Alemanha cogita acolher russos em fuga de recrutamento
23 de setembro de 2022Ministros do governo alemão indicaram que, sob condições específicas, a Alemanha está pronta para receber cidadãos russos em fuga da mobilização militar parcial ordenada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. De acordo com o Ministério da Defesa russo, até 300 mil reservistas serão convocados, em meio à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.
"Desertores ameaçados de repressão podem, via de regra, obter proteção internacional na Alemanha", disse a ministra do Interior, Nancy Faeser, em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine.
"Qualquer um que se oponha corajosamente ao regime de Putin e, por isso, esteja em grande risco, pode pedir asilo por perseguição política", afirmou.
No Twitter, o ministro da Justiça alemão, Marco Buschmann, escreveu, usando a hashtag "mobilização parcial", que aparentemente muitos russos estão deixando o país.
"Qualquer um que odeie o caminho de Putin e ame a democracia liberal é bem-vindo na Alemanha", ressaltou na rede social.
Enquanto isso, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, elogiou os manifestantes russos contrários à guerra e acrescentou que ninguém dentro do país pode continuar fechando os olhos para o que está acontecendo na Ucrânia.
"Todo russo agora corre o risco de ser convocado para esta guerra", disse.
Rússia minimiza situação
Na quinta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, minimizou os relatos de homens em idade militar fugindo em massa da Rússia. Ele disse que as informações sobre a lotação nos aeroportos "são muito exageradas".
"Precisamos ter muito cuidado com isso para não nos tornarmos vítimas de informações falsas sobre esse assunto", afirmou.
Desde que Putin declarou uma mobilização parcial de reservistas,na quarta-feira, os voos dos próximos dias da Rússia para países que não exigem visto dos russos, como Armênia, Turquia, Azerbaijão e Sérvia, se esgotaram. Longas filas foram relatadas nas fronteiras terrestres da Rússia com a Geórgia, a Finlândia, o Cazaquistão e a Mongólia. Também houve protestos em pelo menos 38 cidades, com 1,3 mil detidos.
ONG pede acolhimento a desertores
A organização de direitos humanos Pro Asyl, com sede na Alemanha, também pediu que os países concedam asilo a desertores e dissidentes da Rússia e de Belarus, país aliado ao Kremlin.
"De acordo com a legislação da União Europeia (UE), aqueles que escapam de uma guerra que viola o direito internacional têm direito a asilo e proteção. Nesse sentido, a Alemanha e a Europa devem agora organizar de forma desburocratizada a admissão das pessoas contrárias à guerra de agressão russa", disse o chefe do departamento europeu da Pro Asyl, Karl Kopp, ao jornal Rheinische Post.
Desde que a Ucrânia foi invadida pela Rússia, em 24 de fevereiro, a Alemanha acolheu cerca de 1 milhão de ucranianos. Segundo Faeser, 438 dissidentes russos, incluindo jornalistas, também se beneficiaram de um processo acelerado para obter proteção na Alemanha.
No entanto, ela ressaltou que o asilo político não é concedido automaticamente - os requerentes são primeiro submetidos a verificações de segurança.
A Comissão Europeia também disse que as pessoas que fogem da mobilização parcial na Rússia têm o direito de solicitar asilo na UE. "Esta é uma situação sem precedentes", disse Anita Hipper, porta-voz da UE responsável pela migração.
Para Hipper, as aplicações precisariam ser analisadas caso a caso. Ela acrescentou que o trabalho está em andamento com os Estados-membros da UE para encontrar uma abordagem conjunta.
Países Bálticos se negam a receber russos
Na quarta-feira, após o anúncio de Putin, autoridades dos países membros da UE no Báltico (Letônia, Lituânia e Estônia) disseram que não oferecerão asilo a os russos em fuga.
O ministro das Relações Exteriores da Letônia, Edgars Rinkevics, citou preocupações de segurança por Riga se recusar a oferecer refúgio a essas pessoas.
Já o ministro das Relações Exteriores da Estônia, Urmas Reinsalu, disse que "a recusa em cumprir o dever cívico de alguém na Rússia ou o desejo de fazê-lo não constitui motivo suficiente para receber asilo em outro país".
Segundo informação divulgada pelo porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano, cerca de 500 mil russos já deixaram o país desde o início da guerra.
le/lf (AFP, dpa, ots)