Aviso aos terroristas
2 de maio de 2011O especialista em terrorismo internacional Rohan Gunaratna aproximou-se perigosamente de redes terroristas temidas no mundo ocidental. Como pesquisador-chefe do Centro Internacional para Estudo da Violência Política e Terrorismo da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, ele já entrevistou membros da organização comandada por Osama bin Laden e publicou livros que explicam o funcionamento da Al Qaeda.
O especialista conversou com a Deutsche Welle sobre o futuro da rede terrorista e prevê novos ataques comandados por simpatizantes de Osama bin Laden. Gunaratna afirma também que a operação norte-americana enviou uma mensagem clara aos terroristas: a de que eles não estão seguros.
Deutsche Welle: Sr. Gunaratna, o que vai acontecer agora com Al Qaeda?
Rohan Gunaratna: A Al Qaeda vai continuar a aperar ativamente como uma rede terrorista por duas razões. A primeira deve-se ao fato de que, desde o 11 de Setembro, Bin Laden criou regras operacionais muito rígidas no que diz respeito ao cotidiano da organização.
A organização era administrada em grande parte pelo doutor Ayman Al Zawahiri, vice-líder da Al Qaeda e sucessor designado de Bin Laden. Então ela vai continuar ativa e os grupos que receberam assistência de Bin Laden, ou seja, dinheiro, treinamento e suporte ideológico, prosseguirão com os ataques terroristas.
Sob muitos aspectos, não haverá mudanças imediatas no que diz respeito ao status da ameaça global.
O senhor acredita que o Ocidente pode esperar agora uma reação imediata por parte desses grupos?
Sim. A Al Qaeda e seus associados irão retaliar, irão buscar vingança. A curto prazo, eles conseguirão fazer ataques de pequena e média escala. A longo prazo, farão ataques maiores e mais significativos.
Por isso, é importante que os governos ocidentais trabalhem muito próximos entre si e também com a população a fim de previnir a reorganização da Al Qaeda e de seus grupos associados.
Os Estados Unidos deverão ser o alvo principal?
Os Estados Unidos continuam sendo o alvo número um da Al Qaeda e de seus grupos associados. Mas a segurança norte-americana também é boa e tornou-se muito difícil para esses grupos conseguirem promover ataques dentro dos Estados Unidos. Para eles, é muito mais fácil procurar alvos norte-americanos na Ásia, na África e no Oriente Médio.
Como o senhor avalia o poder atual da Al Qaeda? É ainda um grupo forte ou já foi enfraquecido?
A Al Qaeda foi um grupo operacional muito poderoso antes do 11 de Setembro. Depois desta data, a organização se tornou, majoritariamente, um grupo ideológico e de treinamento. Enquanto que grupos associados, como a Al Qaeda no Magreb islâmico, a Al Qaeda na península arábica, a Al Qaeda no Iraque e o Talibã no Paquistão, ficaram muito mais fortes e capazes de operar.
Na maioria das vezes, a Al Qaeda de Osama bin Laden tem atuado mais como coordenadora, facilitadora e apoiadora do que como um centro de operações militares.
Como o senhor adquiriu tantas informações sobre o grupo? Qual o seu contato com a organização e com seus membros?
Eu já entrevistei muitos membros da Al Qaeda e de grupos associados, como o Talibã. Também trabalhei em vários documentos preparados pelo governo norte-americano e por outros governos.
Por último, visitei países que estão sofrendo com conflitos. No último ano, estive no Iraque, no Afeganistão, no Iêmen, duas vezes no Paquistão, duas vezes na Arábia Saudita e duas vezes na Líbia, além de outros países do Sudeste Asiático. Foram muitas pesquisas, interações, encontros e leitura de documentos, e assim vim estudando a Al Qaeda.
Como foi a aproximação com esses grupos, como o senhor conseguiu esse acesso?
Foi por meio do constante diálogo e de discussões com esses grupos. Mas certamente é algo que não se pode fazer por um período muito longo porque exige muito planejamento e é muito arriscado.
Com a morte de Osama bin Laden, o senhor acredita que grupos terroristas podem ganhar novos simpatizantes?
Sim, haverá novos simpatizantes e apoiadores, mas a morte de Bin Laden transmite uma mensagem muito importante: você pode correr, pode se esconder, mas, no fim das contas, eles virão e te pegarão.
Essa operação enviou uma mensagem a todos os terroristas, simpatizantes e apoiadores do terrorismo: vocês não estão seguros.
Entrevista: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler