A onda que agita a torcida
21 de junho de 2005Estádio lotado, platéia animada, torcida dividida. De repente, os fãs do futebol começam a fazer a ola (onda em espanhol). Em um movimento coletivo e sincronizado, eles se levantam em blocos, erguem os braços e sentam novamente, dando a impressão ótica de uma grande onda percorrendo a arquibancada.
Este fenômeno, que recebeu o nome de "ola" por ter se consagrado na Copa do Mundo de 1986 na Cidade do México, acontece sempre de forma espontânea e sem limite de repetição. O público não combina antes "vamos fazer a ola a tantos minutos de jogo", nem recebe qualquer orientação no telão ou de alguma pessoa. O processo ocorre de forma coletiva, com adesão espontânea de todo o público.
Ajuda matemática
Bastam que 25 ou 30 pessoas comecem a levantar em conjunto para que a ola tenha sucesso. Este processo, por incrível que pareça, segue um padrão matemático, segundo constaram os cientistas Illés Farkas e Tamas Vicsek, da Universidade Eötvös, em Budapeste, na Hungria. Ambos particiaparam de uma pesquisa conjunta com o especialista em trânsito alemão Dirk Helbing, cujo resultado foi publicado na revista britânica Nature, em 12/9/2002.
O professor de física Vicsek usou uma fórmula matemática com o intuito de descrever a ola. Para estudar a onda de torcedores, os pesquisadores filmaram 14 olas em estádios de futebol que contavam com um público superior a 50 mil pessoas. A análise permitiu conclusões bem interessantes.
Na maioria das vezes uma ola se move em sentido horário e atinge uma velocidade de 20 assentos por segundo. Isto equivale a 40 quilômetros por hora. Uma única "onda humana" possui em média de 6 a 12 metros de largura, envolvendo 15 assentos. Em outras palavras, 15 pessoas que estão sentadas lado a lado se levantam, erguem os braços e sentam de uma única vez. Quanto maior o número de participantes, tanto maior é a probabilidade de a ola dar certo.
Batimento cardíaco e ondas
Depois de formada, a onda se espalha pela multidão e adquire formato estável, quase linear, sendo bastante bonita e interessante de se ver. E o que leva as pessoas a aderir espontaneamente ao processo?
A conclusão é que elas são estimuladas de forma inconsciente pelo meio em que se encontram. Para definir seu padrão de comportamento, os cientistas usaram como base um programa que registrava os movimentos do músculo cardíaco.
Assim como o coração palpita através de um impulso enviado pelo cérebro, desencadeando um processo que resulta na contração muscular, a ola segue o mesmo ritmo involuntário.
O espetáculo da ola
Vicsek garante que o estudo contribui para a compreensão dos diferentes padrões de comportamento em massa. Neste caso, o objetivo foi avaliar como o gesto de um pequeno grupo de pessoas resulta na adesão de forma organizada e sincronizada de uma multidão.
Para encerrar, vale citar ainda um dado muito importante: a ola geralmente é desencadeada e funciona melhor quando a platéia está entediada. Ou seja, quando não há show de bola em campo, a torcida faz com a ola um show na arquibancada.