Livro de Schröder chega às lojas
25 de outubro de 2006O lançamento da autobiografia de Schröder estava marcado para o sábado, mas foi antecipado para a quinta-feira (26/10) já que, antes mesmo de chegar às livrarias, o livro estava gerando polêmica e críticas. Em suas 544 páginas, Decisões – Minha Vida na Política traz uma revisão da carreira pública do ex-chanceler alemão Gerhard Schröder e críticas a sua sucessora Angela Merkel.
Em trechos pré-publicados na revista alemã Der Spiegel e no tablóide Bild, jornal de maior circulação no país, Schröder disse que a resistência dos sindicatos ao seu programa de reformas Agenda 2010 ajudaram a arruinar sua campanha pela reeleição em 2005. De acordo com o ex-chanceler, o presidente da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), Michael Sommer, organizou uma trama para "derrubá-lo do poder".
Sommer não demorou a retrucar. "Gerhard Schröder deveria se dar conta do fato de que perdeu as eleições com suas políticas," disse. "É por isso que ele não é mais chanceler."
A União Democrata Cristã (CDU), partido ao qual pertence Merkel, qualificou o livro como "arrogante". Já o porta-voz da grande coalizão, Ulrich Wilhem, considera que "o debate está aberto". Quanto à opinião de Schröder de que "Merkel é uma chefe de Estado fraca", a mesma prefere calar-se pois "seu papel não é opinar sobre seus antecessores", acrescenta Wilhem.
O governador do Estado de Baden-Württemberg, Günter Oettinger (CDU), mostrou-se ressentido: "A crítica é errada e também baixa da parte dele", declarou. "Estamos fartos de seu estilo autoritário e que não produziu resultado algum."
Derrota ainda não digerida?
Outros democratas-cristãos não tardaram em alardear que os ataques de Schröder contra a chanceler, assim como a sindicalistas, são resultado de sua ainda "não digerida frustração pela perda das últimas eleições, cujos resultados o tiraram da chancelaria federal".
Duras réplicas que Kurt Beck, presidente do Partido Social Democrata (SPD), não aceita. Para ele, o livro autobiográfico de Schröder se destaca por sua "objetividade e sobriedade", de forma que "ninguém pode se sentir ofendido". Beck considera infundado o argumento de que as críticas de Schröder "sobrecarregam a coalisão".
Política interna à parte, é provável que, devido à difundida oposição na Alemanha à guerra no Iraque, a passagem mais popular do livro venha a ser aquela em que Schröder critica a religiosidade do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Pode ser que, no futuro, a decisão de Schröder de não apoiar a guerra no Iraque se torne o aspecto mais bem visto de seu legado político.
Imprensa comenta
O livro do ex-chanceler está causando furor também na mídia alemã. Para o diário Kieler Nachrichten, "muito disso é trivial, as reflexões pessoais de um homem envelhecido e com dificuldades em lidar com a perda do poder."
O Westfälischer Anzeiger viu "um homem de poder, que já era completamente vaidoso durante seu tempo na chancelaria federal, derramando algumas lucrativas lágrimas sobre uma pretendida melhor época. O livro pode ser informativo e divertido, mas não há razão para se ter raiva ou condoer-se ao longo da leitura."
O Neue Presse, de Hanover, traçou um paralelo entre a memória fraca de Schröder e sua saída do governo. "Ele está certamente autorizado a acertar algumas velhas contas. Mas, se ele tivesse algo sábio a dizer sobre o futuro da Alemanha, ele ainda estaria no poder." O Neue Osnabrüker Zeitung concorda: " Schröder caiu por causa de suas próprias falhas e pelo que deixou de fazer. Ele desperdiçou anos com políticas pragmáticas, mas sem direção alguma".
Schröder escreveu suas memórias em menos de um ano, tempo recorde para um ex-chanceler. Mas, embora seja consenso que o livro tenha mais enfurecido que esclarecido, Schröder não terá motivos para se aborrecer . Segundo a livraria virtual Amazon.de, seu livro já ocupa o topo da lista da venda antecipada.