Cem anos de John Cage
24 de outubro de 2011Para comemorar o centenário de nascimento do compositor e filósofo americano John Cage em 2012, a Academia das Artes de Berlim dedica um programa pioneiro ao artista. O evento com duração de um ano quer explorar e absorver o legado de Cage, que morreu em 1992.
Sob o nome de One year from Monday – 365 Tage Cage (Um ano a partir de segunda-feira – 365 dias Cage, em tradução livre), o projeto artístico multidisciplinar quer mostrar os efeitos do trabalho de Cage de quando foram realizados até o presente.
Nenhum outro artista questionou e modificou o conceito de arte no século 20 como John Cage. Sua mais famosa composição foi 4'33", onde o pianista tem a única incumbência de não produzir nenhum som. Com a obra, Cage questionou radicalmente o tradicional conceito de arte, numa ruptura sistemática do significado e da estrutura que confronta incondicionalmente o ouvinte consigo próprio.
Influenciado pela filosofia de vida budista, Cage colocava a arte e o artista no centro do questionamento da vida e da ação. Ele não só expandiu a produção artística como também as estruturas de ordem social e cultural.
Em cartaz até o final de novembro, a primeira parte do programa, intitulada Cage Cunningham e Xenakis, descreve o universo de Cage através de dois importantes companheiros e questionadores: o dançarino e coreógrafo Merce Cunningham e o compositor e arquiteto Iannis Xenakis.
Os três podem ser considerados artistas políticos. Obviamente não nos temas, mas na forma de lidar e refletir sobre os meios e incorporar novas e controversas tecnologias para questionar conceitos estabelecidos na vida, na arte e na sociedade.
A complexidade do silêncio
Cage nasceu em Los Angeles em 1912. Ele estudou música e composição com Henry Cowell e Arnold Schönberg. Nos anos 40 mudou-se para Nova York, onde começou a trabalhar como diretor musical da companhia de dança de Cunningham.
Em suas composições, trabalhou as possibilidades de expansão do som, as operações do acaso, assim com as possibilidades das apresentações multimídia. Na área da música, Cage foi a figura-chave da vanguarda no século 20. Seu trabalho, porém, não se restringe apenas à música, incluindo também pintura, teatro, design gráfico, vídeo, cinema, rádio e literatura.
A exposição Uma sala para John Cage faz a intersecção entre o ponto de vista de alguns dos artistas que fazem parte do acervo da Academia das Artes e o trabalho de Cage. A exposição segue a ideia de uma comunidade interativa de produção e pensamento, em que Cage, com a complexidade e variedade de seu trabalho, seria o modelo a ser seguido.
Instalações, pinturas e filmes de artistas como Arnold Dreyblatt, Reinhild Hoffmann, Eberhard Blum fazem parte da mostra, que contextualiza as obras não apenas entre sim, mas também com o espaço em que são exibidas.
Arte além dos limites do corpo
O americano Cunningham é uma das principais figuras da vanguarda na dança americana. O coreógrafo desenvolveu uma linguagem única e abstrata, criando uma autonomia para dança.
Ele começou sua carreira nos anos 20, como solista na companhia de dança de Martha Graham. A partir de 1942, começou a desenvolver sua coreografia junto com a música de Cage. Juntos eles trabalharam com ações aleatórias, deixando para trás convições dramáticas.
Para Cunningham, a própria dança era o tema de sua dança. Seu interesse envolvia também tecnologia e filmes como forma de explorar novas formas para dança.
Aos 88 anos, devastado pela artrite, Cunningham dançou a famosa composição 4'33" de Cage a pedido da artista britânica Tacita Dean. Seus movimentos minimalistas correspondem à “música do silêncio” criada por Cage. Dean documentou essa performance tão única de um dos maiores ícones da dança moderna e a transformou numa grande instalação.
Música em cores e espaço
Filho de gregos, Iannis Xenakis nasceu na Romênia. Ele estudou na escola politécnica de Atenas e devido ao seu ativismo político se exilou na França no final da década de 40. Logo que chegou, ele começou a trabalhar no escritório de um dos pioneiros da arquitetura moderna, Le Corbusier.
Paralelamente se dedicou à sua grande paixão, estudar música e compor. Aconselhado pelo seu professor, Olivier Messiaen, Xenakis se concentrou em sua herança musical grega e em seus conhecimentos de arquitetura e matemática para expandir sua composição. Xenakis é conhecido pelos seus estudos musicais no campo da composição assistidos pelo computador.
Controle e coincidência apresenta pela primeira vez o compositor também como ilustrador. Xenakis sempre colocou suas ideias e composições antes no papel, das mais diferentes formas. Com a interação do seu trabalho com artistas como Richard Fuller e Allan Kaprow, a exposição cria uma ponte e novas referências com o trabalho de Cage, através de temas como o controle do aleatório e coincidências. Podemos ver como sua arquitetura e arte influenciaram sua música e vice-versa, em composições feitas através de gráficos, cores e projetos arquitetônicos.
A year from Monday – 365 Tage Cage está em cartaz na Akademie der Künste em Berlin até o dia 05 de setembro de 2012.
Texto: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler