Advogado de 32 anos leva clã Kennedy de volta a Washington
7 de novembro de 2012A sobrevida da dinastia política mais famosa dos Estados Unidos está nas mãos de um advogado de 32 anos, sem qualquer experiência na área, mas – como vem descrevendo a imprensa americana – com carisma e uma habilidade natural no trato com eleitores. Joseph Kennedy III, neto do ex-senador Robert F. Kennedy e sobrinho-neto do ex-presidente John F. Kennedy, foi eleito deputado nas eleiçoes de terça-feira (06/11) e será o responsável, após um intervalo de quase dois anos, por levar o nome da família de volta a Washington.
O clã estava sem representantes na política americana desde o início de 2011, quando terminou o mandato de Patrick J. Kennedy como deputado. Desde a morte de seu pai, Edward, senador e irmão de John e Robert, Patrick era o único Kennedy em Washington, e sua saída do Congresso deixou a família sem cargos eletivos nos Estados Unidos pela primeira vez em mais de seis décadas.
Joseph Kennedy III foi eleito pelo estado de Massachusetts, reduto político da família. Derrotou, com cerca de 60% dos votos, o republicano Sean Bielat e vai ocupar na Câmara dos Representantes a vaga deixada pelo democrata Barney Frank, deputado por mais de 30 anos. Eleito, seu desafio agora será resgatar o nome de uma família que jamais deixou de despertar o interesse dos americanos, mas que, para muitos, estava experimentando o seu fim político.
“A vitória de Joseph Kennedy III pode ser considerada uma das mais notáveis histórias deste ano na política dos Estados Unidos, especialmente se ele conseguir reavivar a empolgação em torno do nome da família”, disse à DW Brasil Thomas Maier, autor do livro "The Kennedys: America's Emerald Kings" (Kennedy: os reis esmeralda da América, em tradução livre - uma referência à ascendência irlandesa da família).
Escândalos na família
A eleição de Joseph pode ajudar a deixar para trás um período de publicidade ruim para a família, aberto com a saída de Patrick J. Kennedy da política. Com problemas com drogas, álcool e no centro de uma série de polêmicas, Patrick, especula-se, não teria aguentado a pressão de ser o remanescente da dinastia no Congresso.
Em maio de 2011, Mary Richardson Kennedy, mulher de Robert F. Kennedy Jr., foi encontrada morta, enforcada, em um celeiro em Nova York. Divergências sobre o enterro levaram parte da família a não comparecer.
Semanas depois, a ativista Kerry Kennedy, filha de Robert F. Kennedy, envolveu-se num acidente de trânsito supostamente sob influência de drogas e foi acusada de fugir. Mais recentemente, o nome da família vinha chamando a atenção dos tabloides devido ao romance entre Conor Kennedy, filho de Robert F. Kennedy Jr., e a cantora pop Taylor Swift.
Imagem impecável
Diferentemente de muitos de seus parentes, Joseph Kennedy III levou a vida longe dos holofotes – e parte de seu apelo vem justamente disso. Ao lado do irmão gêmeo, Matt, cresceu nos subúrbios de Boston e frequentou as melhores escolas. Estudou na prestigiada Universidade de Stanford, serviu no programa de voluntários Peace Corps e se formou pela faculdade de Direito de Harvard.
Ele não consome bebidas alcoolicas, o que na faculdade rendeu-lhe o apelido de milkman. Após se formar, foi trabalhar como promotor-assistente em Massachusetts, cargo que deixou para concorrer ao Congresso. A imagem de político ideal foi consolidada pouco depois, pelo noivado com Lauren Anne Birchfield, namorada de longa data.
“Joe mostra uma habilidade impressionante com os eleitores. Seu currículo como promotor remete a seu avô Bobby Kennedy, que participou da comissão do Senado que investigou a presença da máfia nos sindicatos e foi secretário de Justiça”, afirma Maier.
Ideias liberais
Quando anunciou sua candidatura, no início do ano, Joseph Kennedy III atraiu a atenção por suas posições contra o bipartidarismo e o que chamou de “atmosfera de ódio” na política americana. Ele apoia o casamento gay, a reforma no sistema de saúde e a busca por energias renováveis. Foi criticado pela inexperiência e, às vezes, por evitar a imprensa, mas, como o jornal Boston Globe definiu, “tem um talento natural para a política” que se sobrepõe a isso.
“Obrigado, eleitores de Massachusetts por me elegerem congressista. Estou honrado e empolgado para começar a trabalhar”, escreveu no Twitter após a confirmação da vitória.
Joseph costuma dizer que entrou na política por iniciativa própria, e afirma ser mais do que um sobrenome famoso. Mas ligá-lo aos parentes é inevitável. Quando decidiu concorrer ao Congresso, por questões burocráticas teve que mudar de região em Massachusetts. O local escolhido, Brookline, é a cidade natal de seu tio-avô John F. Kennedy, assassinado em 1963, quando era presidente.
Além disso, foi com a ajuda da família que ele conseguiu arrecadar mais de 4 milhões de dólares para a sua campanha, valor quase seis vezes superior ao obtido por seu adversário. Apesar dos 84 anos, sua avó Ethel Kennedy já foi vista em comícios ao lado do neto. Nas primárias democratas, sua tia Caroline, filha de John F. Kennedy, ofereceu um jantar em seu luxuoso apartamento em Manhattan ao preço de US$ 5 mil por pessoa para ajudar na campanha do sobrinho.
Antes mesmo da eleição, Sean Bielat, talvez já prevendo a derrota, não escondia a frustração de ter que enfrentar um Kennedy. Em 2010, perdera a disputa com o experiente Barney Frank e via agora, com a aposentadoria do democrata, a chance de entrar no Congresso.
“Esse jovem não fez nada antes de se candidatar ao Congresso. Ele não merece isso tudo”, disse Bielat. “Mas concorrer contra um Kennedy significa concorrer contra essa coisa amórfica que a imprensa adora cobrir, e geralmente com termos bajuladores”.
Autor: Rafael Roldão
Revisão: Francis França