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Alemanha devolve à Namíbia objetos saqueados no século 19

Jasko Rust
31 de maio de 2022

Antiguidades haviam sido levadas para Berlim durante o período em que a Namíbia foi uma colônia do Império Alemão. No entanto, forma como ocorreu a restituição gerou críticas.

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O presidente da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, Hermann Parzinger, e Esther Moombolah, diretora do Museu Nacional da Namíbia
O presidente da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, Hermann Parzinger, e Esther Moombolah, diretora do Museu Nacional da NamíbiaFoto: Thomas Imo/photothek.net

A Alemanha entregou na segunda-feira (30/05) à Namíbia 23 antigos artefatos saqueados durante o século 19, quando o país africano era uma colônia do Império Alemão. Os objetos estavam em posse do Museu de Etnológico de Berlim há mais de um século.

"Todos os objetos foram recolhidos de diferentes comunidades da Namíbia durante a era colonial alemã", presumivelmente durante a segunda metade do século 19, disse a presidente da Associação de Museus da Namíbia, Nehoa Hilma Kautondokwa, durante a cerimônia oficial de entrega.

A coleção de 23 peças, que será estudada por pesquisadores locais, inclui um recipiente decorado com três cabeças, uma boneca com um vestido tradicional, joias e lanças.

Pesquisadores da Alemanha e Namíbia trabalharam em conjunto para selecionar os objetos a serem devolvidos para a Namíbia
Pesquisadores da Alemanha e Namíbia trabalharam em conjunto para selecionar os objetosFoto: Jörg Carstensen/dpa/picture alliance

"Empréstimo permanente"?

Os objetos, que permaneceram mais de um século na Alemanha, foram selecionados por especialistas entre 2019 e 2020 para devolução pelo seu significado histórico, cultural e estético. No entanto, o mecanismo escolhido pela Alemanha para efetuar a devolução não foi livre de críticas. Em vez de uma restituição efetiva, os objetos foram cedidos em forma de empréstimo – embora sem prazo definido.

"Esses objetos ficarão na Namíbia", assegurou Hermann Parzinger, presidente da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, que supervisiona os museus de Berlim, em resposta aos críticos que reclamaram que se trata de um empréstimo, e não uma restituição. 

Segundo a fundação, a medida foi tomada por razões puramente burocráticas. Um "empréstimo permanente" poderia ser executado mais rapidamente. "As peças que deveriam ficar aqui vão ficar aqui. E isso definitivamente se aplica aos 23 objetos", completou Parzinger, em entrevista à DW. O conselho de curadores se reunirá em junho, quando estabelecerá os termos para uma restituição oficial.

Projeto

"De acordo com nossos registros, as 23 peças foram obtidas entre 1860 e 1890", explicou Kautondokwa, ao apresentar os objetos ao povo da Namíbia pela primeira vez, junto com seus colegas do Museu Etnológico, da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, da Fundação Gerda Henkel e da Universidade da Namíbia (Unam), que fizeram parte do projeto de cooperação científica "Confrontando Passados Coloniais, Vislumbrando Futuros Criativos".

"Você olha para um objeto e diz que ele pertence a uma das comunidades do país. Mas você nunca viu nada parecido antes!", disse com entusiasmo à DW Ndapewoshali Ashipala, diretora interina da Associação de Museus da Namíbia.

Goodman Gwasira, professor da Unam, outro parceiro do projeto explicou que o projeto de cooperação com a Alemanha ajudará a Namíbia a desenvolver especialistas locais e programas de treinamento para lidar com esses objetos historicamente valiosos. O objetivo também é se preparar para outras futuras restituições, disse Gwasira.

Artefatos devolvidos para a Namíbia
Alguns dos 23 artefatos que voltaram à Namíbia. Formato da devolução provocou críticasFoto: Tobias Schwarz/AFP

Os museus da Namíbia podem ainda não estar prontos para aceitar a devolução da totalidade dos estimados 12.000 objetos namibianos que permanecem em museus europeus, mas Gwasira lançou uma provocação: "Como os europeus estavam preparados quando saquearam os itens em primeiro lugar?"

Ele pediu aos parceiros do projeto que continuem trabalhando juntos para criar as estruturas necessárias na Namíbia. "Os colegas da Namíbia estão tão interessados em preservar os objetos quanto nós", enfatizou o diretor do Museu Etnológico de Berlim, Lars-Christian Koch.

Disputas

O Museu de Etnológico de Berlim debate há três anos o destino de outras antiguidades com a Namíbia, como parte do compromisso da Alemanha em melhorar as relações com a sua antiga colônia.

A restituição de bens culturais namibianos não causa apenas disputas com a Alemanha, mas também entre diferentes comunidades da Namíbia. Um caso em 2019 envolveu a restituição de um exemplar da Bíblia e um chicote que pertenceram ao herói namibiano Hendrik Witbooi, que foi acompanhado por uma disputa entre a Associação de Líderes Tradicionais Nama e o governo da Namíbia.

Entre 1884 e 1915, o atual território da Namíbia pertenceu ao Império Alemão. Os colonizadores esmagaram de forma brutal revoltas dos grupos étnicos herero e nama, matando dezenas de milhares de pessoas. Até hoje, a relação entre a Namíbia e Alemanha não é fácil. O governo alemão vem mantendo há anos duras negociações com as autoridades do país sobre possíveis indenizações devido aos crimes da era colonial.