Alemanha desativa sua primeira usina nuclear
14 de novembro de 2003"A desistência da energia nuclear na Alemanha é irreversível", afirmou o ministro alemão do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, em entrevista à Deutsche Welle, nesta quinta-feira (13). Nenhuma companhia estaria disposta a investir em novas usinas atômicas, uma vez que os modernos geradores eólicos produzem energia mais barata, disse Trittin, que deu grande impulso às fontes regenerativas de energia.
Acordo previu 32 anos de funcionamento
O Partido Verde do ministro, que integra a coalizão de governo em Berlim, considera uma grande vitória o acordo firmado em junho de 2001, no qual a indústria se comprometeu a desativar as usinas nucleares paulatinamente, nos próximos 20 anos.
Assinado após anos de duras negociações, o acordo em si não prevê um prazo exato para a desativação, mas fixou o máximo de 32 anos de "tempo útil" ou de funcionamento para as 19 usinas e a quantidade de energia que elas ainda poderiam produzir: 2.623 TWh (terawatts/hora). O terawatt corresponde a um bilhão de KWh (quilowatts/hora).
Desmontagem custará mais que a construção
A usina de Stade, onde trabalhavam 300 funcionários, ainda poderia funcionar até o final de 2004, mas sua proprietária, a E.ON, decidiu fechá-la antes da hora por pouca rentabilidade. Agora, a companhia pode transferir para outra central nuclear a quantidade de energia que caberia a Stade ainda produzir.
A desmontagem da usina, da qual escapou radioatividade várias vezes, é um projeto gigantesco. Ela consumirá 500 milhões de euros, portanto muito mais do que os 300 milhões de marcos (cerca de 153 milhões de euros) que sua construção custou. Mas a demolição propriamente dita só ocorrerá em 2014.
O futuro incerto da desativação
Em princípio, a primeira candidata à desativação era a usina de Obrigheim. Mas sua operadora, a EnBW, insistiu numa exceção e foi-lhe concedido prazo de funcionamento até o final de 2005. A próxima a cumprir os 32 anos de funcionamento é Biblis A e, pelos planos, a última central será desativada em 2021.
Até lá, porém, muita coisa pode acontecer, a começar por uma mudança de governo que reverta a política energética. As operadoras das centrais nucleares aceitaram a decisão do governo de má vontade. Elas consideram errada a política energética de Berlim, tendo em vista que algumas fontes de energia são perecíveis e que a energia nuclear ajudaria a cumprir as metas climáticas de redução das emissões de CO2.
Oposição quer prolongar prazo das centrais
O prazo de 20 anos é longo e a tentação de prolongá-lo parece grande. A indústria mostra-se reservada, mas alguns políticos já estão pregando a "desistência da desistência". A presidente da União Democrata Cristã (CDU), Angela Merkel, foi clara ao expressar sua posição: um governo encabeçado por seu partido, o maior de oposição, revogará a lei e possibilitará que a indústria "mantenha as centrais nucleares em funcionamento por quanto tempo quiser".
Uma perspectiva interessante para as operadoras. "Se a correlação de forças mudar em Berlim e a energia atômica renascer, as centrais nucleares poderiam funcionar por um prazo mais longo", diz Walter Hohlefelder, diretor da E.ON. Ele fala de 55 a 60 anos de funcionamento.
Os temores do Greenpeace
Isso é o que temem muitos defensores do meio ambiente. "Para as operadoras, num mercado liberalizado da energia, sempre convém que as usinas funcionem até o fim", diz Sussanne Ochse, do Greenpeace em Hamburgo. Ela adverte, ao mesmo tempo, para um outra forma de se minar o acordo de desistência da energia nuclear. Trata-se da construção de um reator europeu de água pressurizada (EPR), uma iniciativa da França. As companhias alemãs não excluem que venham a participar do projeto.
Até a eleição parlamentar de 2006, apenas a central de Obrigheim será desativada. Depois disso, ninguém sabe o que virá. "Nós estamos contentes com o fim de Stade", diz a porta-voz da Greenpeace, "mas isso não é motivo para se festejar".