Alemanha defende pacto nuclear com Irã
27 de junho de 2017Como um dos signatários do acordo nuclear com o Irã, em que sanções internacionais foram suspensas em troca da anuência de Teerã em abrir mão de seu programa de armas nucleares, a Alemanha está preocupada com ameaças do presidente americano, Donald Trump, de que os Estados Unidos poderiam se retirar do pacto.
Assim, não foi por acaso que o ministro do Exterior e vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, dedicou boa parte da coletiva de imprensa abordando a questão, após encontro com o colega de pasta iraniano, Mohammad Javad Zarif, nesta terça-feira (27/06) em Berlim.
Gabriel disse que o acordo havia impedido uma "irrestrita corrida nuclear armamentista" na região do Golfo e descreveu como "inabalável" o apoio alemão ao pacto.
"Apoiamos este acordo e queremos ajudar todas as partes em seus esforços para cumpri-lo", declarou o ministro alemão. "No papel da República Federal da Alemanha e de europeus, nos oporíamos a qualquer tentativa de pô-lo em questão."
Gabriel acrescentou que, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica, o Irã tem cumprido as suas obrigações quanto ao pacto. Na ocasião, Zarif agradeceu à Alemanha por ajudar a suspender o que ele chamou de "sanções injustas".
"Desde o início, Berlim desempenhou um papel importante nas negociações", disse Zarif. Além de Berlim, o acordo nuclear incluiu todos os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a União Europeia.
Punidos pelos atos dos outros?
Em Berlim, o ministro iraniano do Exterior também comentou a decisão da Suprema Corte americana que sancionou apenas parcialmente a proibição de entrada decretada por Trump para cidadãos de seis países de maioria muçulmana, incluindo o Irã, que o presidente americano acusa de patrocinar o terrorismo.
Usando o nome coloquial para a ordem executiva de Trump, Zarif disse que a "proibição muçulmana" iria antes encorajar em vez de impedir o terrorismo, como também estaria visando a grupos errados.
"É lamentável", disse Zarif. "Os cidadãos dos países na lista nunca participaram de nenhum atentado terrorista contra os Estados Unidos e ainda assim eles são punidos por atos de terrorismo por parte dos cidadãos de outros países. O problema é que, para alguns, o apoio ao terrorismo é medido por quanto dinheiro eles gastam comprando armas americanas e não por ações reais de terrorismo."
Gabriel não fez comentários sobre o assunto.
Não se podem escolher os vizinhos
Gabriel e Zafir afirmaram também haver discutido a crise diplomática no Oriente Médio, em que Arábia Saudita, Bahrein, Egito e Emirados Árabes Unidos estão rompendo relações e impondo embargos ao Catar.
Antes de sua visita a Berlim, Zafir instou a Europa a um papel maior, mas, de certa forma, Gabriel assumiu uma posição menos comprometedora, afirmando somente que a Alemanha, ao lado dos EUA, apoiam os esforços do emir do Kuwait para levar os dois lados à mesa de negociações.
O Irã tem apoiado o Catar no conflito, mas Zarif ressaltou que ambas as partes conflitantes não teriam alternativa a não ser aprender a viver lado a lado.
"Vizinhos não são uma escolha – eles são um fato", apontou o ministro do Exterior iraniano. "Um fato de geografia é um fato de geografia."
Mundos aparte
Críticos do Irã acusam Zarif de ser um diplomata habilidoso que esconde as duras políticas de seu governo por trás de um sorriso que agrada à mídia.
Gabriel reconheceu que, numa série de questões, incluindo os persistentes apelos do Irã pela erradicação de Israel, os dois países vivem em "mundos aparte."
"Mas isso não deve nos levar a questionar um campo em que temos conseguido sucesso", acrescentou o ministro alemão. "Não devemos nos aproveitar de conflitos em outras áreas, muitos dos quais existentes mesmo antes do acordo, para questionar o pacto nuclear."
Do lado de fora do Ministério alemão do Exterior, manifestantes anti-iranianos ergueram maquetes de forcas para protestar contra as violações dos direitos humanos por parte de Teerã e contra o apoio iraniano ao ditador sírio, Bashar al-Assad, na sangrenta guerra civil no país.
Os manifestantes gritavam "Vá embora Zarif", segurando cartazes exigindo o fim das execuções estatais no Irã.