Crise do Irã
10 de abril de 2007Em discurso em homenagem ao "dia nacional da energia atômica", realizado nas instalações de enriquecimento de urânio em Natanz na segunda-feira (09/04), o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad declarou que seu país estaria, a partir daquela data, na lista dos países capazes de produzir combustível nuclear.
Antes do discurso do presidente, o chefe da agência local de energia atômica, Golam Reza Agazade, informou que o Irã já poderia enriquecer urânio em "escala industrial". Após cinco anos de pesquisas e testes, Agazade afirmou que uma nova fase de trabalhos estaria se iniciando em torno do programa nuclear iraniano.
"Provocação" e "desrespeito" foi como a comunidade internacional reagiu ao discurso de Ahmadinejad, cuja habilidosa encenação é considerada, por parte da mídia, como reflexo de seu enfraquecimento de poder e da perda de popularidade.
Sanções da ONU
Ahmadinejad reafirmou o direito do uso pacífico da energia atômica pelo Irã, um dos signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) e criticou, novamente, a resolução da ONU de duas semanas atrás. Esta prevê embargo de armas, restrições de viagens e congelamento de contas no exterior, caso Teerã não suspenda seu programa de enriquecimento de urânio em 60 dias.
Ali Larijani, principal negociador nuclear iraniano, declarou em Natanz que três mil centrífugas para o enriquecimento de urânio estariam instaladas. Se as sanções da ONU forem aplicadas, Larijani ameaçou com uma atitude mais dura de seu país, e não descartou a saída do Irã do TNP.
Conforme seu grau de enriquecimento, o urânio pode ser usado para fins civis ou militares. O Irã já foi rebateu várias vezes a suspeita de estar trabalhando na construção da bomba atômica. O chefe da agência de energia atômica local, Golam Reza Agazade, comunicou nesta terça-feira que o Irã pretende instalar até 50 mil centrífugas nas instalações de Natanz.
Rússia, EUA, ONU e a mídia
Os EUA vêem a declaração iraniana como um desrespeito à comunidade internacional. "Isto trará conseqüências para o povo iraniano", comentou um porta-voz do ministério norte-americano das Relações Exteriores. Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, exigiu que o Irã cumprisse, por completo, a resolução das Nações Unidas. O governo russo comentou a atitude de Ahmadinejad como um "desafio direto à comunidade internacional".
O jornal francês Ouest-France comentou que "as ambições atômicas do Irã estariam mais intactas do que nunca, com ou sem Ahmadinejad. O desejo iraniano da bomba não enfraqueceu um milímetro, nem mesmo entre os mais moderados. Neste caso, a diplomacia ocidental fracassou".
Já o diário parisiense Figaro comenta: "Se Teerã puser o Tratado de Não-Proliferação Nuclear em questão, isto provocará um maior distanciamento de Moscou e Pequim. E de países árabes preocupados com uma potência nuclear no Golfo Pérsico".
Para o romano La Repubblica, "Ahmadinejad recorre à uma encenação habilidosa para acirrar a paixão nacionalista iraniana, num momento em que se encontra enfraquecido, em seu país, devido à queda de popularidade como também devido à briga de poder entre forças conservadoras e reformistas".
Negociações urgentes
Respondendo à pergunta se o Irã estaria um passo mais próximo da bomba, Volker Perthes, especialista em Oriente Médio e diretor da Fundação Ciência e Política de Berlim, explica que, possivelmente, o país estaria mais próximo de um enriquecimento industrial.
Mas isto também seria motivo de dúvidas iniciais. "Possuir três mil centrífugas não significa que elas estejam em operação", afirmou Perthes.
De qualquer maneira, Perthes não acredita que o Irã desistirá do enriquecimento de urânio, por isso seria importante iniciar o mais rápido possível negociações que ao menos restrinjam as possibilidades de um uso militar. "Acredito que ainda há chance para tal", comentou o cientista.