Ao lado de Scholz, Lula promete concluir acordo UE-Mercosul
31 de janeiro de 2023O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, foi recebido nesta segunda-feira (30/01) em Brasília pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O líder alemão foi o primeiro chefe de governo ocidental a visitar o país desde os atos golpistas ocorridos no início do mês.
Os dois líderes discutiram uma série de questões envolvendo colaborações em áreas como meio ambiente, defesa da democracia, além da retomada das negociações para o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. Lula, inclusive, chegou a afirmar que o acordo deve ser fechado até o final do primeiro semestre.
Em conferência de imprensa após a reunião com Lula, Scholz se disse "emocionado por estar aqui em Brasília hoje", semanas após os ataques de 8 de janeiro.
"As imagens da invasão ao Congresso, ao Supremo Tribunal Federal e ao Palácio do Planalto ainda estão muito presentes na minha memória e nos deixam profundamente consternados", afirmou. Ele expressou "total solidariedade" da Alemanha para com o Brasil. "A democracia brasileira é forte e conseguiu resistir."
Scholz disse que ambos os países têm várias agendas em comum em questões como as mudanças climáticas, defesa das florestas tropicais, produção de energias renováveis, além da garantia dos avanços no acordo UE-Mercosul.
O chanceler também disse que o compromisso de Lula em proteger a Amazônia é "uma boa notícia para todos nós", e ressaltou que o Brasil "tem papel fundamental em liderar a transição para as energias verdes".
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada neste domingo, a ministra alemã da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento, Svenja Schulze, afirmou que Berlim planeja doar 200 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) ao governo brasileiro para a proteção da Floresta Amazônica e de povos indígenas e o enfrentamento das mudanças climáticas.
Acordo UE-Mercosul
Scholz também pregou avanços nas negociações do acordo UE-Mercosul. "Lula e eu concordamos que o acordo é importante para ambas as regiões e desejamos avanços nessa questão".
"Estamos muito felizes por o Brasil estar de volta à cena mundial. Vocês fizeram falta, Lula", concluiu o chefe de governo alemão.
Lula foi categórico ao afirmar que o acordo UE-Mercosul deve ser finalizado nos próximos meses. "Vamos fechar esse acordo até o final do semestre", afirmou.
"Temos muita coisa pela frente, e não apenas esse acordo", disse o petista. O presidente reforçou a intenção do Brasil se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Ele disse que é necessário "dizer às Nações Unidas que a realidade geopolítica hoje não é mais a de quando ela foi criada", após a Segunda Guerra Mundial.
Diferenças sobre a guerra na Ucrânia
Apesar de expressarem concordância em uma série de temas, os dois líderes defenderam posições diferentes no que diz respeito à guerra na Ucrânia.
Lula negou um pedido feito pela Alemanha para que o Brasil enviasse armamentos para ajudar as tropas ucranianas a combaterem os invasores russos.
"O Brasil não tem interesse em passar as munições para que elas sejam utilizadas na guerra entre Ucrânia e Rússia. O Brasil é um país de paz, o último contencioso nosso foi a guerra do Paraguai. E, portanto, o Brasil não quer ter qualquer participação, mesmo que indireta", disse o presidente.
Lula aproveitou a ocasião para fazer uma retratação de uma declaração sua em uma entrevista à revista americana Time sobre o conflito na Ucrânia e disse que a Rússia estava errada ao invadir o país vizinho.
"Naquela época eu disse uma coisa que eu ouvi a vida inteira. Quando um não quer, dois não brigam. Até aquele momento, quem não vive na região não entendia muito bem por que aquela guerra estava existindo", declarou.
"Hoje eu tenho mais clareza da razão da guerra; e eu acho que a Rússia cometeu o erro clássico de invadir o território de outro país; portanto, a Rússia está errada."
Lula disse que Kiev e Moscou deveriam voltar à mesa de negociações, criticando o fato de que se ouve muito pouco falar sobre as discussões em torno de um acordo de paz.
Scholz, por sua vez, disse que a Rússia deve primeiro tirar suas tropas do território ucraniano para que essas negociações possam ocorrer.
Última etapa da viagem de Scholz
A visita de Scholz a Brasília marcou a última etapa do giro do chanceler federal pela América do Sul, após passar por Argentina e Chile. Um dos principais objetivos da viagem é reforçar parcerias para o fornecimento de matérias-primas e fontes de energia.
A Alemanha tenta diminuir a dependência energética em relação à China, principalmente no que diz respeito às importações de lítio, matéria-prima bastante requisitada por sua utilização na produção de baterias para carros elétricos.
Cerca de 57% dos depósitos de lítio do mundo estão localizados no triângulo formado por Chile, Argentina e Bolívia.
rc (AFP, Reuters, ots)