AI denuncia falhas da Alemanha ao lidar com crimes de ódio
9 de junho de 2016Um relatório divulgado pela ONG Anistia Internacional (AI) nesta quinta-feira (09/06) faz graves críticas às autoridades alemãs pela forma como reagem aos crimes de ódio ocorridos no país, em meio ao aumento dos ataques a centros de acolhimento a refugiados.
"As autoridades federais e estaduais alemãs devem estabelecer estratégias abrangentes para evitar ataques aos abrigos de refugiados. É urgentemente necessária maior proteção policial aos locais identificados como de alto risco", afirmou em comunicado o pesquisador da AI, Marco Perolini.
Em março, o coletivo de jornalistas Correctiv e a revista alemã Der Spiegel denunciaram que a maioria dos crimes contra os abrigos em 2014 ainda não havia sido solucionada. Das 157 investigações, apenas 15 levaram a condenações.
Segundo a AI, em 2015, houve na Alemanha 1.031 casos de crimes contra centros de acolhimento, ou seja, 16 vezes mais do que os 63 cometidos em 2013. Ao mesmo tempo, "a violência racista contra minorias étnicas e religiosas aumentou 87%, de 693 crimes em 2013 para 1.295 em 2015", diz o relatório.
A ONG pede que na próxima Conferência dos secretários do Interior dos estados alemães, a ser realizada entre os dias 15 e 17 de junho, seja adotada uma abordagem de "proteção aos abrigos de refugiados em antecipação aos ataques racistas", para que a polícia possa agir a tempo.
A AI solicita também que as empresas particulares de segurança, responsáveis pela proteção de diversos centros de acolhimento, sejam investigadas pelas autoridades.
"Racismo institucional"
A secretária-geral da AI na Alemanha, Selmin Caliskan, mencionou dados fornecidos pelo Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA), que comprovariam que, desde 2015, teriam sido registrados mais de 1,2 mil ataques com motivação política a abrigos de refugiados.
Entretanto, nem sempre é possível distinguir concretamente os ataques de cunho racista dos que resultam simplesmente da rejeição da população aos abrigos.
A AI ainda suspeita de "racismo institucional" na polícia, no judiciário e por parte de outras autoridades. Caliskan aponta uma "inabilidade de tratar todas pessoas de modo profissional e adequado, independentemente de sua cor, cultura ou origem".
O presidente do sindicato dos policiais da Alemanha, Rainer Wendt, nega as acusações da AI, afirmado que a corporação não precisa de lições da ONG sobre como deve agir.
Ele diz que muito está sendo feito na área de competências interculturais e admite que há um déficit de pessoal e técnico, mas, segundo ele, isso não ocorre no que diz respeito aos direitos humanos.
Wendt foi ainda mais longe ao afirmar que a própria polícia, e não a Anistia Internacional, é a maior organização de direitos humanos na Alemanha.
RC/dw