Alemã que aderiu ao "Estado Islâmico" vai a julgamento
10 de abril de 2019Uma alemã suspeita de ter viajado ao Iraque para aderir ao grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) compareceu ao Tribunal Regional de Munique nesta quarta-feira (10/04) para responder a uma série de acusações que incluem crimes de guerra.
A ré, identificada como Jennifer W., de 27 anos, é acusada de permitir que uma menina de 5 anos, uma prisioneira da minoria religiosa yazidi, morresse de sede ao permanecer acorrentada sob um calor de 45 graus. A criança e sua mãe teriam sido compradas pela alemã e seu segundo marido em um mercado de escravos. Após ela urinar em um colchão, o marido de Jennifer a acorrentou do lado de fora da casa.
Jennifer teria permitido que seu marido tomasse essa decisão e nada fez para ajudar a criança, motivo pelo qual ela é acusada de morte por omissão. O fato de a menina pertencer ao grupo étnico yazidi, uma minoria perseguida violentamente pelo EI, pode se constituir como crime de genocídio pelas leis alemãs.
Se considerada culpada das acusações de aderir a um grupo terrorista, além de delitos associados a armas, crimes de guerra e assassinato, ela poderá ser condenada a prisão perpétua.
A conhecida advogada de direitos humanos Amal Clooney integra a equipe legal que representa a mãe da menina yazidi, que será chamada como testemunha durante o julgamento. Segundo a ONG americana Yazda, o caso de Munique é o primeiro indiciamento por crimes cometidos por membros do EI contra a minoria religiosa.
Jennifer apareceu na corte vestindo roupas ocidentais, em contraste com a burca que usava há menos de quatro anos. A jovem fazia patrulhas em Mossul e Fallujah armada com um fuzil Kalashnikov, obrigando as mulheres a se vestirem de acordo com as regras da milícia jihadista.
Segundo relatos, ela não teria apenas vivido ao lado dos combatentes do EI. Sua atuação nas patrulhas fez com que se tornasse membro de uma espécie de promotoria pública do grupo islamista.
Essa característica a diferencia de suas outras conterrâneas que também aderiram ao grupo e, mais tarde, retornaram à Alemanha, mas não podem ser julgadas em seu país porque não desempenharam um papel ativo na milícia. Jennifer é a primeira alemã a responder por seus atos após retornar a seu país de origem.
Jennifer nasceu no estado da Baixa Saxônia, no norte da Alemanha, e foi criada como protestante. Segundo relatos, ela teria deixado a escola no 8º ano e se converteu ao islã em 2013, antes de viajar para o Oriente Médio no ano seguinte.
Ela foi presa em 2016 quando tentava obter novos documentos de identidade na embaixada alemã em Ancara, na Turquia. As autoridades turcas a extraditaram para a Alemanha, onde vem sendo mantida sob custódia desde junho de 2018.
Segundo a revista alemã Der Spiegel, Jennifer teria se incriminado enquanto conversava com um informante do FBI em um carro equipado com escutas. Na conversa, ela teria dito que a morte da menina foi algo "pesado demais, até paro o EI", e que teria sido injusta porque apenas Deus possui o direito de usar o fogo como punição. A alemã contou que seu marido teria sido punido pela milícia.
O advogado de Jennifer, Ali Aydin, não acredita que ela seja uma criminosa de guerra. Ele diz que não pode aceitar que sua cliente seja acusada pela morte da menina, porque a ré estava vivendo em uma cultura diferente onde as mulheres não podiam se expressar livremente.
O julgamento, cercado de um enorme aparato de segurança, será reiniciado no dia 29 de abril, quando Jennifer W. finalmente terá a oportunidade de se pronunciar sobre as acusações.
RC/afp/dpa
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