"Alemanha adota postura dominadora na Europa"
29 de junho de 2017Nenhuma missão da Bundeswehr no exterior, fim das exportações alemãs de armas e limite para o acolhimento de refugiados: em entrevista à DW, a candidata a chanceler federal do partido A Esquerda para as eleições de setembro na Alemanha, Sahra Wagenknecht, delineou as posições de seu partido.
A entrevista, conduzida pela editora-chefe da DW, Ines Pohl, e pelo apresentador da DW Arabia Jaafar Abdul Karim, deu início a uma série com os principais candidatos nas eleições legislativas alemãs.
Wagenknecht reiterou sua posição de que a Alemanha não pode acolher um número ilimitado de refugiados. A declaração já lhe rendera duras críticas dentro do próprio partido. "Ao acolher pessoas, nós não ajudamos os mais necessitados, pois eles nem mesmo conseguem chegar até a Alemanha. Por isso eu acho muito mais importante ajudar as pessoas no país delas."
Ela aproveitou para criticar a política de refugiados do atual governo, liderado pela chanceler federal Angela Merkel. "Ela tomou decisões de forma unilateral, as quais desagradaram os outros. Todas as decisões foram unilaterais. Essa não é a maneira de lidar com os parceiros na Europa." Para ela, a Alemanha precisa rever radicalmente seu papel na relação com os outros países da União Europeia (UE). "A Alemanha é, hoje, um país que age na Europa de forma dominadora e não mais em parceria."
Críticas à Arábia Saudita
Wagenknecht também foi clara em relação ao papel da Bundeswehr (Forças Armadas): A Alemanha deve se manter afastada das guerras no mundo, o que inclui a luta contra o terrorismo do "Estado Islâmico" na Síria. "Acho desonesto dizer que nós estamos em guerra contra o terrorismo e, ao mesmo tempo, cooperar e até mesmo enviar armas para francos apoiadores do terrorismo."
A líder esquerdista, que várias vezes criticou as exportações de armas da Alemanha para a Arábia Saudita, atacou de forma dura o regime em Riad. "A Arábia Saudita desempenha um papel miserável nessa história toda: eles não só participam da guerra na Síria como comprovadamente armaram grupos terroristas islamistas na Síria."
Wagenknecht também atacou de frente a Turquia e o presidente Recep Tayyip Erdogan, bem como a associação islâmica alemã Ditib, que é apoiada pelo governo turco. "Devemos tomar cuidado para não apoiar, até mesmo com dinheiro público, determinadas organizações na Alemanha que estimulam a desintegração social, que disseminam o ódio, por exemplo nas mesquitas. A Ditib é uma dessas organizações, ela é comandada diretamente por Erdogan, pelo governo turco", afirmou.
Ela já havia se declarado contra o pedido de Erdogan para discursar perante apoiadores em Hamburgo, num evento às margens do próximo encontro do G20, marcado para os dias 7 e 8 de julho. O governo da Alemanha já rejeitou o pedido.
Prontos para governar?
Wagenknecht, que é também líder da bancada de A Esquerda no Bundestag, afirmou ainda que seu partido está pronto para governar. Há cerca de três semanas, o partido divulgou um programa de governo claramente de esquerda e fortemente influenciado pelas posições de Wagenknecht, o que foi entendido como uma rejeição a uma possível coalizão com o social-democrata SPD e o Partido Verde. "Eu quero governar, mas não quero fazer política neoliberal. Eu não quero colaborar com um capitalismo predatório desenfreado", disse à DW.
A esposa de Oskar Lafontaine, um dos principais nomes de A Esquerda, também revelou detalhes da sua vida privada. Postagens nas contas dela no Twitter e no Facebook são muitas vezes escritas por ela mesma. Ela também disse que gosta de dormir até mais tarde quando tem tempo. E, ao ser questionada sobre qual outro candidato ela levaria consigo para uma ilha deserta, Wagenknecht escolheu o líder do Partido Liberal Democrático (FDP), Christian Lindner. A explicação: como os dois não têm nada em comum, as razões para brigar são poucas.