Alemanha prefere continuidade política na era pós-Merkel
2 de julho de 2021Tudo podia ser tão bom: é verão, os alemães estão se preparando para suas férias, as taxas de contágio pelo novo coronavírus são baixas. No entanto, a variante delta está se propagando pelo país em velocidade considerável, sendo responsável por 50% do total das infecções. E mesmo os que já tomaram duas doses da vacina anti-covid estão novamente sujeitos a restrições: quem retorne ao país vindo do Reino Unido, Portugal ou Rússia agora tem que ficar14 dias de quarentena.
Na mais recente pesquisa de opinião do instituto Infratest-Dimap, entre 1.300 potenciais eleitores, 62% disseram contar com uma quarta onda de covid-19. O destino das crianças é, de longe, o maior motivo de apreensão: será que as escolas vão reabrir depois das férias de verão? Em 2020, debateu-se acalorada e repetidamente se elas estavam mesmo preparadas para receber os alunos.
Apesar do medo de outro incremento dramático dos contágios, os alemães consultados veem positivamente o desenvolvimento econômico: 60% acreditam que a economia nacional está saudável e em crescimento. Os eleitores do Partido Verde são os mais otimistas, sendo 87% da opinião de que o setor vai bem.
Quem sucederá Merkel?
Se as eleições gerais fossem agora, em vez de em 26 de setembro, o bloco conservador da chefe de governo Angela Merkel – formado pela União Democrata Cristã (CDU) e sua irmã bávara, União Social Cristã (CSU) – sairia mais uma vez vencedor, com 28% dos votos – o que, no entanto, representa uma queda em relação a seus 33% na última eleição, em 2017.
O Partido Verde, que em abril liderou brevemente as pesquisas, ficaria em segundo lugar, com 20%, quase dobrando seu desempenho de 2017 nas urnas. O terceiro lugar caberia ao Partido Social-Democrata (SPD), parceiro minoritário da coalizão governamental, ao lado da CDU/CSU. Tendo alcançado 20% no último pleito legislativo, os social-democratas detêm agora apenas 15% das intenções de voto, seu pior resultado desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em seguida, a populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), atualmente maior grupo oposicionista do parlamento, perde apoio em relação a 2017, ficando com 11%, o mesmo que o Partido Liberal Democrático (FDP), pró-livre mercado, cuja popularidade cresceu nos últimos meses. O A Esquerda mal atingiria o patamar mínimo de 5%, exigido para uma sigla ter representação no Bundestag.
Como é improvável que algum dos concorrentes conquiste a maioria dos votos, logo após a votação começará a formação de uma coalizão de governo. A atual pesquisa sugere que 39% do eleitorado preferiria seguir tendo os conservadores à frente de Berlim, para assegurar estabilidade e continuidade. Os verdes são os favoritos de 19% dos consultados, enquanto 22% não têm preferência.
Os alemães não elegem diretamente a/o chanceler federal: o cargo em geral cabe ao principal candidato da legenda mais forte. Como Merkel não concorre a um quinto mandato, Armin Laschet, da CDU, é quem tem as melhores chances. Ainda assim, pela primeira vez o Partido Verde indicou uma candidata sua à chefia de governo: Annalena Baerbock, de 40 anos, cuja popularidade tem sofrido altos e baixos nas enquetes.
A questão de quem é o candidato mais forte vem recebendo grande atenção da mídia nacional: recentemente, o atual ministro das Finanças, Olaf Scholz, do SPD, provou ser mais popular do que seu partido, aparecendo à frente tanto de Baerbock quanto de Laschet nas consultas de opinião.
No geral, o eleitorado alemão não parece estar com muito apetite para alterações radicais: apenas um terço dos entrevistados afirmou querer mudanças fundamentais da política.