuda social.
Ela tem orgulho do projeto de sucesso em que trabalha em Colônia, que já foi copiado por várias cidades: um distrito da luz vermelha legalizado, com banheiros, chuveiros e máquinas de venda automática, apoiado pela prefeitura há 20 anos, com a presença do serviço social. "E nós, da Caritas, estamos à disposição das mulheres 365 dias por ano. Em todos esses anos, quase não registramos violência."
Até porque o conceito de segurança funciona no local. Embora o motorista não possa abrir a porta nas cabines para visita íntima, as mulheres do lado do passageiro podem. Se realmente houver violência, elas podem disparar um alarme. "O mais importante é que existem organizações de ajuda em todo o país, que informam as pessoas sobre doenças sexuais e também ajudam as pessoas a saírem da prostituição, se elas quiserem", diz Rossenbach.
Ela conta que durante anos o governo alemão tentou convencer prostitutas a se tornarem enfermeiras e cuidadoras. Mas Anne Rossenbach prefere olhar os currículos: será que existe um curso universitário interrompido ou um estágio que poderia ser retomado? As prostitutas só largam esse trabalho quando têm perspectiva de vida melhor. Rahab+ é o nome do programa para ajudar prostitutas a deixaram esse ofício, promovido há algum tempo pela Caritas."Seria preciso combater a pobreza na Romênia e na Bulgária para acabar com a prostituição", diz Rossenbach. "E aqui na Alemanha, as autoridades de saúde deveriam contratar pessoas para lidar não somente com supervisão das escolas e cadeias de infecção, mas também cuidar adequadamente das prostitutas", opina.