Acordo UE-Mercosul é prioridade, diz comissária europeia
13 de junho de 2019A comissária da União Europeia (UE) para o Comércio, Cecilia Malmström, afirmou nesta quinta-feira (13/06) que a conclusão das negociações de um acordo de livre-comércio com o Mercosul é sua "prioridade número um" e que pretende fechar o pacto antes do término do atual mandato da Comissão Europeia, em 31 de dezembro.
"Há assuntos complicados faltando, como agricultura e alguns outros. Eu acho que há uma janela para fechar o acordo durante o atual mandato desta Comissão, e essa é minha prioridade número um agora", declarou Malmström em Bruxelas, durante uma conferência sobre a política comercial da UE organizada pelo centro de estudos Bruegel.
O tema veio à tona depois de o presidente Jair Bolsonaro ter afirmado na semana passada, durante visita ao presidente argentino Mauricio Macri, em Buenos Aires, que "estamos prestes a chegar a um acordo entre o Mercosul e a UE". O pacto entre os blocos é negociado há duas décadas.
"Nós nos aproximamos em muitas coisas em abril", explicou Malmström, acrescentando que houve intercâmbios entre as partes em relação à agricultura, mas que "as últimas decisões serão tomadas num momento final".
A comissária afirmou ainda que a UE está "pronta para fazer concessões" e que "espera o mesmo" dos países do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Ela reconheceu que existem "questões complicadas", mas disse que gostaria de "mostrar ao mundo que a UE e parte da América Latina estão dispostas a fazer um acordo de livre-comércio".
"Não estou dizendo que é fácil. É preciso tomar decisões difíceis", afirmou ela, referindo-se a setores como o do açúcar. "Seria uma grande perda se não conseguirmos. Vou dedicar todo o tempo que puder."
As negociações entre a UE e o Mercosul se arrastam há mais de 20 anos. Em 2004, os dois blocos chegaram a trocar propostas, mas a iniciativa fracassou diante da discordância sobre a natureza dos produtos e serviços que seriam incluídos no acordo.
Os sul-americanos queriam mais acesso ao controlado mercado agrícola europeu. Já a UE desejava avançar no setor de serviços e comunicações dos países do Mercosul. Nos últimos três anos, as negociações tiveram um progresso mais significativo, mas ainda esbarram em várias divergências envolvendo a indústria automobilística e a circulação de produtos como carne bovina.
No evento em Bruexelas nesta quinta-feira, Malmström comentou ainda sobre tensões comerciais internacionais. Ela afirmou que não cabe à UE "fazer mediação entre a China e os Estados Unidos" e que "existem fóruns de cooperação".
No momento em que a UE está preocupada com os obstáculos dos EUA para superar o bloqueio do Órgão de Apelação da Organização Mundial do Comércio (OMC), que poderia deixar de funcionar até o final do ano, a comissária afirmou que Bruxelas defende o sistema multilateral.
"Estamos trabalhando em novas regras para nos comprometer com a China e outros países [...]. Estamos trabalhando com Japão, México, Brasil, Argentina, Chile e outros para ver o que pode sair", comentou.
O Órgão de Apelação é a última instância à qual países-membros da OMC podem recorrer após um painel da organização emitir uma determinação sobre disputas sobre tarifas, dumping ou concorrência desleal.
Segundo um porta-voz da Comissão Europeia, a UE procura atualmente uma "solução alternativa provisória" com parceiros internacionais para estabelecer uma outra via de arbitragem caso continue o bloqueio do Órgão de Apelação da OMC.
Sobre a negociação com os EUA referente a um acordo para eliminar tarifas sobre produtos industriais, Malmström disse que as discussões técnicas sobre a cooperação regulatória já começaram.
"EUA e UE realizam comércio a cada segundo, e não ter um acordo é estúpido", concluiu ela, ao mesmo tempo que descartou a perspectiva de conseguir um "grande" acordo com Washington, ao estilo do negociado antes da chegada do atual presidente, Donald Trump, ao poder.
FC/efe/afp/rtr
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