Desacordo
16 de setembro de 2011Devido a sua especial responsabilidade histórica em relação a Israel, a Alemanha já definiu há tempos não concordar com a criação do Estado palestino: o governo de Angela Merkel não apoiaria uma ação unilateral, se a Autoridade Palestina entrar com um pedido de reconhecimento no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Em maio último, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, havia dito ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que se deveria continuar trabalhando numa solução que resulte em dois Estados. "Não acreditamos que medidas unilaterais possam ajudar", avaliou Merkel na época.
No parlamento alemão, essa posição antecipada do governo foi criticada. "Nós lamentamos essa postura antecipada, porque isso prejudicou o desenvolvimento de uma posição europeia unificada, e também as chances de reivindicar uma posição pacífica de Israel", analisou Rolf Mützenich, especialista em Oriente Médio do Partido Social Democrata, de oposição, em entrevista à Deutsche Welle.
"Apesar de toda a pressão que enfrentamos, a Palestina irá às Nações Unidas no dia 23 de setembro para buscar admissão como membro", assegurou Mahmoud Abbas, chefe da Autoridade Palestina, em entrevista a um canal de televisão egípcio. A condição de membro das Nações Unidas depende da aprovação do Conselho de Segurança da ONU.
Divergências na Europa
Enquanto isso, a Alemanha age nos bastidores para tentar um posicionamento homogêneo dos governos europeus. O que poderia significar que os países apoiariam, pelo menos, uma valorização do status da Palestina nas Nações Unidas, caso a Autoridade Palestina apresente apenas um pedido de "Estado não-membro" na Assembleia Geral da ONU, onde até o momento a Palestina tem o status de observador.
Essa nova posição, mais elevada, ocupada hoje apenas pelo Vaticano, daria à Autoridade Palestina automaticamente acesso a todos os comitês das Nações Unidas e possibilitaria aos palestinos abrir processos na Corte Internacional de Justiça. O governo alemão poderia apoiar esta opção, desde que o texto da resolução não desse margem a nenhum direito de soberania sob o ponto de vista do direito internacional.
A Europa parece estar dividida justamente quanto a essa questão importante. Enquanto nações como Bélgica, Espanha e Irlanda estão prontas para apoiar a total soberania palestina, a República Tcheca, Holanda e Alemanha são completamente contrárias. França e Reino Unido, membros permanentes do Conselho de Segurança, ainda não se pronunciaram claramente a respeito. Os Estados Unidos já ameaçaram vetar um pedido de reconhecimento do Estado palestino no grêmio máximo da ONU.
Alemanha e Israel
Israel já ameaçou represálias diplomáticas no caso de uma proclamação unilateral do Estado palestino – o país cancelaria, automaticamente, todos os acordos assinados até agora com a Autoridade Palestina. O Congresso norte-americano também anunciou que suspenderia toda a ajuda financeira caso os palestinos levem o plano adiante.
Isso atrasaria a retomada das negociações de paz e provavelmente não implicaria em melhora das condições de vida dos palestinos. A Alemanha quer evitar uma situação de risco: "Precisamos tomar cuidado para que não haja um impasse perigoso no Oriente Médio", afirmou Guido Westerwelle, ministro alemão do Exterior.
Por esse motivo, o ministro desaconselhou Mahmoud Abbas de dar um "passo unilateral" na Assembleia Geral da ONU. "Eu acredito que eles conseguiriam o oposto do que nós desejamos", declarou Westerwelle durante sua viagem à região, no início do mês.
Isolamento?
O temor de uma nova escalada do conflito no Oriente Médio é partilhado pela oposição no Parlamento alemão, que ressalta, no entanto, lembrando que os sinais reconciliatórios dados pela liderança palestina mesmo durante a estagnação das negociações de paz não provocaram mudanças. "Nós vimos por meio de publicações como o lado palestino esteve pronto a aceitar exigências de Israel. Por isso, acredito que esse passo palestino é mais uma forma de pressão para a retomada da negociação de paz", comenta Rolf Mützenich.
Michael Lüders, especialista alemão em Oriente Médio, acredita que, devido a sua posição, o governo alemão se isolaria ainda mais diante do mundo árabe. "Acredito que isso não deva ter algum efeito na relação entre os alemães e os palestinos, mas a Alemanha se isola, pela segunda vez neste ano, com a sua política. O primeiro caso foi quando o país se opôs à ação militar na Líbia."
Autor: Daniel Scheschkewitz (np)
Redação: Roselaine Wandscheer