Antonio Candido e a Alemanha
7 de fevereiro de 2003A palestra, proferida no Instituto Latino-Americano da Universidade Livre de Berlim pelo professor Leopoldo Waizbort, titular da cadeira de Sociologia na Universidade de São Paulo, foi a primeira a enfocar as pesquisas literárias de Antonio Candido neste contexto na Alemanha.
Depois da informação de que Antonio Candido, quando criança, já teve a oportunidade de estar na Alemanha, acompanhando o pai, que era médico e costumava realizar neste país pesquisas sobre o tratamento de doenças em estâncias termais, Waizbort lembrou que "a obra de teoria literária e literatura comparada de Antonio Candido é, em muitos aspectos, fruto de um diálogo rico e constante com as idéias de autores alemães que trabalharam neste campo de estudo".
Cruzamentos
O professor citou particularmente os nomes de Erich Auerbach, filólogo e teórico da literatura alemão, nascido em Berlim 1892, que, com sua obra Mimesis (l946), em muito motivou as pesquisas literárias de Antonio Candido. Outro nome citado foi o do filósofo e literato húngaro, Georg Lukács, que escrevia em alemão e viveu em Berlim de l930 a l935.
Para destacar os pontos de correlação e inter-relação existentes entre os trabalhos de Antonio Candido e de Auerbach, Weizbort citou o livro Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos, que Candido publicou em l959, onde "se percebe claramente a identidade que existe entre os dois autores no que se refere à técnica de se escrever história literária e também aos problemas referentes ao realismo literário". E, complementando, o sociólogo brasileiro frisou: "nos livros Estadia, lançado nos anos 60, e Discurso e a Cidade (1993), Antonio Candido, como num verdadeiro coroamento, tem uma discussão profícua com as teses de teoria literária de Erich Auerbach e também de Georg Lukács".
Outros pensadores alemães citados por terem exercido influência sobre Antonio Candido foram Wolfgang Kayser (Manual de Introdução aos Estudos Literários), os filósofos Hegel e Herder, bem como os filólogos e literatos Ernst Robert Curtius (A Literatura Européia e a Idade Média Latina, 1961), Werner Krauss (Problemas Básicos das Ciências Literárias, 1968) e ainda Hans-Jörg Neuschäfer (Sermo humilis). "Trata-de se autores que, até hoje, continuam fazendo parte de debates e discussões sobre teoria literária no Brasil."
Mão única
O professor Leopoldo Waizbort, depois de ressaltar o papel pioneiro de Candido como pesquisador e professor que "fez escola no campo da literatura comparada e da teoria literária", lamentou o que chama de mão única nestes estudos e diálogos: "São os brasileiros, como Antonio Candido o fez, que ainda buscam o diálogo com os literatos alemães, mas já há material suficiente, e está na hora de os alemães também buscarem o diálogo com os pensadores brasileiros no campo da literatura comparada e da teoria da literatura".