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Aliados da Otan em lados opostos na Síria

Teri Schultz
23 de janeiro de 2018

Campanha militar da Turquia no país vizinho contra a milícia curda YPG, apoiada pelos EUA no combate a extremistas, acirra tensões entre Washington e Ancara, ambos membros da Aliança Atlântica.

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Tanques de guerra turcos em Afrin, na fronteira com a Síria
Tanques de guerra turcos em Afrin, na fronteira com a SíriaFoto: Getty Images/AFP/B. Kilic

A vice-secretária-geral da Otan, Rose Gottemoeller, chegou a Ancara na segunda-feira (22/01) para uma visita agendada muito antes da ofensiva militar turca em andamento no enclave curdo na região de Afrin, no norte da Síria.

A viagem de uma das principais autoridades da Otan à Turquia no momento em que a crise se desenrola gerou ainda mais interesse, uma vez que duas das maiores tropas da Aliança Atlântica estão em lados opostos na atual operação.

Leia também: Erdogan acusa EUA de criar "exército terrorista" na Síria

A Turquia afirma que sua intenção é expulsar do enclave na fronteira com a Síria os combatentes da milícia curdo-síria Unidades de Proteção do Povo (YPG), as quais considera aliadas dos insurgentes curdos que há décadas combatem o Estado turco. O YPG, porém, é apoiado pelos Estados Unidos como um aliado na luta contra os extremistas do "Estado Islâmico" (EI).

Gottemoeller recebeu garantias das autoridades turcas de que a ofensiva em Afrin será breve, assim como afirmou publicamente o presidente Recep Tayyip Erdogan.

Em Bruxelas, a Otan fez questão de esclarecer que a visita da vice-secretária-geral não está relacionada ao aumento das tensões entre a Turquia e os EUA – ambos aliados dentro da esfera da Otan – e que ela tampouco exercerá qualquer papel de mediadora. Ela própria não fez qualquer menção ao assunto, que domina as manchetes da imprensa turca.

Entretanto, analistas afirmam que a disputa em Afrin é mais acirrada do que aparenta ser. O Soufan Group, uma empresa de estratégias de segurança e inteligência sediada nos EUA, afirma se tratar de uma nova aliança entre Turquia, Russia e Irã, "unidos no desejo de bloquear interesses americanos" na Síria. Washington, segundo apontam os especialistas, não terá outras opções senão recuar, sob o risco de agravar ainda mais o conflito com Ancara.

O ex-embaixador da União Europeia (UE) na Turquia, Marc Pierini, avalia que Erdogan parece estar disposto a sacrificar o apoio cada vez mais escasso que ainda lhe resta na Europa em razão de seus objetivos políticos.

"Essencialmente, [Erdogan] está colocando a Turquia na contramão da Otan em termos de como os aliados devem operar entre si", observou Pierini. "Esse é o efeito principal. Acho Ancara compreende perfeitamente os riscos, é o preço a se pagar pelo controle do cenário político."

A demonstração de força militar na ofensiva em Afrin deve, provavelmente, ser bem vista entre muitos cidadãos. "Ajuda enormemente a exacerbar a narrativa nacionalista em termos domésticos", disse o ex-embaixador.

Segundo ele, Erdogan criou uma "imensa operação para esmagar uma ameaça relativamente pequena", numa crise que poderia ter sido resolvida através da diplomacia. O problema, alertou, é que "ninguém sabe quando e onde isso vai acabar".

Na frente diplomática, Erdogan não foi além de alguns telefonemas na semana passada à Otan para criticar o apoio dos EUA ao YPG na Síria, mas não instruiu seus diplomatas a reiterar essa reclamação na sede da aliança. Fontes ligadas à Otan afirmam que a Turquia ainda não notificou a organização sobre suas ações militares na Siria.

Em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU se omitiu de condenar a ação militar turca ou pedir o seu fim. Em Bruxelas, o tema tampouco faz parte da agenda da reunião do Conselho da Otan marcada para esta quarta-feira.  

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