Alemanha tenta aplacar tensão com Turquia
6 de março de 2017Autoridades alemãs rebateram nesta segunda-feira (06/03) as declarações do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que comparou o cancelamento de comícios na Alemanha sobre o referendo constitucional na Turquia, com a presença de ministros turcos, a "práticas nazistas".
Nos últimos dias, diversas cidades alemãs cancelaram os eventos alegando preocupações com a segurança. A última delas, Hamburgo, anunciou nesta segunda-feira o cancelamento de um comício que contaria com a presença do ministro do Exterior turco, Mevlüt Çavusoglu.
Os ministros do governo de Erdogan fariam campanha a favor da reforma constitucional que visa introduzir o sistema presidencialista no país, ampliando os poderes do presidente. A Alemanha abriga a maior diáspora turca, e em torno de 1,4 milhão de pessoas poderão votar no referendo no dia 16 de abril.
O governo turco acusou Berlim de atuar contra a campanha a favor da reforma constitucional por não querer uma Turquia estável.
"Alemanha, você não tem qualquer relação com a democracia e você deveria saber que suas práticas atuais não são diferentes das do período nazista", disse o presidente em Istambul, num evento de campanha para o referendo. "Eu pensava que a Alemanha havia abandonado práticas nazistas há muito tempo. Estávamos enganados."
Steffen Seibert, porta-voz da chanceler federal Angela Merkel, afirmou que "comparações com o nazismo são sempre absurdas e fora de lugar, uma vez que leva a apenas uma coisa: a banalização dos crimes contra a humanidade cometidos pelos nazistas".
"Absolutamente inaceitável"
Ao mesmo tempo em que encorajou a Turquia a "falar abertamente e de modo crítico", Seibert disse que os dois países devem lembrar o "significado especial" de suas relações próximas e "deixar que as 'cabeças frias' prevaleçam".
Horas antes, o chefe de gabinete da chancelaria, Peter Altmaier, afirmou que a comparação com o nazismo é "absolutamente inaceitável". "O governo deixará isso bem claro", afirmou. "Não há qualquer razão para permitir que sejamos repreendidos dessa maneira."
Erdogan alertou que Berlim não deve tentar impedi-lo de falar em solo alemão. "Se não me deixarem entrar ou não me deixarem falar, farei com que o mundo se levante", ameaçou.
No domingo, o ministro alemão da Justiça, Heiko Maas, afirmou que os comentários de Erdogan eram "absurdos, lamentáveis e grotescos", e que tinham como objetivo provocar reações de Berlim. "Temos que cuidar para que não nos deixemos ser provocados", observou.
Ele alertou contra romper relações diplomáticas ou não permitir a entrada de Erdogan no país, afirmando que essas medidas jogarão a Turquia "diretamente nos braços de [presidente russo] Vladimir Putin, o que ninguém deseja".
Acirramento das tensões
O ministro alemão do Exterior e vice de Merkel, Sigmar Gabriel, disse que, apesar de a Alemanha respeitar os valores da liberdade de expressão, os que fizerem pronunciamentos no país devem "respeitar as regras".
O líder da comunidade turca na Alemanha, Gökay Sofuoglu, condenou a fala do presidente turco, afirmando que desta vez Erdogan foi longe demais.
As tensões entre Berlim e Ancara já haviam se agravado nos últimos dias com a prisão do jornalista teuto-turco Deniz Yücel na Turquia, que gerou uma onda de indignação por parte do governo, políticos e intelectuais alemães. Erdogan acusou o correspondente do jornal Die Welt de ser um agente da Alemanha e integrante do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Alemanha e Turquia são, além disso, parceiros importantes na crise migratória. Mais de um milhão de refugiados – em sua maioria sírios – entraram na Alemanha desde 2015. E foi só o acordo firmado entre a União Europeia e a Turquia para impedir a chegada de migrantes ao continente, em vigor desde março de 2016, conseguiu sustar decisivamente o fluxo migratório.
RC/afp/rtr/dpa