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Agricultores no poder, professores no campo

Elizabeth Shoo (sv)2 de abril de 2015

Mao Tsé-Tung governa a China durante 27 anos, sendo um dos políticos mais importantes, mas também mais polêmicos do país. As opiniões sobre ele se dividem, também entre vó Huifang e vô Zhen.

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Foto: Getty Images

O que aconteceu com os intelectuais durante a Revolução Cultural?

No início da Revolução Cultural, entre 1966 e 1968, a situação na China se assemelhava à de uma guerra civil. Os chamados "falsos intelectuais" foram humilhados, torturados e até mortos em público. Eram todos contra todos. Membros de uma mesma família denunciavam uns aos outros. As escolas e universidades do país tiveram que ser fechadas. As multidões invadiam órgãos públicos, expulsando seus funcionários e assumindo os postos de trabalho.

Vó Huifang já era, antes da Revolução Cultural, diretora de uma escola de ensino fundamental. Ao contrário de muitos outros professores, ela conseguiu permanecer no cargo até se aposentar. "Talvez isso tenha acontecido em função da minha boa rede de contatos com colegas na escola, uma rede que mantenho até hoje", diz ela. Praticamente nenhum colega a denunciou, o que na época era uma raridade.

Com seu marido, vô Zhen, a situação foi diferente. Ele era pedagogo e já em 1958 passou a ser considerado um "direitista", ou seja, um dissidente de direita. Ele perdeu o emprego e foi obrigado a assumir trabalhos pesados, em fábricas, no porto ou na produção rural.

Por que Mao via os intelectuais como inimigos?

Mao queria tirar do caminho tudo o que pudesse ser um obstáculo à Revolução Cultural. Para isso, contou com a ajuda da Guarda Vermelha, formada sobretudo por jovens desempregados que se entusiasmavam facilmente pelas ideias do líder. Pouco depois do início da revolução, em 1966, a Guarda Vermelha deliberou o programa dos 23 Pontos, que deveria servir de diretriz rumo às metas estabelecidas. "Os intelectuais deverão trabalhar em pequenos povoados", era uma das máximas, ao lado de outras como: "As empresas comerciais devem ser reorganizadas, a fim de servir aos operários, agricultores e soldados". Esses pontos mostram como Mao favorecia os trabalhadores mais simples.

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Manifestantes durante a Revolução Cultural, em agosto de 1966Foto: AP

"Mao se opunha aos intelectuais porque dizia que eles muitas vezes tinham origem burguesa", afirma Barbara Mittler, sinóloga da Universidade de Heidelberg. "Além disso, os intelectuais tinham acumulado mais saber e bloqueavam, na visão de Mao, algumas medidas de alfabetização no país. Eles impediam que outras classes tivessem acesso a novos conhecimentos."

Os membros da Guarda Vermelha atacavam os "impulsos contrarrevolucionários" da sociedade, praticando justiça com as próprias mãos, inclusive linchamentos. Intelectuais que defendiam o sistema capitalista, entre eles professores e médicos, eram vistos como inimigos. O saldo de mortos no país naquele momento foi de centenas de milhares.

Mao é visto na China como um ditador?

Vó Huifang tem uma posição menos crítica frente a Mao que seu marido, talvez por sua vida ter sido menos atingida pela política maoísta que a dele. Mesmo assim, ela acentua constantemente que os 20 anos sob o domínio de Mao foram "um absurdo completo". Segundo ela, "Mao cometeu um grande erro". Já vô Zhen diz que Mao foi um dos piores ditadores da história chinesa. Contudo, até os anos 1980, quando a história da Revolução Cultural veio em parte à tona, vô Zhen nutria certa simpatia por Mao.

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Vó Huifang e vô Zhen têm opiniões diferentes sobre MaoFoto: privat

Até hoje, Mao é considerado na China um dos maiores políticos nacionais, não sendo visto como ditador, mas sim como herói, por ter, entre outras coisas, unificado o país em 1949. "Ele é visto como pai do país unificado, como um grande político", diz Mittler. "Ditador não é exatamente a denominação que os chineses usam para defini-lo."