Ala bolsonarista sofre novas derrotas em meio à crise no PSL
19 de outubro de 2019Em novos capítulos da crise que assola o partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL anunciou nesta sexta-feira (18/10) a suspensão de cinco deputados da ala bolsonarista, ampliou a representação do grupo contrário ao presidente no diretório nacional da sigla e confirmou a troca de comando em diretórios regionais chefiados por filhos do chefe de Estado.
Também nesta sexta-feira, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), acusou Bolsonaro de tentar comprar deputados para apoiarem a nomeação de seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) para a liderança da bancada na Casa, derrubando Waldir.
Tudo ocorre em meio a uma barulhenta disputa pública entre Bolsonaro e o presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE), pelo controle do partido. A crise interna se agravou na semana passada em meio a trocas de farpas e provocou um racha na legenda.
A suspensão das atividades partidárias de cinco deputados bolsonaristas, decidida pela comissão executiva do PSL, foi motivada por uma lista que visava destituir Waldir e tornar Eduardo Bolsonaro o novo líder do partido na Câmara. Segundo a imprensa brasileira, o presidente da República atuou pessoalmente para influenciar o processo.
Foram suspensos os parlamentares Alê Silva (MG), Bibo Nunes (RS), Carlos Jordy (RJ), Carla Zambelli (SP) e Filipe Barros (PR). Waldir explicou que os deputados terão direito de resposta, mas a suspensão tem início imediato.
"Suspensão de todos os direitos, qualquer manifestação no plenário, suspensão de colocar nome em lista representando o PSL de escolha do líder do partido. O partido só está usando a legislação", afirmou o líder da legenda na Câmara. Assim, a medida dificulta uma eventual nova tentativa de nomear Eduardo para a liderança partidária.
Segundo as regras da Casa, a mudança na liderança de um partido é oficializada com um documento direcionado ao presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e assinado pela maioria absoluta dos parlamentares da legenda.
Na quarta-feira, uma lista com 27 assinaturas foi protocolada pela ala bolsonarista pedindo a substituição de Waldir por Eduardo. Os cinco deputados suspensos nesta sexta-feira assinaram esse documento.
No mesmo dia, o filho do presidente chegou a se pronunciar como novo líder da bancada no Salão Verde da Câmara, mas não durou muito: aliados de Bivar logo protocolaram outra lista pela manutenção de Waldir, essa com 32 assinaturas.
Como as duas listas somavam 59 assinaturas, e o PSL possui 53 deputados, a área técnica da Câmara precisou conferir os documentos. Na quinta-feira, após a contagem dos nomes, a Casa validou a lista favorável a Waldir, com 29 assinaturas válidas e a única com apoio de mais da metade dos deputados do partido.
A lista enviada pelos bolsonaristas tinha apenas 26 nomes que batiam com o cartão de assinaturas preenchido por cada deputado ao assumir o mandato. O grupo do presidente chegou a protocolar uma terceira lista, também com 27 assinaturas, mas só 24 foram validadas.
Acusação de compra de votos
Nesta sexta-feira, Waldir afirmou que Bolsonaro tentou comprar parlamentares para assinarem a lista favorável à nomeação de Eduardo, em troca de cargos e do controle do partido.
"A questão da implosão era o áudio que foi divulgado do presidente tentando comprar parlamentares ao oferecer cargos e o controle partidário para aqueles parlamentares que votassem no filho do presidente", disse o deputado ao deixar uma reunião do partido em Brasília.
Questionado pela imprensa brasileira, Waldir indicou que o PSL não deve tomar medidas contra o presidente em relação à acusação, afirmando que isso cabe à sociedade, ao Congresso e aos partidos decidirem, se "entenderem que é motivo para pedir um impeachment".
O áudio de Bolsonaro a que Waldir se refere é a gravação de uma conversa em que o presidente pede o apoio de parlamentares para tirar o deputado do cargo de líder do partido na Câmara. O áudio foi revelado pela revista Época na quarta-feira e gravado de maneira oculta no Palácio do Planalto no mesmo dia, em meio à guerra pela liderança da bancada.
No dia seguinte foi vazado um segundo áudio, dessa vez de uma conversa de Waldir, em que ele afirma que vai "implodir" o governo de Bolsonaro e chama o presidente de "vagabundo".
"Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo", diz Waldir no áudio, gravado em seu gabinete na quarta-feira.
Mais tarde, aos ser questionado sobre a gravação, Waldir recuou e disse que a declaração foi feita num "momento de emoção". Nesta sexta-feira, ele voltou a elevar o tom e afirmou que "não retira nada" do que falou no áudio.
"Nada do que eu falei é mentira. Se você for traído, como vai se sentir? Eu fui traído. O presidente pessoalmente está interferindo para me tirar da liderança. Isso não é traição, isso não é vagabundagem?", declarou o parlamentar mais cedo.
O jornal Folha de S. Paulo revelou nesta mesma sexta que Bolsonaro acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para processar Waldir por ameaça. Segundo o diário apurou, a equipe do advogado-geral André Mendonça está estudando quais medidas criminais podem ser aplicadas contra o deputado.
Ala pró-Bivar se fortalece
Em mais uma derrota para o presidente na disputa interna do partido, a ala que apoia Bivar aumentou nesta sexta-feira sua representação no diretório nacional da legenda. Em reunião em Brasília, foram eleitos 52 novos integrantes para o órgão, que passou a ter 153 membros.
Segundo a Folha de S. Paulo, parlamentares presentes na convenção afirmaram que a maioria dos novos membros é da ala pró-Bivar. Integrantes do diretório nacional da legenda têm direito a voto na eleição em novembro para a presidência do PSL.
O partido confirmou ainda a saída do deputado Eduardo e do senador Flávio Bolsonaro (RJ) dos comandos dos diretórios da sigla em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente. A destituição havia sido antecipada pela imprensa brasileira nesta semana.
Segundo o senador Major Olimpio, líder do PSL no Senado, parlamentares do partido nos dois estados apresentarão na próxima semana listas com as novas composições nas executivas estaduais, para que o presidente da legenda efetue as trocas no comando.
"Há uma exigência dos parlamentares nos estados da total impossibilidade de se prosseguir. Um dos grandes problemas que gerou conflito do presidente com o partido foi o Eduardo Bolsonaro. Onde há insatisfação dos parlamentares do Rio, dizendo 'nós não queremos mais'? Flávio Bolsonaro", declarou Olimpio, citado pela Folha.
Crise no PSL
Oficialmente, o grupo de Bolsonaro no PSL mantém o discurso de que está insatisfeito com Bivar por causa da falta de transparência no comando da sigla e a eclosão das suspeitas em torno das candidaturas de fachada em Pernambuco.
Ainda assim, o próprio presidente da República vinha insistindo em manter no cargo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que também é suspeito de comandar um esquema similar de candidaturas laranjas em Minas Gerais.
Já os apoiadores de Bivar acusam o grupo do presidente de querer controlar a gorda fatia do fundo partidário que cabe ao PSL desde que a sigla se tornou a segunda maior bancada da Câmara. O fundo deve chegar a 110 milhões de reais neste ano.
Independentemente do motivo da disputa, uma troca de farpas entre Bolsonaro e Bivar na semana passada acabou detonando uma crise interna na legenda.
Nos dias que se seguiram, a imprensa brasileira revelou que Bolsonaro e seus aliados no PSL planejam deixar a sigla. Porém, o plano ainda esbarra nas regras eleitorais, já que os deputados bolsonaristas que resolverem eventualmente deixar a legenda correm o risco de perder o mandato por infidelidade partidária.
EK/dw/ots
_______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube
| App | Instagram | Newsletter