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Alemanha confrontada com passado negro na Namíbia

Ina Rottscheidt/(sm)11 de agosto de 2004

Pela primeira vez um membro do governo alemão participa de uma cerimônia em memória às vítimas dos crimes cometidos pela Alemanha durante a época colonial. Mas o que as vítimas e seus descendentes podem esperar?

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Cem anos do massacre aos hereros: sob sombra do esquecimentoFoto: dpa

"Vou dizimar os rebeldes com enxurradas de sangue!" Foi com estas palavras que o comandante das tropas alemãs na África do Sudoeste, Lothar von Trotta, pronunciou a sentença de extermínio do povo de pastores dos hereros. No dia 11 de agosto de 1904, as tropas reais começaram a arrasar as tribos habitantes da atual Namíbia na batalha de Waterberg. Os africanos tinham feito resistência contra o desterro e os desmandos praticados pelos odiados ocupadores.

O primeiro genocídio dos alemães

Aufmarsch gegen aufständische Herero
Soldados alemães antes da ofensiva contra os hereros rebeldes, em 1904Foto: dpa

Os quatro anos de guerra subseqüentes são considerados pelos historiadores de hoje como o primeiro genocídio cometido pelos alemães. Segundo a avaliação da Sociedade para Povos Ameaçados (Gesellschaft für bedrohte Völker), o massacre fez 65 mil mortos entre os hereros e dez mil entre o povo nama. Os dois grupos étnicos foram praticamente exterminados. Sobreviventes foram encarcerados em campos de concentração ou forçados a trabalhar na construção de portos e da estrada de ferro.

Por ocasião do centenário da Batalha de Waterberg, a ministra alemã do Desenvolvimento, Heidemerie Wieczorek-Zeul, é a primeira política alemã a participar de uma cerimônia em memória às vítimas da violência colonial na Namíbia.

Os "mestres do racismo"

A visita à Namíbia foi precedida por uma discussão de meses sobre a postura da República Federal da Alemanha em relação aos crimes cometidos durante a época colonial. Na semana passada, Arnold Tjihuiko, representante do povo herero, chamou os alemães de "mestres do racismo". Embora o Parlamento em Berlim tenha destacado a "responsabilidade histórica e moral da Alemanha" pelo que aconteceu na Namíbia, Tjihuiko criticou no entanto a omissão de palavras como "culpa" e "genocídio". Para ele, isso significaria um "escárnio da política de reconciliação". Sua reivindicação: "Queremos que os alemães digam 'sinto muito'."

Sem desculpas

Wieczorek-Zeul auf einer Pressekonferenz
Ministra alemã do Desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul

Dificilmente se pode contar com isso, no entanto, segundo avalia Stefan Fischer, redator-chefe do Allgemeine Zeitung, o único jornal de língua alemã na Namíbia. Só em outubro de 2003 foi que o ministro alemão do exterior, Joschka Fischer, expressou "profundo pesar" e "grande dor" durante uma viagem à Namíbia. "Mas ele se recusou a pronunciar qualquer coisa que pudesse comprometê-lo a indenizar as vítimas. Não acredito que a ministra Wieczorek-Zeul venha a agir de outra forma", disse o jornalista.

Mas é justamente esta a questão. Em 2001, mais de 200 hereros abriram um processo contra a República Federal da Alemanha e contra empresas alemãs, remetendo-se às indenizações pagas aos judeus. O governo sempre rejeitou a reivindicação. Desde a independência da Namíbia da África do Sul, há 14 anos, 500 milhões de euros de ajuda ao desenvolvimento já foram destinados ao país. Trata-se da maior ajuda financeira per capita concedida à África, segundo o Ministério do Exterior.

"Ajuda constante é melhor"

Stefan Fischer não considera vantajoso o pagamento de indenização: "Uma ajuda geral, sem o privilégio de determinados povos, é muito mais sensata e justa, além de não provocar nenhum conflito étnico." Além disso, na opinião do jornalista, os crimes dos alemães na Namíbia foram cometidos há muito tempo, de modo que seria difícil de avaliar o número de vítimas e quantificar as indenizações."

Para Fischer, não daria para se falar de uma atmosfera adversa aos alemães na Namíbia. "Não é que todo herero tenha movido uma queixa contra a Alemanha e o governo namibiano também não. Declarações sobre os 'racistas alemães' são exceções, nada representativas entre o povo namibiano", assegura Fischer.