Advertências de Merkel ao Irã na Conferência de Segurança
4 de fevereiro de 2006O controvertido programa de enriquecimento de urânio do Irã foi o tema da troca de farpas entre a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e o vice-ministro das Relações Exteriores do Iraque, Abbas Araghchi, durante a Conferência Internacional sobre Segurança, em Munique, neste sábado (04/02).
Merkel pressionou o Irã a aceitar as negociações oferecidas pela comunidade internacional. Araghchi prontamente ameaçou com a escalada do conflito, se o caso fosse levado ao Conselho de Segurança (CS). Merkel ressaltou que a remessa do caso ao CS "não é nenhuma provocação" e que o órgão é o "local legítimo" para resolver o impasse.
Ela acentuou ainda haver uma chance, em fevereiro, para negociar a solução sugerida pelos russos, de enriquecer urânio iraniano na Rússia. Merkel vê na proposta "uma enorme disposição para o consenso por parte dos norte-americanos".
"Pequenas atividades" em laboratórios iranianos
"O Irã ultrapassou a linha vermelha de propósito", acusou. Existe o "temor justificado" de que o programa nuclear iraniano não serve ao uso pacífico, e sim às alternativas militares, assinalou, completando: "Nós queremos e temos de impedir o desenvolvimento de armas nucleares iranianas".
O representante iraniano rebateu, mostrando-se surpreso que Merkel considere que as "pequenas atividades em nossos laboratórios sejam uma violação à linha vermelha". Ao mesmo tempo, ameaçou com uma escalada do conflito, se o caso fosse levado ao Conselho de Segurança. No decorrer do dia, isto seria confirmado pelo vice-chefe do Conselho Nacional de Segurança do Irã, Javad Vaidi.
Ele anunciou em Viena que o programa de enriquecimento de urânio do Irã, suspenso em outubro de 2003, será reiniciado de imediato. Araghchi acusou os europeus de tática errada para solucionar o conflito e o Ocidente de dupla moral: "Pois ignora as ameaças a que Teerã está submetida".
"Provocações" contra Israel
Merkel respondeu que "teria ficado muito contente" se ele tivesse falado das citações do presidente Ahmadinedjad ou sobre o direito de existência de Israel. A chefe de governo da Alemanha também criticou duramente as "provocações" de Ahmadinedjad.
"Um presidente que questiona o direito de existência de Israel e a ocorrência do Holocausto não pode esperar o mínimo de tolerância da Alemanha", declarou Merkel, sob o aplauso dos 300 políticos e militares que participam da conferência. Justamente a Alemanha tem a obrigação de resistir a estas tentativas e mostrar com toda a clareza ao Irã onde estão os limites, afirmou.
A chefe do governo alemão destacou ainda o interesse da comunidade internacional numa solução diplomática para o conflito e lembrou que a solução do impasse está nas mãos do Irã. Para ela, em vista do alcance dos mísseis iranianos, não só Israel tem motivos para preocupação, mas também a Europa.
Merkel, que salientou também a importância da Rússia na solução do conflito, declarou que, quanto maior o consenso internacional, maiores as chances de convencer Teerã a ceder.