Alívio e esperança de paz em Berlim
14 de fevereiro de 2003Políticos de todos os partidos representados no Parlamento em Berlim, concordaram com a exigência de mais tempo para o trabalho dos inspetores de armas da ONU, feita pelos ministros das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, e da França, Dominique de Villepin, no Conselho da ONU. Fischer, que presidiu a sessão do Conselho, defendeu um prosseguimento das inspeções no Iraque, visando uma solução pacífica para o conflito. Blix não excluiu a existência de armas de destruição em massa no Iraque e também pediu mais tempo para o trabalho de sua equipe.
Situação e oposição alemãs avaliaram o relatório de formas diferentes. A presidenta e líder da União Democrata-Cristã (CDU), Angela Merkel, lamentou uma falta de disposição do Iraque para cooperar com os inspetores. O presidente do Partido Liberal, Guido Westerwelle, manifestou-se de forma semelhante. O líder dos liberais, Wolfgang Gerhard, mostrou-se otimista, dizendo ver "motivo de esperança".
Não há justificativa para guerra
Gernot Erler, perito em política exterior do Partido Social Democrático (SPD), presidido pelo chanceler federal, Gerhard Schröder, disse que o relatório de Blix e do presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohammed el Baradei, não contém justificativa alguma para uma intervenção militar. Schröder mantém sua posição contra uma guerra para desarmar o Iraque, com a qual deflagrou a pior crise do pós-guerra entre Alemanha e Estados Unidos, na campanha eleitoral de 2002.
"A diplomacia ainda não chegou ao fim"
Em Nova York, o ministro Fischer pronunciou-se contra uma suspensão das inspeções de armas no Iraque e, ao mesmo tempo, exortou o regime a colaborar de forma ilimitada com os inspetores. "As inspeções têm de ser mais eficientes", exigiu Fischer. Ele manifestou esperança de que a diplomacia ainda possa evitar uma guerra para desarmar e destituir o regime iraquiano, como ameaça o presidente americano George W. Bush. "A diplomacia ainda não chegou ao fim", afirmou.
A líder democrata-cristã, Merkel, Blix concordou que, com uma cooperação melhor de Bagdá, ainda seria possível um desarmamento rápido do Iraque. Ela viu no relatório prova de que Bagdá não cooperou o suficiente até agora e acha que tem de aumentar a pressão sobre Saddam Hussein, porque o tempo está se esgotando. "E o dever da Alemanha é adotar no Conselho de Segurança uma posição conjunta com os europeus e os EUA e não contra os Estados Unidos", exigiu Merkel.
Verdes aliviados
A bancada do Partido Verde no Parlamento em Berlim reagiu com grande alívio ao relatório de Blix. "Ele confirma o curso do nosso governo a favor de mais tempo para as inspeções no Iraque", disse a líder dos verdes Katrin Görin-Eckhardt", exigindo a seguir que a oposição conservadora alemã abandone sua posição favorável a uma guerra e se coloque dos lados dos que defendem uma solução pacífica para o conflito.
Bolsa reage com alça
O mercado acionário e o Partido Liberal foram os primeiros a reagir ao novo relatório dos inspetores da ONU sobre o desarmamento do Iraque. Ainda durante a leitura do documento pelo sueco Hans Blix, o pregão da bolsa de valores de Frankfurt entrou em alta, com o índice DAX subindo fortemente. Enquanto isso, no meio político, os liberais mostraram-se esperançosos, embora não apóiem a postura 100% pacifista do governo de Schröder.
O presidente do Partido Liberal foi um dos primeiros a comentar o relatório: "ele trouxe luz e sombra" à crise. Westerwelle avaliou como promissor o fato de os inspetores não terem encontrado nenhum arsenal de armas de extermínio após 11 semanas de trabalho, mas por outro lado lamentou que a cooperação de Saddam Hussein com as Nações Unidas ainda seja insuficiente. O líder da bancada liberal Wolfgang Gerhard, mostrou-se aliviado. Na sua opinião, o relatório alimenta "a esperança de que uma guerra ainda possa ser evitada". Ele defendeu a prorrogação do trabalho dos inspetores, o que o gabinete de Schröder vem exigindo há tempos.
Onde estão as armas e substâncias químicas?
Em seu relatório, Blix informou que Bagdá tem mostrado maior disposição em colaborar. A mobilidade dos inspetores aumentou e eles estão tendo "acesso imediato" a qualquer estabelecimento que queiram investigar. Para o sueco, a principal questão no momento é descobrir o paradeiro de mil toneladas de substâncias e armas químicas, cuja eliminação o governo iraquiano ainda não comprovou.
Infração à resolução 1441 da ONU, que determinou o desarmamento do Iraque, foi verificada no raio de ação dos mísseis Al-Samoud-2, que podem voar além dos 150 quilômetros permitidos ao Iraque. O presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohammed el Baradei, disse que também não há indícios de que Saddam esteja dando continuidade a seu programa de armas nucleares, mas que ainda restam vários pontos a serem examinados.
Vôos para reconhecer laboratórios móveis
Segundo Blix e Baradei, os inspetores precisam de mais tempo para uma avaliação segura do status quo do arsenal de Saddam. O sueco anunciou que somente agora poderão ser iniciados os vôos de reconhecimento sobre o Iraque, que servirão para verificar a denúncia dos EUA de que o Iraque dispõe de laboratórios móveis de armas biológicas.
Numa referência às denúncias que o governo americano apresentou ao Conselho na semana passada, Blix ressaltou que sua equipe não pôde comprovar, por enquanto, nenhuma das "provas" que alguns serviços secretos dizem ter.
França exige mais inspeções
Em seguida, a França defendeu que se prorrogue e amplie as inspeções, aumentando o número de controladores da ONU. "Ainda há uma alternativa à guerra. E ela chama-se desarmamento através das inspeções", ressaltou o chanceler francês Dominique de Villepin.
Já o ministro do Exterior da Grã-Bretanha, Jack Straw, disse que uma solução pacífica só será possível com uma mudança de rumo "radical e imediata" do governo iraquiano. China e Rússia ofereceram mais pessoal e equipamentos para reforçar a equipe de inspetores. França, China e Rússia são membros permanentes do Conselho e se opõem à guerra que querem fazer os dois membros com direito a veto no grêmio máximo das Nações Unidas.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, saudou os avanços nos trabalhos dos inspetores, mas acusou Saddam Hussein de continuar, com seus truques, ludibriando a ONU nas questões fundamentais. A Casa Branca comunicou que analisará o relatório dos inspetores antes de enviar ao Conselho de Segurança uma nova proposta de resolução.