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Ameaçado pelo extremismo islâmico, Mali vira foco das atenções ocidentais

2 de novembro de 2012

Islamistas ocupam desde abril o norte do país. Europeus temem que conflito desestabilize toda a região e tenha consequências também para a Europa. ONU prepara missão internacional comandada por africanos.

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Foto: Reuters

As consultações para uma possível operação militar no norte do Mali estão em pleno andamento. Reunidos em Bamako, especialistas da Comunidade dos Estados da África Ocidental (Cedeao), da União Africana e das Nações Unidas desenvolvem uma estratégia para a missão, destinada a expulsar os radicais islâmicos que ocuparam o norte do país.

A ONU abriu caminho para uma ação militar no norte de Mali por meio de uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança em outubro. O país não consegue solucionar o problema sozinho. Por isso, está sendo preparada uma missão com mais de 3 mil soldados. A força internacional deve incluir somente tropas do continente, como um sinal de que a África consegue resolver os próprios problemas.

Mas uma pax africana não será possível sem o auxílio do Ocidente, que deverá colaborar com apoio logístico e treinamento. A antiga metrópole colonial do Mali, a França, fez uma grande pressão no contexto político, sendo responsável pela resolução da ONU, que estipulou um prazo até 26 de novembro para que a Cedeao elaborasse um plano de ação.

Paris tem claros interesses econômicos. Porém, a missão deve ser entendida como parte da luta internacional contra o terror, na avaliação do ministro francês do Exterior, Laurent Fabius. "Há terroristas no norte do Mali que são extremamente perigosos. Eles têm armas pesadas e dinheiro, que ganham com tráfico de drogas e sequestro", afirmou. "São uma ameaça extrema. Não só para a população local, mas para todo o mundo."

Mali islamistische MUJWA Rebellen in Gao
Rebeldes fundamentalistas tomaram conta do norte do paísFoto: Reuters

Fundamentalistas dividiram país

Após um golpe militar contra o governo em Bamako, no fim de março, diversos grupos rebeldes, entre eles fundamentalistas islâmicos, tomaram todo o norte do Mali, enquanto um governo de transição controla o sul do país.

Desde abril, membros da Al Qaeda no Magreb Islâmico, os seus aliados tuaregues do Ansar Dine e os islamitas radicais Mujao tentam impor com violência a lei islâmica (sharia) no norte do Mali, dividindo um país que partilha uma longa fronteira com a Argélia. Cerca de 400 mil pessoas estão refugiadas.

A região, que serve como refúgio a um número cada vez maior de terroristas islâmicos, é tão grande como a França e a Espanha juntas. Com todos esses argumentos, a França conseguiu convencer seus vizinhos europeus, incluindo a Alemanha.

"A situação dos direitos humanos, da segurança, e a situação humanitária são realmente deprimentes", lamentou o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, que foi até a região para avaliar a situação. "Alguns na Europa se perguntam: 'mas é muito longe, o que temos a ver com isso?' Eu acho que nós temos que reconhecer que, a partir do norte do Mali, basta atravessar uma fronteira e, então, você está no Mediterrâneo", alertou Westerwelle.

Por isso, também é esperada uma participação dos EUA com aviões para reconhecimento aéreo, além do envolvimento logístico do maior número possível de países da União Europeia.

A Alemanha está disposta, entre outras coisas, a enviar a Bamako peritos das Forças Armadas. "A Alemanha não vai enviar armas nem tropas de combate ao Mali. Nosso papel será de treinamento, apoio técnico, financeiro e assistência humanitária a uma missão africana", frisou Westerwelle.

Westerwelle Mali Ankunft Reise Flugzeug Tiéman Hubert Coulibaly
Westerwelle desembarca no Mali e é recebido pelo ministro Tiéman Hubert CoulibalyFoto: picture-alliance/dpa

Vizinhos são céticos

Por mais convencido que o Ocidente pareça estar de uma solução militar, os vizinhos de Mali não são da mesma opinião. Por isso, permanece a questão: até que ponto esta seria uma missão realmente africana? Especialmente a Argélia, que compartilha mais de 1.400 quilômetros de fronteira com o Mali, é tida como cética quanto à solução. O país tem uma experiência dramática com o terrorismo islâmico e tem dificuldades com a ideia de ter uma guerra no seu quintal geo-estratégico.

Tal fato não conseguiu ser modificado nem mesmo com a visita a Argel da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. No caso de uma ação militar, os influentes tuaregues argelinos temem uma ampliação do conflito, e veem como confirmação para seus temores o fato de centenas de jihadistas do Saara Ocidental e do Sudão estarem indo atualmente para Tombuctu e Gao para lutar ao lado de seus irmãos de confissão.

Os islamistas do Ansar Dine, no entanto, não se impressionam com as ameaças. Seu porta-voz, Oumar Ould Hamaha, ameaça todos aqueles que se atrevam a intervir no norte. "Estamos prontos para lutar contra todos, contra a França, contra os Estados Unidos, contra toda a Otan e as Nações Unidas. Vamos defender a nossa fé, mesmo que venhamos a morrer como mártires."

Autor: Alexander Göbel (md)
Revisão: Alexandre Schossler