Alemães bebem cada vez menos cerveja
24 de abril de 2013Uma das primeiras coisas que vêm à cabeça quando se fala da Alemanha é cerveja. A associação não vem à toa: as cerca de 1.340 fábricas de cerveja alemãs movimentam quase 7,6 bilhões de euros por ano, e o país ostenta milhares de marcas, que se diferenciam pela cor, sabor, teor alcoólico.
A fama se mantém, mas a sede dos alemães por cerveja já não é mais a mesma. O país tem capacidades para produzir 150 milhões de hectolitros, porém em 2012 limitou-se a 98 milhões. Há alguns anos, os fabricantes de cerveja enfrentam uma contínua queda nas vendas: em 1976, cada alemão consumia 151 litros de cerveja por ano, número que caiu para 107 litros em 2012. E a tendência é descendente.
Pequenas e médias empresas mais afetadas
Até mesmo as cinco maiores fabricantes da Alemanha, que dominam quase 70% do mercado, estão sob pressão. A previsão da Federação dos Fabricantes de Cerveja Alemães é que, das 1.340 fábricas do país, a maioria das pequenas e médias não conseguirá sobreviver ao inevitável processo de concentração de mercado.
A fábrica de cerveja Moritz Fiege, na cidade de Bochum, existe há 135 anos e produz anualmente 140 mil hectolitros. De porte médio, a empresa ainda não sentiu os efeitos da diminuição do consumo. "Mas o processo de concentração de mercado é evidente em toda a parte", registra o proprietário da fábrica, Hugo Fiege.
Além de os consumidores beberem menos cervejas, um outro fator dificulta muito a situação das cervejarias, principalmente das pequenas e médias: a concorrência entre os supermercados, que frequentemente colocam cervejas em promoção para atrair clientes.
Para Fiege, essa "desvalorização" do produto também é um motivo para que a cerveja se torne menos atrativa para o consumidor, que consequentemente, bebe menos.
Regionalização
Para driblar uma possível crise, algumas fábricas de cerveja têm definido novas estratégias, que focam no mercado regional. O proprietário da Moritz Fiege diz que a estratégia não é lucrar com a produção em larga escala, mas obtendo um valor condizente com a qualidade do produto oferecido.
Além disso, ele aposta no mercado regional. "O Vale do Rio Ruhr é grande o suficiente para nós. Aqui tem muita gente, ainda temos um bom mercado para o próximo ano", diz Fiege.
Parte da estratégia está nos detalhes: não importa apenas o que vem dentro da garrafa, mas também a aparência. A filosofia da empresa é que a cerveja deve ser degustada, e não ingerida rapidamente. Também por isso as cervejas da Moritz Fiege vêm em garrafas de cápsula – que faz um barulho semelhante ao abrir uma champagne. Assim o consumidor sabe que está diante de um produto diferenciado, de produção quase artesanal, e o barulho que a garrafa faz ao ser aberta antecipa o prazer da degustação.
Segredo da boa cerveja
Dez tipos de cervejas estão na linha de produtos da Moritz Fiege, entre elas cerveja do tipo alt (típica da região de Düsseldorf), cerveja sem álcool, radler (misturada com refrigerante) ou de trigo. Apesar da variedade, a cerveja clássica, a pilsen, ainda é a preferida, abrangendo cerca de 60% da produção.
A moda de misturar cerveja com outras bebidas, como refrigerantes, tem atraído cada vez mais os jovens, mas não agrada muito aos fabricantes tradicionais de cerveja, como Hugo Fiege. Ele acredita que a cerveja já tem propriedades suficientes para originar diferentes sabores, e não precisa ser misturada.
Boa qualidade, naturalmente, tem seu preço. Para quem entende do assunto, uma boa cerveja precisa de tempo até chegar à garrafa. O mestre-cervejeiro da Moritz Fiege, Mark Zinkler, comenta que as grandes cervejarias precisam de apenas uma semana para que a cerveja fique pronta, enquanto que, no caso dele, são necessárias de seis a oito semanas. Por isso, garante, ela não pesa no estômago como outras cervejas.