Andreas Dresen: mestre da ironia
1 de dezembro de 2005Em 2002, seria a vez de Entre Casais chegar às telas – talvez o trabalho de Dresen mais elogiado pela crítica e de maior repercussão internacional. Logo depois, o cineasta voltaria suas lentes irônicas para as peripécias de um candidato às eleições regionais no Estado de Brandemburgo, no documentário Herr Wichmann, von der CDU (Senhor Wichmann, da CDU).
"Pessoas simples"
A peculiaridade dos filmes de Andreas Dresen está em seu interesse pelo quotidiano e pela vida das "pessoas simples". Uma tendência que pode ser percebida com intensidade em Entre Casais, a história de quatro amigos e o relacionamento iniciado entre dois deles.
A idéia do roteiro surgiu a partir de um trabalho conjunto entre o diretor e seus quatro protagonistas, num apartamento de um conjunto habitacional na cidade de Frankfurt do Oder, no Leste alemão. Um encontro a partir do qual foi se desenrolando um diálogo autêntico e irônico entre as personagens, servindo, dessa forma, de espelho para a realidade do país.
Passado da ex-Alemanha Oriental
O que caracteriza a trajetória de Andreas Dresen como cineasta é também sua flexibilidade, ao trabalhar não apenas com cinema, mas também para o teatro, a TV (já rodou dezenas de documentários) e até mesmo na encenação de uma ópera. Uma constante em sua biografia cinematográfica é, porém, a reflexão sobre a Alemanha pós-reunificação.
Depois de Entre Casais, Dresen explicita em Senhor Wichmann, da CDU a falta de esperanças e utopias entre os habitantes da ex-Alemanha Oriental. Suas "acusações" não se voltam, porém, apenas para a classe política. Muito pelo contrário, Dresen não deixa de incluir em seu rol de "culpados" ele próprio e o espectador.
Sem mascarar a realidade
Mais de uma década e meia após a reunificação alemã, o cineasta continua mostrando sua insatisfação com as vozes que tentam mascarar a realidade, afirmando que tudo "está resolvido". Principalmente, como diz o próprio, em momentos em "que tudo explode".
Também usando uma cidade da ex-Alemanha Oriental como cenário, Dresen rodou Willenbrock, um filme sobre as desventuras de um revendedor de carros, que após ser vítima de um assalto passa por mudanças radicais em sua vida profissional e privada.
A escolha das locações de Willenbrock tem seus motivos, explica o cineasta: "Em primeiro lugar, essa é a região de onde venho. Um sábio disse certa vez que terra natal é onde as lembranças se sentem em casa. Pois as minhas estão em casa na ex-Alemanha Oriental até 1989. E, depois disso, mais 16 anos numa Alemanha ampliada".
Nas sacadas de Berlim
Exatamente quando acabava de rodar Willenbrock, Andreas Dresen recebeu das mãos de Wolfgang Kohlhaase um roteiro em andamento, com 30 páginas na época. Kohlhaase é considerado um dos melhores roteiristas da ex-Alemanha Oriental, tendo assinado O silêncio depois do tiro, dirigido por Volker Schlöndorff.
A história escrita por Kohlhaase e dirigida por Dresen tem como protagonistas duas amigas que vivem no bairro berlinense Prenzlauer Berg e leva o título de Sommer vorm Balkon (Verão na Sacada). A produção ficou a cargo de ninguém menos que os diretores de Adeus, Lênin (Wolfgang Becker), Lola, Corra, Lola (Tom Tykwer) e Todos Contra Zucker (Dani Levy).
"É claro que eu já conhecia os três como colegas de profissão, já me encontrei e conversei com eles várias vezes. A idéia de produzir o filme não surgiu de uma postura comercial dos três, mas partiu de uma cooperação entre colegas", explica Dresen.
Verão na Sacada conta a história de duas berlinenses: uma do Leste (Nike) e uma mãe solteira do Oeste (Katrin). O longa, construído através de diálogos lacônicos entre as personagens e que descreve com leveza situações corriqueiras, foi muito bem recebido no Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha. E deve chegar aos cinemas alemães em janeiro próximo.