Alemanha nega asilo para os roma, uma etnia discriminada
11 de agosto de 2015Nas últimas semanas, pessoas como Dragan estiveram no centro dos debates na Alemanha. Ele faz parte da etnia rom e vem da cidade de Sabac, na Sérvia. A mídia noticia sobre pessoas como ele, e políticos indignados afirmam que elas abusam da generosidade do sistema de proteção social alemão.
O sérvio está sentado num banco em frente ao centro de acolhimento para requerentes de asilo no bairro de Muffendorf, em Bonn, onde ele está hospedado. O que o trouxe até aqui, a cerca de 1.400 quilômetros de distância da sua cidade natal? "Problemas, meu irmão, o que mais? Eu ouvi que é possível receber asilo aqui e colocar a vida em ordem", responde.
Dragan, que na verdade tem outro nome, viajou para a Alemanha com a esposa e três filhos. Ele aguarda até ser chamado por um funcionário do serviço de refugiados. Na audiência, terá algumas horas para explicar por que procura proteção no país.
Dragan falará sobre a miséria em seu país de origem, sobre olhares desconfiados nas entrevistas de emprego, sobre provocações e maus tratos vivenciados quase que diariamente. "Eu vou falar a verdade. Aconteça o que acontecer", diz Dragan.
Dificilmente acontecerá aquilo que Dragan deseja – que ele e sua família recebam asilo na Alemanha e possam começar uma nova vida. Isso porque ele vem de um país considerado seguro, é jovem e tem saúde.
A Alemanha oferece proteção temporária somente para pessoas dos Bálcãs que estejam gravemente doentes, explica o presidente do serviço para refugiados, Manfred Schmidt. De cada mil pedidos, apenas um ou dois são reconhecidos.
Na Sérvia, na Macedônia e na Bósnia não existe perseguição política, como os políticos salientam, assim como na Albânia, em Kosovo e em Montenegro, que em breve deverão ser incluídos na lista alemã de países considerados seguros. Há, porém, outras interpretações, como explica Norman Paech, professor emérito de Direito e ex-deputado do partido A Esquerda.
"De fato, não se pode acusar esses países de perseguição política de membros da população rom. Mas, diante da miséria enfrentada por essa etnia na Sérvia, pode-se falar de 'perseguição cumulativa'", diz Paech. Ele se refere à soma de vários tipos de perseguição, que se reforçam mutuamente.
Na opinião do especialista, a Alemanha não respeita as diretrizes europeias que definem perseguição de uma forma mais abrangente do que apenas a ação realizada por um Estado.
Discriminação e racismo
Mais de 90% dos candidatos a asilo oriundos da Sérvia fazem parte da etnia rom – um triste recorde para a região. Segundo o censo oficial, cerca de 155 mil roma vivem na Sérvia. Mas esse número engana.
O Conselho Nacional da Minoria Rom avalia que muitos roma acobertam sua origem étnica por temerem discriminação. Há estimativas de que a população rom chegue a 500 mil pessoas.
Uma grande parte dessas pessoas vive em favelas, abaixo da linha da pobreza, muitas vezes sem água potável, energia e cuidados médicos. As crianças raramente vão à escola e nem mesmo 1% dos roma na Sérvia têm diploma universitário. Isso é confirmado não só por ONGs que criticam essa situação, mas também por documentos oficiais da República da Sérvia.
"Deve-se dizer claramente: os roma na Sérvia são considerados e tratados como uma raça inferior", lamenta o sociólogo sérvio Dario Hajric. Eles são chamados de sujos e estúpidos, e também de estupradores e pedófilos.
"Quase ninguém gosta de ter um rom como vizinho, amigo, colega ou membro da família", afirma Hajric. Essa atitude leva ocasionalmente a ataques contra os roma ou suas moradias.
Existem vários exemplos desse tipo de racismo. Os jornalistas da redação sérvia da DW precisam constantemente apagar comentários de leitores na página do Facebook. Muitos usuários taxam os por eles chamados "ciganos" de escória e mentirosos e afirmam que eles têm muitos filhos para receber mais benefícios sociais.
Requerentes de asilo "profissionais"
Hajrić afirma que o governo em Belgrado fornece munição para comentários desse tipo. As autoridades se esforçam para manter a imagem pró-europeia do país, mas, mesmo assim, designam milhares de cidadãos como "requerentes de asilo profissionais".
O primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vucic, afirmou recentemente, em entrevista ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung, que os roma "só querem o dinheiro alemão". Os jornalistas queriam saber por que exatamente os roma têm mais dificuldades do que outros. "Por razões históricas. Os roma são tradicionalmente muito pobres", respondeu Vucic.
Políticos alemães também contribuem para esse estado de espírito, afirma Lina Hüffelmann, que aconselha requerentes de asilo no conselho de refugiados da cidade de Colônia. Com suas declarações, políticos eleitos democraticamente tornam socialmente aceitável ter uma postura contra os roma.
"Trata-se aqui não somente do partido União Social Cristã (CSU). Na extremidade direita [do espectro político] há sempre novas formações, e uma classe média crescente apoia esse clamor em voz alta", critica Hüffelmann.
Tudo isso influencia também as decisões dos funcionários alemães do serviço para refugiados. Hüffelmann reporta casos em que funcionários receberam pedidos de asilo já preenchidos com "rejeitado" antes mesmo da audiência com o requerente de países dos Bálcãs.
Dragan sabe o que os políticos alemães pensam sobre os roma. "Sim, eu já ouvi", afirma, com um sorriso nervoso. Na Alemanha, sua família receberia, cada mês, 143 euros por pessoa, mas ele diz que esse não é motivo para a migração. "Talvez muitos venham só por causa do dinheiro. Mas muitos fogem de problemas reais", diz Dragan.
A atitude dele mostra que ele sabe que dificilmente receberá asilo. Em cerca de três ou quatro meses, Dragan estará novamente em sua cidade natal, Sabac. Esse é o tempo que dura o processo de requerimento de asilo para cidadãos provenientes dos países considerados seguros.